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Jovens podem usar notebook na escola e contestam a utilidade de escrever à mão

Um teclado na mão vale mais do que mil canetas no estojo? Simone Janovich, 17, acha que sim. Ela leva seu laptop para a escola todos os dias.

 

"Prefiro escrever no computador. Tenho facilidade para digitar, e fica mais organizado", diz ela, que acha mais fácil estudar 'fazendo tudo no laptop".

 

"Tiro dúvidas com meus amigos pelo MSN, trocamos e-mails sobre anotações de aulas, falo on-line com os professores. O computador também poupa um pouco os dedos. Chega de calos!", continua ela, que só escreve à mão quando necessário --em geral, durante provas escolares e aulas de redação.

 

Como Simone, muitos jovens sentem-se mais à vontade digitando do que redigindo à mão.

Seria o prenúncio do fim da letra manual?

 

A atual geração não escreve em agenda e diário, mas em blog; comunica-se por meios eletrônicos, com mensagens de texto por celular, MSN, Orkut, Twitter ou e-mail.

 

Caligrafia para quê?

 

Educadores relutam em apostar na extinção da caligrafia, mas admitem o desinteresse e a diminuição da prática.

 

"A escrita é um recurso que jamais vai acabar, é como os livros, que não vão sumir, embora muita gente hoje leia mais na internet. Só se aprende a escrever escrevendo e só se aprende a ler lendo. O mundo totalmente informatizado não é para essa nem para as próximas gerações", diz a psicopedagoga Lígia Fleury, do Colégio Renascença.

 

Muitos jovens questionam a importância de escrever à mão, diz Lígia. "Quando um aluno fala que não precisa disso, eu respondo que nem sempre ele terá um computador à disposição, que ninguém fica conectado 24 horas por dia. Tem que saber escrever manualmente."

 

No Renascença, os alunos podem levar laptops para a sala de aula, com uma restrição: nada de entrar na web. Nesse cenário, o maior vilão é o corretor ortográfico, criticado por educadores mais conservadores.

 

"Eu oriento os meus alunos, digo que essa ferramenta serve para chamar a atenção para um erro e ensinar o correto. Não pode ser usada como um ato mecânico de corrigir. Existe espaço para o computador e para o caderno na escola", diz Lígia.

 

Outra adepta da moda de trocar pesados cadernos por um computador portátil é Marjorie Sterenberg, 16. "O meu laptop é como um caderno com todos os meus cadernos e com muito mais recursos. É mais prático anotar as aulas assim. Se você escreve errado, deleta, não precisa apagar ou riscar tudo", diz.

 

Marjorie admite que tem dificuldade para escrever à mão. "Eu estudava numa escola britânica onde todos os alunos tinham laptop desde a oitava série. Minha letra não é muito boa, não treinei caligrafia", conta ela, que sonha com provas digitalizadas e se preocupa com a redação do vestibular.

 

Rafael Elkabets, 16, só troca o computador pelo papel quando é obrigado. 'No futuro, vou precisar mais do computador do que de caligrafia. Mas eu sempre me esforço para fazer letras bonitinhas nas redações', diz.

 

Para a psicopedagoga Raquel Caruso, diretora da Edac (Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico), o computador ajuda a camuflar falhas.

 

"Algumas crianças têm dificuldade na escrita manual e, quando conhecem o computador, esses problemas desaparecem. É preciso ter uma escrita que seja compreensível para os outros. Depois que isso estiver sedimentado, pode-se usar o computador sempre."

 

Essa geração não escreve menos, ao contrário --só não escreve mais à mão, compara Débora Vaz, diretora da Escola Castenheiras.

 

"O [escritor] Mário Prata falou uma vez que essa geração escreve muito mais do que as anteriores. No meu tempo, era impensável um jovem ficar quatro horas seguidas lendo e escrevendo."

 

(Folha Online)


Data: 24/03/2009