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Estudantes passam menos de 3 horas na escola

Melhora o índice de matriculados, mas ministro e especialistas defendem carga horária maior

 

O primeiro desafio do Brasil na educação já foi vencido: apenas 2,5% das crianças de 7 a 14 anos estão fora da escola. Isso, no entanto, não quer dizer que a situação tenha de fato melhorado, pois a cifra é enganosa. Na verdade, o déficit escolar é de 17,7%. Isso porque o número de estudantes matriculados é bem superior ao de alunos presentes.

 

Esse índice acaba de ser constatado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ao levar em conta as faltas às aulas e a duração da jornada escolar diária. O estudo, intitulado “Tempo de permanência na escola”, divulgado ontem, mostrou que, até os 17 anos de idade cada brasileiro passa, em média, pouco menos de três horas diárias em sala de aula, quando a jornada mínima, pela legislação brasileira, é de quatro horas.

 

— E esse período de quatro horas já é muito pouco. Temos que mudar esse sistema urgentemente, para o país realmente dar a volta por cima. Até na África do Sul a jornada mínima é de seis horas. A educação, afinal, é a mãe de todas as políticas sociais — disse Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV, responsável pelo estudo.

 

Uma hora a mais resulta em rendimento 25% melhor

 

Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos pela Educação, um dos patrocinadores do projeto, emendou:

 

— Os índices recolhidos mostram que o acesso à escola significa mais do que a simples matrícula. É preciso haver uma carga horária maior, além de melhorar a qualidade do ensino.

 

O ministro da Educação, Fernando Haddad, presente à divulgação do trabalho, concordou com a avaliação.

 

— A nossa educação melhorou, mas ainda está num nível distante da qualidade adequada às nossas aspirações nacionais — disse ele, acrescentando que é favorável a propiciar às escolas a oportunidade de extensão da jornada.

 

— O modelo adequado não é necessariamente o de sete horas dentro da sala de aula. Pode-se manter de quatro a cinco horas com outras atividades recreativas, esportivas, culturais. Ou seja, ampliar o conceito de educação, e não restringindo-o ao conceito de ensino — disse Haddad.

 

Segundo a FGV, experiência realizada em São Paulo com alunos da 4ª série constatou um aumento de 25% nas notas dos alunos em exames de proficiência mudando o período escolar de quatro para cinco horas diárias.

 

“O aumento da jornada seria uma das principais variáveis de política disponíveis para impulsionar a performance dos alunos, em particular numa época em que o número de crianças e adolescentes vem caindo. Isto é: é possível aproveitar a menor quantidade de crianças e proporcionar uma maior qualidade na educação de cada criança”, diz um trecho do estudo.

 

Neri, da FGV, defende também a atualização do programa Bolsa Família, que, segundo ele, funciona bem como transferência de renda mas, como política educacional, “está batendo com a cabeça no teto”.

 

— É o momento de promover melhorias no programa. Seria ideal ter agora uma Bolsa Pré-Escola, para crianças até 6 anos; um Bolsa Qualidade para as de 7 a 14; e um Bolsa Poupança Escola, premiando com dinheiro as da faixa de 14 a 17 anos que terminem seus cursos com alto grau de proficiência — sugeriu Neri.

 

(O Globo, 28/4)


Data: 28/04/2009