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Aumenta número de brasileiros que vão estudar no exterior

Levantamento da OCDE aponta que, entre os anos de 2002 e de 2006, houve salto de 16 mil para aproximadamente 21,3 mil

Uma quantidade cada vez maior de estudantes brasileiros tem procurado universidades estrangeiras, principalmente as europeias, para cursos de graduação. É o que mostram dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de embaixadas e de três grandes instituições de ensino do país.

O número de brasileiros estudando em países da organização cresceu 30% de 2002  a 2006, último ano com dados disponíveis, passando de cerca de 16 mil para aproximadamente 21,3 mil. Não é possível, no entanto, dizer se o aluno foi fazer toda a sua graduação fora ou só uma parte dela.

Os Estados Unidos continuam a ser o país com maior número de universitários brasileiros, seguidos por França, Espanha, Alemanha e Portugal, segundo os dados da OCDE. Uma comparação entre 2002 e 2006, porém, mostra queda no número de brasileiros nos EUA e um movimento maior nos países europeus.

Dados fornecidos pela embaixada americana (de graduação e pós-graduação) indicam que a procura por universidades nos EUA já foi maior. O pico de interesse foi em 2000/2001, quando cerca de 9.000 brasileiros estudavam no país. No ano passado, esse número ficou em cerca de 7.500 estudantes.

"O fluxo continua alto porque a taxa cambial tem ajudado e a diferença de preço entre universidades particulares no Brasil e nos EUA não é grande", avalia Andreza Martins, chefe do escritório de consultas educacionais da Comissão Fulbright, que atua no intercâmbio educacional entre EUA e Brasil.

Ela afirma que foi sedimentado no Brasil, há alguns anos, o entendimento de que estudar em outro país agrega valor ao currículo. O motivo do aumento de estudantes brasileiros em países europeus, avalia, é que as agências que promovem educação no continente têm uma presença maior hoje. "O marketing está mais forte", resume.

A tendência é confirmada por Daniela Madureira, do British Council. "As universidades britânicas estão trabalhando mais com o Brasil", diz. De 2002 a 2008, houve aumento de 30% no número de brasileiros em instituições britânicas.

A França, muito procurada por futuros engenheiros, adota a mesma estratégia. Em outubro, haverá a Semana Franco-brasileira do Ensino Superior, em São  Paulo. O evento reunirá mais de cem universidades francesas e brasileiras.

Intercâmbio

Dados sobre intercâmbios de USP, UFMG e UnB mostram um crescimento ainda mais intenso da mobilidade de estudantes nessas instituições.

A USP, por exemplo, mandou 349 estudantes para fora em 2004 e 979 em 2008. Na UFMG e na UnB, o número de estudantes que fez intercâmbio dobrou em cinco anos.

Professor da UnB e especialista em educação superior, Erasto Fortes avalia que vale mais a pena para os estudantes de qualquer área a experiência do intercâmbio, quando o aluno passa apenas parte da graduação fora do país.

"Eles têm contato com a cultura de outro país, em um ambiente acadêmico bem diferente, mas têm a base da formação brasileira", avalia o professor.

Para Fortes, estudar fora, em si, não é vantagem -depende da área. Cursos com temática ligada à realidade nacional precisam ser feitos no Brasil, a não ser que o aluno tenha planos de trabalhar lá fora. "Não faz sentido, por exemplo, cursar medicina em universidade estrangeira", exemplificou.

Alunos querem universidades reconhecidas

Estudantes brasileiros procuram cursos em universidades estrangeiras de maior expertise. Foi o caso da estilista e DJ Clarice Garcia, 29, que preferiu embarcar para a Itália quando decidiu seguir carreira na área da moda.

Ela estudou design de moda por dois anos na Politécnica de Milão e fez pós-graduação no Instituto Europeu de Design (Istituto Europeo di Design). "Fui porque é uma das melhores escolas do mundo. Além disso, viver em Milão ajudou muito, a cidade respira moda."

Clarice conta que, quando voltou para o Brasil, já estava contratada para dar aulas de moda em uma universidade em Brasília. Ano passado, ela ganhou o concurso de novos talentos do Capital Fashion Week, a semana de moda de Brasília. "Não tive problemas, só tive mais portas abertas indo para lá."

Dificuldade da língua

Para Lucas Richa, 23, a única dificuldade que enfrentou ao ir cursar engenharia de produção na França foi a língua. "Como quase não falava francês, no início complicou um pouco, mas logo me adaptei", afirmou o ex-aluno da Escola de Minas (Ecole des Mines), que fica na cidade de Nancy.

Segundo ele, a experiência na França rendeu contatos com empresas daquele país que abriram filiais no Brasil. "Lá, é obrigatório estágio e o curso é bem voltado para a área da indústria."

(Folha de SP, 13/9)


Data: 14/09/2009