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Artigo - Do quadro-negro a uma tela com 265 mil cores

Marinilson Braga

 

Das pinturas rupestres, passando pela escrita cuneiforme e os hieróglifos, até chegarmos às representações gráficas do nosso tempo, muito se transformou na escrita. O mesmo aconteceu com a plataforma que gerou e girou a comunicação de cada época. Da parede das cavernas, deslizando pela argila e marcando o papiro, nossos dedos chegaram aos teclados. Essa evolução contínua dos signos e símbolos, na forma de tocar as experiências e interagir com o meio, o mundo e o próprio centro, refletiu-se também – e, continuamente, vem refletindo – no meio educativo.

 

As salas de aula não são estáticas. Elas não podem ficar paradas no tempo das “cavernas”, com seus quadros-negros sem revelar os milhões de pixels e binários que nos traduzem por aí. Elas devem ser espelhos que reflitam a cara deste tempo e revelem o corpo que a nossa linguagem vem tomando. Só assim, compreendendo as particularidades (recursos que vão além do som e da imagem, a exemplo, da interatividade) dos novos meios de comunicação, poderão delinear e compreender os dialetos das comunidades virtuais (as novas tribos) desenvolvendo uma moderna pedagogia do ler e escrever.

 

Não só as mudanças na escrita - o concreto da fala, do pensamento e, até, das expressões faciais - que as novas tecnologias (computador e a sua rede mundial) promovem têm repercussão expressiva no meio educativo.  A evolução de uma cultura que busca um aprendizado mais dinâmico, baseado na arquitetura (disposição do texto) e no tráfego (links para outros textos) das informações, começa a provocar nos pedagogos a busca por políticas que privilegiem o hipertexto e a interatividade entre docentes, discentes e mídias.

 

O desafio é fazer com que seja prevalecida, e preservada, a estrutura de nossa língua. Controlar a banalização das regras gramaticais e os excessos nas substituições das palavras - sua morfologia e sintaxe - por expressões cibernéticas aportuguesadas é fundamental. Mesmo sabendo que a língua é viva e se move na direção das massas, e que um novo vocabulário automaticamente é incorporado - como reação natural de um idioma rico e aberto às novas extensões e figuras de linguagem – isso deve ser cuidado.

 

A computação e a internet, em especial, com sua linguagem híbrida, diversa e repleta de emoticons (figuras que representam emoções ou ações) vêm moldando a escrita, conduzindo-a por pautas de textos breves e complementares - onde o que é expresso por letras pode ser (é) mostrado em audiovisuais - permitindo mobilidades na sua recepção e percepção. Essa mudança na estrutura linguística do escrever, ancorada em elementos visuais e que promove a interatividade no ler, passa a frequentar expressivamente a sala de aula. Incubada nos cadernos, já contaminando alguns escritos, em atividades que a permitem propagar-se, fazem-nos “psar q vão eKlodir a qq mmto”.

 

Esse processo contínuo de renovação da linguagem, da fala do povo, sempre encontrou o seu prumo na escola. Talvez, agora, pela velocidade que se multiplica e pela extensão do seu foco (máquina e internet) essa cultura cibernética amplifique o sinal de alerta na academia e provoque um reboliço na pedagogia. Antes de tudo, é preciso entender que a evolução é inata e que suas alterações são expandidas e absorvidas naturalmente, numa lógica binária. Portanto, neste instante, pensar o que significa é imperativo e, subjetivo, é determinar o significado.

 

No entanto, imediato se faz direcionar os professores e fazer com que os alunos dimensionem a importância da raiz de nossa língua, primando pelo radical (paradoxal) e não esquecendo a desinência modo-temporal (coerência) que traduzem cada época. Agora é compreender que vivemos um novo tempo, onde a reformatação (avanço) do aprender deve se voltar ainda mais ao pensar, à busca.

 

O bê-á-bá está na configuração de módulos de alfabetização, que transmitidos numa tela de LCD, na sala de aula, elevem o soletrar estimulados por bips ou ícones fonológicos, como joguinhos eletrônicos, num campeonato de alfabetização multidisciplinar, e, quem sabe, com pontuação acumulável (recordes registrados?), preparando as crianças para o mundo. Um mundo cada vez mais amplo e urgente em conhecimentos.

 

Marinilson Braga é jornalista da Universidade Federal de Campina Grande.


Data: 31/07/2009