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Olimpíada de Matemática melhora nota de escola em prova nacional

Pela primeira vez, impacto da competição é medido em avaliações; quanto mais o colégio, participa melhor o desempenho


Escolas públicas cujos alunos participaram de olimpíadas de matemática melhoraram suas notas em avaliações nacionais. Pela primeira vez, resultados de iniciativas desse tipo foram analisados no país. Quanto mais vezes a escola participa das olimpíadas maior é o aumento na nota. Segundo especialistas, elas estimulam uma competição saudável, melhoram o ambiente escolar e ajudam a desmistificar a matemática, considerada difícil por grande parte dos alunos.

As olimpíadas escolares existem no mundo desde o fim do século 19. São competições em que os estudantes ganham medalhas de ouro, prata e bronze por seu desempenho em provas de uma determinada disciplina.

Quase 20 milhões de alunos de 11 a 17 anos participam neste ano da Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP), realizada pelo Ministério da Educação. O número de participantes dobrou desde sua criação, em 2005. As provas têm questões que não cobram fórmulas ou puro conteúdo. Elas falam de situações cotidianas, como horários de encontros ou jogos de baralho.

Análise

O desempenho de escolas que tiveram alunos na competição entre 2005 e 2008 foi avaliado por pesquisadores da Fundação Itaú Social. As escolas que participaram tiveram, em média, 2,14 pontos a mais na nota da Prova Brasil, exame do MEC que avalia português e matemática. Isso representaria um acréscimo de 0,1 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) - indicador que vai de 0 a 10 e leva em conta as notas dos alunos em português e matemática, além das taxas de aprovação.

Segundo um dos responsáveis pelo estudo, Naércio Menezes Filho, o resultado é considerado significativo porque o Ideb tem crescido entre 0,1 e 0,4 a cada intervalo de dois anos. O índice atual (Ideb 2007) de escolas públicas de 5ª a 8ª série é de 3,5.

Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, a olimpíada foi uma das responsáveis pelo aumento do Ideb no país. Na divulgação do ano passado, as escolas brasileiras ultrapassaram em todos os níveis as metas que tinham sido estipuladas pelo governo, principalmente por causa do desempenho em matemática.

"Todos ficamos nos perguntando qual seria a razão", disse o ministro ao Estado. "A escola tem uma força interna própria, mas responde a estímulos externos", completou, ao comentar o estudo.

O desempenho dos alunos brasileiros em matemática tem melhorado, mas ainda é um dos piores do mundo. Na avaliação internacional Pisa, a nota subiu e o país conseguiu deixar a última colocação no ranking entre 2003 e 2006. Na Prova Brasil, a nota de matemática cresceu mais do que a de português. Alunos de São Paulo também melhoraram o desempenho na disciplina em exames estaduais.

Ganhos

Até hoje, imaginava-se que as olimpíadas traziam vantagens apenas para o aluno pelo estímulo causado pela premiação individual. "Os professores se envolvem para preparar o aluno, os pais acompanham. Já vi famílias inteiras levando o filho para fazer a prova. Isso melhora o clima da escola e a aprendizagem geral", diz o professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP Sergio Oliva.

"Muita gente que não estudava começou a estudar", conta Renan Augusto Arboleda, de 12 anos, primeiro colocado no Brasil na competição. Renan, que mora em São Caetano do Sul, recebeu sua medalha de ouro do presidente Lula em um evento no Rio. "Todo mundo quer participar para viajar", brinca. Como todos os 3 mil medalhistas do ano, ele ganhou uma bolsa de iniciação científica.

Além da competição criada em 2005 para as escolas públicas, há no país, desde 1979,  a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), em que o destaque são os alunos de escolas particulares. A primeira olimpíada de matemática surgiu na Hungria, em 1894, e o modelo se proliferou no Leste Europeu. Atualmente há competições de física, astronomia e química.

Um dos objetivos da OBM é selecionar alunos para eventos mundiais. Hoje, cerca de cem países participam da Olimpíada Internacional de Matemática. O Brasil costuma ficar entre os 20 primeiros colocados.

"Os alunos de escolas públicas acabavam sendo excluídos dessas olimpíadas", diz o diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), César Camacho, ao justificar a criação da OBMEP. O Impa e a Sociedade Brasileira de Matemática são parceiros do MEC na competição. Em 2008, foi criada também a olimpíada de português para escolas públicas.

Escola conquistou 23 medalhas

Até o dia 24 de outubro, o clima na Segunda Escola Municipal de Ensino Fundamental (Semef), em São Caetano do Sul, no ABC, será de expectativa para a segunda fase da olimpíada de matemática. Os 34 alunos que passaram para a próxima etapa se preparam com a ajuda do grupo de estudos de matemática do colégio, coordenado pela professora Renata Hioni.

"Eles ficam ansiosos. Sabem que podem se destacar porque têm essa gana intelectual", explica. Neste ano, quem está monitorando as aulas preparatórias são dois estudantes: o bicampeão brasileiro (2007 e 2008) Renan Arboleda, de 12 anos, e Victor Caled, de 14.

Além do conteúdo, a autoestima dos alunos também melhora com a participação na olimpíada. "Nem eu apostava em mim", afirma André Navarro, de 13 anos. Bronze em 2007, ele ganhou um curso de iniciação científica na Universidade Metodista de São Paulo e uma bolsa de R$ 100.

A Semef participa da olimpíada desde 2005 e já conquistou 23 medalhas e 55 menções honrosas. Só em 2008 foram 32 medalhas e menções. Para Anderson Secco, de 35 anos, professor e fundador do grupo de estudos, o gosto pela matemática virou costume na escola, que usa o banco de questões oficiais do evento na preparação. "Os alunos são incentivados a participar, já é tradição", afirma Secco.

Desde 2006,  a escola inscreve todos os alunos na olimpíada. Com um bom desempenho na prova, os estudantes pensam no futuro. "Participar é bom para o meu currículo", aposta Pedro Raghi, de 12 anos, que está na segunda fase. "Vou ter mais chances na vida profissional."

(O Estado de SP, 29/9)


Data: 29/09/2009