topo_cabecalho
Novo Enem: Proposta quebra processo viciado, diz educador

Ex-reitor defende rede de proteção social para o aluno

A ideia é revolucionária, mas precisa ser aplicada com cautela e organização, preservando o princípio de igualdade de acesso dos alunos de diferentes classes sociais às instituições.

Na avaliação do educador Mozart Neves Ramos, presidente executivo do Movimento Todos pela Educação, o fim do vestibular e a substituição pelo Enem demandam planejamento intenso e capacidade operacional.

Mas também a preocupação com formas de garantir aos estudantes a possibilidade de mobilidade acadêmica, incluída na proposta do MEC (os alunos podem concorrer a universidades de todo o país):

- É preciso que se tenha uma boa estrutura. Se o estudante for de baixa renda, é preciso ter a moradia para estudar em outro estado e bolsa de manutenção para ele. E isso é fundamental, porque, promovendo essa mobilidade, o país se torna culturalmente mais rico. Uma das questões é que a demanda de alunos para os alojamentos é sempre maior do que a capacidade. Os reitores terão que se preparar para incrementos para essa área de moradia.

A pressa, para ele, é adversária do sucesso do projeto: - Teremos pouquíssimo tempo para implementar. Eu chamaria agora um número pequeno de universidades, como teste. Não faria na escala que o MEC está propondo. Corre-se o risco de uma boa ideia ser estragada por eventuais falhas operacionais. É preciso que as universidades tenham uma disciplina militar para operacionalizar isso - diz Mozart.

Ex-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, o educador critica ainda a possibilidade de, em alguns cursos, as universidades criarem provas específicas. Segundo ele, essa opção compromete uma das principais "riquezas" da proposta: a democratização do acesso ao ensino superior.

- A riqueza é quebrar um processo viciado. Para o aluno que não tem acesso, são ruins essa cultura, essa indústria - diz Mozart.

"Mudanças darão chacoalhada no ensino"

Mozart Neves afirma que o principal mérito das propostas é "humanizar" o processo seletivo e "oxigenar um sistema envelhecido" . Segundo ele, as mudanças criam uma trincheira contra o comércio que se formou em torno do vestibular.

- O Enem se mostrou um exame até aqui bastante acessível, que trata também de testar a habilidade e a criatividade do aluno - diz o educador, que defende avaliações sequenciais, trianuais, do desempenho do aluno no ensino médio: - Essas mudanças darão uma chacoalhada na estrutura curricular do ensino médio. (Maiá Menezes)

 

(O Globo, 12/4)


Data: 13/04/2009