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Curso pouco concorrido adere mais ao "Enem-vestibular"

Sistema unificado seleciona apenas para 23% das vagas de universidades federais. Cursos mais disputados optaram por usar o Enem para substituir a 1ª fase -como medicina na Unifesp- ou como parte da nota

A substituição dos vestibulares pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), proposta em março pelo Ministério da Educação, abrangerá cursos pouco concorridos e menos de um quarto das vagas das universidades federais do país.

Os dados foram tabulados pela Folha, que contatou as 55 instituições federais do país. Na prática, os candidatos poderão disputar, prestando só o Enem, 42,7 mil das 183 mil vagas previstas para 2010.

A possibilidade de disputar diversos cursos sem precisar se inscrever em vários vestibulares é uma das grandes vantagens da mudança, diz o MEC.

O levantamento mostra ainda que 81% dos cursos no sistema tiveram no último exame relação candidato/vaga inferior à média das federais (8,8).

Cada instituição tem autonomia para aderir. Muitos reitores dizem não ter aceitado porque a mudança seria abrupta e ainda há dúvidas sobre o sistema. A proposta foi lançada em março; a prova é em outubro, e as inscrições terminam sexta.

"Este primeiro ano é encarado como um teste. No próximo, pode ser que a adesão aumente ou que haja até a retirada do sistema. Dependerá do sucesso da prova", disse o presidente da Andifes (que reúne os reitores das federais), Alan Barbiero.

"Para o primeiro ano, a adesão está boa", afirmou o presidente do Inep (órgão do MEC responsável pelo exame), Reynaldo Fernandes. "É natural que universidades com grande estrutura de vestibular tenham receio. Se a prova selecionar bem, a adesão aumentará."

Fernandes vê como positiva a adesão maciça de cursos pouco procurados. Com o sistema unificado, sustenta, a concorrência poderá subir e melhorar a seleção nesses cursos.

Para o coordenador da pós-graduação em educação da USP, Romualdo Portela, "o problema é que tentaram implementar a proposta muito rapidamente". "Em geral, aderiram as instituições mais novas, que são mais frágeis [politicamente] e dependentes do ministério."

A apreensão na rede pode ser exemplificada pela Unifesp (federal de SP). Para cursos mais recentes, como ciências sociais, o Enem será a única forma de seleção. Já para carreiras tradicionais, como medicina, haverá segunda fase. A instituição diz que nesses casos é preciso uma avaliação mais "abrangente".

O uso do Enem como única forma de seleção vem sendo tratado pelo governo Lula como um passo para o fim dos vestibulares, vistos como um problema para o ensino médio -ao cobrarem assuntos muito específicos, impedem que os alunos sejam capazes de integrar os conhecimentos.

O Enem cobra menos conteúdo das matérias e mais raciocínio. Mas, para virar um processo seletivo, teve de ser modificado. O número de questões subiu de 63 para 180.

"É preciso avaliar o impacto na seleção dos candidatos e no ensino médio. Nada ainda está claro, é preciso prudência", disse o coordenador do grupo de ensino superior da Anped (associação dos pesquisadores em educação), João Ferreira.

Mesmo se o curso desejado não estiver no sistema unificado do Enem, em geral, o aluno deve prestar o exame. Isso porque tanto universidades públicas como particulares podem usá-lo em seu vestibular. O exame é usado ainda na seleção do ProUni (programa de governo federal que dá bolsas em faculdades particulares).


(Folha de SP, 13/7)


Data: 13/07/2009