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Artigo - Homenagem a um grande líder sindical

Braulio Maia Júnior

 

 

Caro amigo Wagner Braga Batista.

 

Ao encontrá-lo em 08/04/09 na feirinha do produtor, que funciona nas dependências da UFCG, senti vontade de homenagear o aguerrido companheiro de longas datas.

 

Amigo! Em meados de 1979, ao passar num concurso para docente da UFPB, Campus II, e dirigir-me ao bloco BH, onde se localizava o saudoso DME, deparei-me numa sala no andar térreo com um professor barbudo e muito eloqüente. Estava diante de meu futuro guru ADUFIANO, professor Wagner Braga Batista.

 

Nascia naquele instante uma amizade que conservamos ainda hoje. A sala acima mencionada era a sede da ADUFCG e Wagner, um de seus principais dirigentes. De imediato o Professor Wagner me associou e a partir de então faço parte desse sindicato.

 

Wagner, relatar nossas árduas greves sem recursos, já que, salvo engano, o fundo de greve foi uma proposta sua em nossas assembléias em época posterior é lembrar de batalhas gloriosas de nosso sindicato. Que saudade daquelas concorridas assembléias, muito diferente das de hoje, completamente esvaziadas. Tenho vívida na memória  uma assembléia na década de 80, no hall das placas, em que se enfrentaram num debate democrático defendendo encaminhamentos distintos, Wagner Braga, Michel Zaidan e João Otavio de um lado e, do outro, Telmo Araujo, Raimundo Santos e Chiquinho Cocó. O nível dos embates era um grande atrativo de nossas assembléias. Grande pelego (penso que apenas eu tenho liberdade para chateá-lo com esse tratamento) gostaria de recordar alguns fatos que marcaram nossa caminhada, sendo a sua a frente do sindicato e a minha, como tenaz filiado. Lembrar das greves da década de 80; de nossas feiras no Teatro Municipal, vendendo roupas usadas, sapatos, revistas velhas e livros, buscando angariar recursos para manter nossas greves, nos mostra como foi importante esse inicio para o fortalecimento de nosso sindicato construído que foi, de maneira sólida, ouvindo seus associados. Nossa ida ao Estádio Amigão exibindo faixas contra o governo.  Nossas viagens de carona para os demais campi de nossa instituição. Recordo-me da ocasião em que fomos a Bananeiras, em campanha, defendendo uma greve e na volta almoçamos “sordas”, em uma bodega, nas proximidades da entrada de Cacimba de Dentro (Sitio Fazenda Velha) buscando, com isso, diminuir os custos de nossa viagem, haja vista a escassez de recursos do sindicato. Nossa invasão ao CONSUNI da UFPB, gritando palavra de ordem: TRABALHO IGUAL SALARIO IGUAL. Que saudade...

 

Não podia deixar de mencionar aqui aquela sua prisão na porta de nosso sindicato, que funcionava onde hoje é a Unidade Acadêmica de Engenharia de Produção. Lembro que fui à procura de um advogado para solta-lo. Você ficou uma boa parte daquele dia retido no Fórum.

 

Registramos aqui um fato delicado de ser narrado, que foi uma tentativa de eliminá-lo. Por ser um atuante sindicalista, você andou fazendo alguns pronunciamentos sobre um Grupo de Extermínio existente à época. Em poucos dias surgiram pessoas estranhas a Universidade lhe procurando. Para sua sorte no dia que eles vieram para lhe eliminar, encontraram Valdir (que hoje se encontra em Brasília), que juntamente com Telma, então secretaria da ADUFCG, informaram que você não estava. Em seguida Valdir foi a sua procura e relatando o acontecido e mostrando as pessoas que estavam lhe procurando. Detectada a armadilha, graças a Deus, o plano não logrou êxito.

 

Na sua saída para cursar o Doutorado, fiquei como seu procurador. Cuidado pelego, ainda tenho essa procuração. Imagine a trabalheira. Nosso amigo “vê chifre em cabeça de cavalo”.  Todo semestre na entrega dos relatórios era aquele estresse. A documentação que estava incompleta; o pessoal fazia corpo mole; o correio entrava em greve. Ela afirmava que tudo que estava acontecendo era de propósito para prejudicá-lo. Tudo acontecia com ele.

 

No seu retorno, após cursar, com êxito, o doutorado em Educação na UFRJ em 2002, fui incumbido de alugar um transporte alternativo para trazer suas bugigangas acumuladas no Rio de Janeiro do aeroporto de Recife para Campina Grande. Foi  necessária uma camioneta para trazer tão volumosa mudança. Cara Cristina, quanta paciência. É preciso uma mulher da sua fibra para agüentar esse museu que o Wagner carinhosamente conserva no lar de vocês.

 

Lembrar de nossas madrugadas na Feira Central. Eu saia do Jardim Paulistano, antes de cinco da manhã, para pegá-lo no conjunto dos professores e juntos íamos às compras. Após a feira tomávamos café na casa de meus pais ocasião em que batíamos gostosa prosa. Ouvir as história e estórias de meu querido Pai, Braulio Maia...

 

Amigo, resolvi escrever estas palavras objetivando resgatar o árduo trabalho que você teve na criação e consolidação de nosso sindicato e também deixar registrado sua atuação como pessoa humana e integra.

 

Wagner você com seus dois doutorados em Educação e Engenharia de Produção, títulos obtidos numa Instituição de renome como a UFRJ me deixa orgulhoso de fazer parte de seu ciclo de amizade. Contudo, não menos relevante foi sua participação como líder sindical, tendo sido Presidente de nosso sindicato em varias oportunidades e assumido diversos cargos na diretoria sendo sempre um exemplo de lisura e diligente nos seus atos, que sempre foram respaldados nas decisões de nossas  assembléias, numa época de árduas batalhas, em momentos delicados de nossa história. Tempo em que lealdade, amizade e interesse coletivo imperavam em nossas ações.

 

 

Braulio Maia Junior é diretor do CCT/UFCG


Data: 13/04/2009