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Borra de Café: uma história incomum numa Paraíba pouco conhecida

Nova produção cinematográfica, que conta com o apoio da UFCG, retrata o Brejo paraibano do início do século XX

 

Em meio à mata espessa, cerca de 60 pessoas avançam lentamente. Atravessam morros e cachoeiras carregando mantimentos, material para acampar e muitos, muitos equipamentos. Parece uma operação de guerra, e é quase isso. O objetivo: um antigo casarão localizado na zona rural de Matinhas, no Brejo paraibano. É lá que será montado o set para as filmagens de Borra de Café, curta-metragem do diretor campinense Aluizio Guimarães.

 

Mais conhecido por suas produções teatrais (quem não se lembra de Água Areia e as Maçãs e Inferno?), o diretor, que também assina o roteiro, explica que o título faz referência à produção cafeeira do Brejo da Paraíba. “Pouca gente sabe, mas lá se produziu, no início do século XX, o segundo melhor café do país, perdendo apenas para São Paulo”, garante. É neste período histórico que a trama, dividida em duas fases, é ambientada. Na primeira, um caso amoroso que abala a sociedade de Bananeiras. Na segunda, uma relação familiar controversa, que promete causar polêmica.

 

“Não são histórias reais, mas bem que poderiam ser”, observa Aluizio, confessando que muito do que escreveu foi baseado em “causos” e estórias contadas por pessoas da região. Aliás, uma das características da produção é justamente a de retratar o cotidiano dos habitantes do Brejo. “É uma região pouco valorizada por sua beleza e história. No filme, tento mostrar que a Paraíba não é apenas solo rachado, sol escaldante e mandacaru”, revela.

 

Realmente, nas cenas já gravadas, o verde da mata brejeira e os rios caudalosos formam um cenário deslumbrante, por onde circulam os personagens Pedro da Mula (Napoleão Gutemberg) e Zé Tropeiro (João de Milton) com suas tropas de burros. São eles que “costuram” a trama, centrada inicialmente na paixão de Antônio (Francisco Oliveira) por sua prima Maria (Suelaine Lima), e depois no crescimento de sua filha Ana Beatriz (interpretada pelas atrizes mirins Iara Porto, com 4 meses, Sophia Vieira, com 1 ano, Júlia Dantas, com 4 anos, Íris Porto, com 8 anos, e pela atriz Rayanne Araújo, quando a personagem está com 15 anos).

 

“As relações familiares na zona rural sempre foram muito pouco estudadas. O isolamento, a extrema religiosidade e os apelos da natureza muitas vezes causavam graves conflitos, com consequências inesperadas”, adianta o diretor, que, confessa, não imaginava as dificuldades que iria enfrentar para realizar o filme. “Felizmente, vários amigos apostaram na audácia da nossa proposta”.

 

O projeto é praticamente uma ação cooperada. Quase toda a equipe técnica é formada por ex-alunos do curso de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), instituição parceira da produção. “São pessoas altamente capacitadas, experientes, muitas das quais são profissionais premiados, que aceitaram o desafio de fazer parte do filme abrindo mão de seus cachês”, reconhece Aluizio.

 

Borra de Café está previsto para estrear em novembro, com lançamentos na Festa da Laranja, em Matinhas, e também em Campina Grande, João Pessoa, Olinda e Caruaru. Depois, participa de inúmeros festivais de cinema no Brasil e no exterior (para tanto, será legendado em inglês, espanhol e francês). É esperar pra ver.

 

(Kennyo Alex – Ascom/UFCG)


Data: 16/10/2009