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Opinião - Cotas na Universidade

Deborah Rose Galvão Dantas

Professora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde do Departamento de Medicina Interna da UFCG, Especialista em Clínica Médica e Saúde Publica e Administração Hospitalar e Mestre em Desenvolvimento Humano.

Tenho um amigo norte-americano que gosta muito do Brasil e declara-se encantado com uma diferença em relação ao que vivencia nos Estados Unidos. A população naquele país divide-se em raças; caucasianos, latinos, afro-americanos, orientais e mais uma série de classificações sectárias.

No Brasil, pelo que observou, existe uma única raça: a raça brasileira. Esta é a diferença fundamental. Dividir pessoas pela cor da pele, ou outra característica qualquer, seja qual for a intenção pretendida, é preconceito. Minha pele morena é classificada como branca na minha identidade. Na Suécia ou Estados Unidos, seria parda. Aliás, basta chegar de um veraneio em João Pessoa, para mudar a classificação.

Na árvore genealógica da minha família, que chega a meados do século 18, pesquisada pelo meu pai, encontram-se brancos, negros, índios. A maioria absoluta do povo brasileiro é o resultado de uma mistura de raças, o que nos torna raça única e extraordinária. Ora, se nem eu mesma sei classificar-me como branca ou parda ou negra ou índia, a quem vou dar o direito de julgar?

O vestibular pode não ser ainda o ideal, mas é a forma mais justa até agora de seleção para a Universidade. Entra quem estuda mais, seja branco, negro, amarelo ou vermelho. Capacidade não se mede pela cor da pele. Capacidade também não se mede pela quantidade de dinheiro.
 
Conheço ricos que estudaram em escolas privadas por toda a vida, e não conseguiram entrar na Universidade. Conheço pobres que estudaram por toda a vida em escolas públicas, que hoje são professores universitários. Na verdade, em dados atuais, aproximadamente 50% dos estudantes das Universidades Públicas no Brasil, são advindos de escolas públicas. Como médica, tenho colegas brancos, negros, orientais. Tenho colegas, e não são poucos, que enfrentaram grandes sacrifícios econômicos para concluírem o seu curso, por serem de origem pobre.

Reservar vagas, no meu entender, é injusto para com aqueles que não conseguirão entrar na Universidade, mesmo havendo obtido melhores notas. O ponto-chave da questão, que a política de quotas tenta remediar, não é a Universidade Pública, mas o ensino público fundamental e médio, que é obrigação do Estado, ainda maior que as Universidades. Melhore-se o ensino público, que eu, como tantas outras mães e pais, que com parcos salários sustentam os filhos nas caríssimas escolas privadas, agradecida e aliviada, matricularei os meus filhos imediatamente, na escola pública mais próxima à minha casa.

Este espaço semanal é aberto para a exposição de idéias sobre temas universitários ou não. A opinião emitida nos textos é de total responsabilidades de seus autores.


Data: 21/02/2006