topo_cabecalho
A próxima ameaça

Asteroide com risco incerto de colisão com a Terra em 2036 é dez vezes o tamanho daquele que passou perto agora

 

A passagem do asteroide 2009 DD45, com 30 metros de diâmetro, à distancia de 72 mil quilômetros da Terra, em 2 de março, reabriu a discussão sobre o risco da colisão de um corpo celeste com o nosso planeta. Uma ameaça pode mesmo ocorrer a qualquer momento, mas já existe um asteroide programado para as próximas décadas: o 99942 Apophis.

 

Catalogado inicialmente como 2004 MN4, o Apophis foi observado pela primeira vez em 19 de junho de 2004 pelos astrônomos Roy Tucker, David Tholen e Fabrizio Bernardi, do Centro de Controle de Asteroides, fundado pela Nasa na Universidade do Havaí.

 

O bólido foi redescoberto em dezembro daquele ano pelo astrônomo Gordon Garrad, da Austrália, em 19 de junho de 2004, quando também se notou a possibilidade de uma rota de colisão com a Terra.

 

Batizado com o nome grego do antigo deus egípcio Apep (o destruidor), o Apophis faz parte de uma classe de asteroides chamados de Apollo. Esses objetos celestes têm um eixo orbital com comprimento inferior a uma unidade astronômica. Isso significa que eles não se distanciam do Sol mais do que a Terra é distante.

 

As observações desse asteroide, quando ainda estava catalogado como 2004 MN4, levaram às afirmações de que a órbita descrita seguida por ele no espaço o levaria a um impacto direto com a Terra no ano de 2029.

 

Cálculos matemáticos mais refinados feitos nos meses seguintes acabaram eliminando a possibilidade de uma colisão nesta época, mas mantiveram a previsão de que o asteróide passará pela Terra a uma pequena distância.

 

Isso altera ligeiramente sua órbita, que o trará novamente ao planeta em 2036, com alguma possibilidade de impacto direto - uma em 43 mil, em princípio, já rebaixada para uma em 37 por alguns cientistas, o que o colocaria no nível 1 da Escala de Risco de Impacto de Turim.

 

Bombas e vulcões

 

Apophis está numa órbita em que completa uma volta em torno do Sol a cada 323 dias e o coloca duas vezes em cruzamento com a órbita da Terra a cada volta completa pelo Sol. Com base em estudos sobre o brilho do asteroide, astrônomos estimam seu tamanho entre 320 metros e 415 metros.

 

Caso haja colisão, sua massa, velocidade, composição e ângulo de entrada na atmosfera seriam suficientes para provocar uma explosão equivalente a 880 megatons de TNT num impacto direto.

 

É uma energia equivalente a 114 mil bombas atômicas de Hiroshima ou sete erupções como a de 1.823 do vulcão Krakatoa, na Indonésia. Tal impacto seria capaz de volatilizar completamente uma extensão de terra igual à da ilha de Chipre e causar efeitos colaterais na geografia, no clima e no ambiente de um terço do planeta.

 

Os últimos estudos astronômicos indicam o dia 13 de abril de 2036 como o momento de maior aproximação de Apophis da Terra, que passaria a 35 mil quilômetros da superfície do planeta. É uma distância menor que a de alguns satélites geofísicos artificiais em órbita.

 

Como existem diversos estudos ainda divergentes, porém, não se pode afirmar com absoluta certeza qual será realmente a sua aproximação, nem eliminar completamente uma possibilidade de impacto.

 

Projeções mais precisas continuam sendo feitas e anunciadas regularmente. Atualmente, o Apophis é o corpo celeste mais vigiado no espaço pela comunidade científica.

 

Missão rastreadora

 

Em 2005, o astronauta Russell Schweickart, tripulante da missão Apollo 15 (hoje diretor da Fundação B612 de estudos astronômicos) solicitou em audiência ao Congresso dos EUA a liberação de fundos para o envio de uma sonda ao asteroide.

 

A espaçonave-robô depositaria um rádio-emissor em sua superfície, de modo que os astrônomos pudessem controlar sua posição correta e seus elementos orbitais exatos em torno do Sol e da Terra até 2070.

 

A preocupação de Schweickart e da comunidade astronômica é a de que, por ocasião da primeira passagem pelo planeta em 2029, venha a ocorrer uma alteração na órbita do asteroide, colocando-o numa posição mais favorável a uma colisão na passagem de 2036.

 

Apesar da possibilidade de impacto com a Terra não ser significativa, a Planetary Society oferece um prêmio de US$ 50 mil para quem apresentar o melhor plano para colocar um rastreador no asteroide ou em sua proximidade.

 

(Folha de SP, 8/3)


Data: 10/03/2009