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Aluna perde vaga por não ser considerada parda

Universidade Federal de Santa Maria (RS) alegou que a estudante não se enquadrava na cota que pleiteava

A estudante do primeiro semestre de pedagogia Tatiana Oliveira, 22, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul, disse que foi vítima de preconceito após ter sua matrícula no curso cancelada. Ela, que afirma ter pai pardo e um avô negro, candidatou-se à vaga pelo sistema de cotas, declarando-se parda.

A instituição, que destina parte de suas vagas para alunos cotistas, não considerou a estudante parda e retirou-lhe a vaga. Desde o dia 7 de abril, ela deixou de ir às aulas. "Disseram que eu não era parda. De que cor eu sou então? Branca é que não", disse Tatiana ontem à Folha.

O cancelamento da matrícula foi uma decisão administrativa da universidade gaúcha, que adotou um modelo de checagem dos argumentos dos candidatos que ingressam nas vagas reservadas a egressos do ensino público (20%), deficientes físicos (5%), negros, pardos e indígenas (11%).

A universidade afirma que neste ano, além de Tatiana, outros 22 estudantes perderam suas matrículas porque a instituição considerou que não se enquadravam nas cotas que pleitearam.

Vítima de preconceito

No caso da reserva racial, o controle da universidade se baseia em entrevista do candidato aprovado feita por uma comissão constituída por professores, técnicos da universidade, estudantes e representantes da comunidade. Ativistas de organizações pró-direito dos negros também participam das entrevistas. Nelas são feitas perguntas, como se a pessoa já se declarou negra ou parda em ocasiões anteriores ou se já foi vítima de preconceito.

Tatiana reclama que o edital do vestibular destina a cota a negros ou pardos, independentemente de terem ou não sido discriminados. O parecer da comissão embasa a decisão da universidade de manter ou não a matrícula.

"Me perguntaram se eu tinha sofrido algum preconceito por causa da minha cor até então e eu disse que não, falei a verdade. Estou sofrendo preconceito agora, da universidade", afirmou. "É uma injustiça."

A defesa dela ingressou ontem com uma ação para ser reintegrada à universidade.

Outro lado

O pró-reitor de graduação da UFSM, Jorge Cunha, defende o modelo de revisão dos processos de todos os cotistas para evitar que pessoas sejam beneficiadas indevidamente e nega que o critério racial seja vago.

"As ações afirmativas objetivam dar oportunidade de entrar na universidade a quem não teve por causa da discriminação ou da pobreza, e não para oportunistas que se descobrem momentaneamente negros ou pardos [para serem enquadrados na cota]", disse.

Cunha argumenta que ter antepassados negros ou pardos não é o suficiente para ingressar nas vagas reservadas e há casos de alunos negros que não ingressaram pelo sistema de cotas raciais porque tinham boa condição financeira.

O pró-reitor afirma que todos os casos de cancelamento de matrícula são comunicados ao Ministério Público Federal de Santa Maria.

 

(Folha de SP, 14/4)


Data: 14/04/2009