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Artigo - A águia, a galinha e a Universidade Federal no Sertão

Joaquim Cavalcante de Alencar

 

Diz a fábula que um ovo de águia foi chocado, por engano, junto com ovos de galinha. Nascidos os pintinhos, todos passaram a ser criados como se fossem galinhas. Assim acreditando, a águia passou a viver, pensar e agir como galinha. Um dia a águia descobriu o engano, reconheceu-se águia e a partir de então, passou a pensar, viver e agir como a águia que era... e alçou vôo para a liberdade!

 

Disseram que nós do interior (professores, alunos e funcionários) somos "nativos inferiores" e que não temos capacidade, competência e habilidade para construirmos uma Universidade, que seria mais cômodo, melhor e mais garantido deixar que os outros pensassem por nós, decidissem por nós, nos tutelassem e protegessem; garantiram que o que é bom para nós quem sabe mesmo é o povo das cidades grandes...

 

Tal qual a águia tratada como galinha, corremos o risco de pensar que somos incapazes de zelar pelo nosso destino, então, abdicaremos de ser livres, preferindo a tutela.

 

Quem pode duvidar da capacidade dos nossos professores? Ter o direito de pensar que os nossos alunos não são competentes, inteligentes e esforçados? Desconfiar das habilidades, do zelo e dedicação dos nossos funcionários? O que os outros fazem que não possamos fazer e o que sabem que não saibamos ou que não possamos aprender?

 

Quem não sabe dos inúmeros benefícios que a nova instituição traria para nossa região, com novos campi a serem criados, novos centros e cursos, novas vagas para docentes, funcionários, discentes, novos projetos, perspectivas e oportunidades? Lembremos o quanto a UFCG já progrediu, em seus poucos anos de caminhada independente!

 

Os dados revelam que Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras, juntas, possuem todos os requisitos exigidos por lei para a criação de uma Universidade Pública Federal.  Não falta um requisito sequer. O que pode estar faltando para que o Sertão tenha a sua universidade, se os números dizem que já temos mais do que o mínimo necessário para começar, podendo, até, incluir Itaporanga e São João do Rio do Peixe?

 

Talvez só nos falte tomarmos consciência, como a águia da fábula, daquilo que realmente somos: uma comunidade universitária responsável e séria, competente e capaz de planejar o seu futuro, dirigir o seu destino, enfim, ser livre. “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela”, disse Bernard Shaw. Não é o nosso caso, é?

 

Prefiro crer como Paulo Freire: “(...) Se alguém não é capaz de sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais.”

 

A criação da Universidade Federal no Sertão (qualquer que seja o nome que se queira lhe dar) está ao alcance das nossas mãos, mas, é preciso ter fé, querer, unir esforços, organizar as ações e pleitear... alçando vôo para a liberdade!

 

 

Sousa, 22 de agosto de 2009.

 

Joaquim Cavalcante de Alencar é professor e atual Diretor do CCJS/UFCG.


Data: 25/08/2009