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Número de cursos de pedagogia sobe 85%

Em cinco anos, oferta aumentou acima da média de outras áreas; avaliação do MEC mostrou que qualidade é ruim

Além de um aumento no número de cursos ruins revelado pelas recentes avaliações do Ministério da Educação (MEC), a área de Pedagogia se destaca por outro fenômeno: a proliferação. Entre 2002 e 2007, a oferta de cursos subiu 85% - um porcentual acima da média geral (63%). O crescimento também ficou muito acima do registrado no mesmo período por cursos que tem custos maiores, como Medicina (47%).

Em cinco anos, os cursos de Pedagogia no Brasil passaram de 1.237 para 2.295. No mesmo intervalo, a quantidade total de cursos no país saltou de 14.399 para 23.488.

Mas a proliferação na área de Pedagogia está longe de ser uma boa notícia. "Pedagogia é um curso barato, fácil de ser montado. Daí o crescimento registrado nos últimos anos", avalia Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Os dados do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) divulgados nesta semana revelam o crescimento de cursos de Pedagogia ruins na comparação com a avaliação anterior, de 2005. Há quatro anos, 172 cursos receberam as notas mais baixas (conceitos 1 e 2) - o correspondente a 28,8% do total. Dessa vez, 292 tiveram a mesma avaliação (30,1%).

Com 71 mil alunos matriculados, os cursos ruins formam 1 a cada 4 futuros professores. A má formação dos docentes é apontada por especialistas como uma das causas da baixa qualidade do ensino, principalmente público, no país.

"É um número alto, mas que não surpreende. Esse é o resultado de um processo que vem de anos", diz Bizzo. O curso de Pedagogia forma professores, coordenadores e diretores para as escolas brasileiras e possui atualmente 284 mil alunos - trata-se da terceira maior graduação com o maior número de estudantes do país.

Entre as instituições que tiveram nota 1 (a mais baixa) estão a Universidade Estadual do Piauí, o Instituto Superior de Educação Programus, também no Piauí, a Faculdade de Imperatriz, no Maranhão, e a Universidade Federal do Pará.

Outros cursos

A área de Pedagogia não foi a única que proliferou pelo país. Direito e Administração, por exemplo, passaram por fenômeno semelhante. "Algo bem diferente de áreas que demandam laboratórios e infraestrutura mais requintada", explica Bizzo. O professor atribui a escalada desses cursos à facilidade que surgiu, no fim da década de 90, para a ampliação de vagas do ensino superior.

E o que poderia ser um maior acesso da população à educação de qualidade se transformou em uma porta de entrada para cursos ruins. "A oferta atraiu investidores para cursos que demandavam menos recursos ou procura garantida", avaliar o professor.

Essa análise dá pistas para as razões da redução do número de cursos como Física, que passaram de 128, em 2002, para 124, no último Enade. Segundo Bizzo, a queda ou a estagnação do número é encontrada em todos os cursos que necessitam de investimentos mais altos.

Além da explosão na oferta de cursos, Pedagogia também apresentou crescimento do número de vagas, que saltaram de 154.746 para 186.956 em cinco anos - um crescimento de 20%. O aumento ocorreu de forma pulverizada: foram criadas muitas escolas, mas a maior parte de pequeno porte.

Para reduzir os cursos de baixa qualidade, o MEC tem adotado um conjunto de medidas, como a proibição da abertura de novas vagas pelas instituições mal avaliadas. Na área da Saúde, por exemplo, a Secretaria de Educação Superior (Sesu) determinou nesta semana o corte de mais de 2,6 mil vagas.

A normatização criada pelo MEC nos quatro anos é apontada por Bizzo como uma das medidas mais valiosas na corrida contra os cursos ruins.

"Até então, a divulgação do fechamento de cursos era feita com alarde, mas, rapidamente, a decisão era derrubada na Justiça. Algo diferente do que ocorre atualmente", completou o professor.

 

(O Estado de SP, 5/9)


Data: 08/09/2009