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Afinidade não é suficiente para definir grupo de TCC

Comprometimento e interesses comuns contam mais que amizade

 

A tarefa de definir um grupo de trabalho para a realização do TCC (trabalho de conclusão de curso) passa por decisões controversas e exige do estudante uma análise de possibilidades que extrapola a amizade. Afinal, o desenvolvimento do TCC demanda muito mais do que afinidade entre os integrantes do grupo. Envolve também a capacidade de organização, entrosamento e tolerância entre os integrantes. Uma relação que se não for bem administrada pode causar sérios danos ao trabalho e colocar em risco a formação do aluno.

 

Marilena Zanon, professora e coordenadora do curso de secretariado da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), afirma ser necessária a consciência de que, em algum momento durante o ano, o grupo passará por atritos internos. "Esse problema é praticamente inevitável. Conviver com o ser humano, lidar com gente é uma arte. Não é fácil", diz ela.   

 

A tendência, segundo ela, é que a formação dos grupos obedeça à organização social da própria sala. "No ambiente acadêmico, numa graduação, em vez de a classe se unir, as panelinhas vão se formando, o que é uma pena", lamenta ela. Marilena remete à necessidade de conciliar produtividade da equipe à amizade. Nem sempre as pessoas mais próximas são as mais indicadas para realização de um trabalho do porte do TCC. É o que afirma Layse Pereira Soares do Nascimento, chefe do departamento do curso de comunicação social da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná). "A escolha do grupo tem que se dar por afinidade de desenvolvimento de trabalho, não por amizade", declara ela.

 

Para Layse, como o TCC é uma etapa da formação que exige muita dedicação, o aluno deve alterar a forma como enxerga os colegas e procurar identificar a postura profissional deles. "O aluno tem de perceber quem são aqueles que trabalham para contar com pessoas que tenham perfil semelhante ao dele. Por isso, não é só a amizade que conta, mas também a afinidade profissional", explica ela.

 

Segundo a chefe do departamento do curso de comunicação social da Unicentro, a percepção sobre os demais integrantes do grupo é moldada com base na experiência de outros trabalhos realizados por toda a graduação. "Ao longo dos anos você percebe que há pessoas com as quais se tem afinidades e pessoas com as quais os trabalhos rendem. Alguns conseguem conciliar amizade e produtividade e aí o resultado é ainda melhor", afirma Layse.

 

No entanto, ela alerta aos riscos que traz a convivência prolongada e intensificada. "Lógico que também não adianta entrar num grupo que não desperta empatia alguma porque isso vai gerar disputas", pondera Layse. A opinião de Marilena é semelhante. Ela considera que o primeiro ponto para que um processo de pesquisa dê certo é que as pessoas sejam pelo menos colegas e se aceitem mutuamente.

 

Nos casos em que o grupo já foi escolhido e um dos integrantes não se dedica de forma satisfatória ao desenvolvimento do trabalho, a recomendação de Layse é recorrer ao orientador imediatamente. "O colega que não produz, não participa, demonstra isso já nas primeiras oportunidades. Ele não cumpre as tarefas divididas, não lê o que é proposto e nunca pode comparecer às orientações", afirma ela. Por isso, a chefe do departamento do curso de comunicação social da Unicentro alerta para que o problema não seja arrastado por um semestre. "Esses problemas têm de ser apresentados periodicamente ao orientador. Ele tem total autonomia para orientar e sugerir o que deve ser feito, mas em geral espera-se que o grupo resolva", conta.

 

Marilena aponta algumas características que costumam ser observadas em grupos de trabalho bem sucedidos. "Para ter um grupo coeso, as pessoas precisam ter algumas qualidades, como saber ouvir, argumentar, dialogar e respeitar a opinião dos outros", enumera ela. Embora não seja avaliada, a afinidade é percebida pela banca, conforme afirma Layse. "Quando há entrosamento, a apresentação se dá de maneira mais tranqüila e o grupo consegue defender mais facilmente as posições apresentadas. Quando não, a resposta não vem com segurança nem clareza ou às vezes nem vem", revela.

 

Linha de pesquisa

 

No entanto, antes de começar a pensar nas pessoas com as quais você gostaria de trabalhar, é essencial conhecer bem as características do curso, o objetivo do trabalho e as expectativas dos avaliadores sobre ele. A dica é de Marilena, que afirma que todas as monografias têm de estar atreladas a uma linha de pesquisa. De acordo com ela, o tema é fundamental e tem que ser em comum a todos os integrantes.

 

O alerta remete ao risco de se perder o foco do trabalho durante o percurso até a apresentação do TCC. "Não adianta atirar para todos os lados, querer dar conta do mundo. Precisa recortar bem o assunto", afirma Marilena. "Além do objetivo geral, todos têm que conhecer bem os objetivos específicos do trabalho de conclusão. Esses dados têm de estar claros para todo o grupo", destaca ela.

 

Quando os interesses dos integrantes pelo trabalho são comuns, a divisão de tarefas e a própria apresentação são beneficiadas, conforme explica Layse. Para ela, a afinidade contribui com a coesão do trabalho, pois, por ser extenso, exige que cada um se responsabilize pela pesquisa e produção de uma parte. "Tem de haver afinidade para dividir essas tarefas", acrescenta Marilena.

 

 Como escolher o seu grupo  

 

 - Procure pessoas com que você tenha afinidade pessoal, mas não deixe de observar a postura profissional dos seus colegas

 

- Descubra o que os seus colegas esperam do trabalho para saber qual será o comprometimento deles com a pesquisa

 

- Para saber como os integrantes do seu grupo vão se dedicar ao TCC, observe como se dedicaram aos trabalhos regulares do curso

 

- Considere a linha de pesquisa e o formato do trabalho para escolher pessoas que tenham interesses comuns.


Data: 17/04/2009