topo_cabecalho
Educação supera saúde, diz pesquisa

Os indicadores de avanço na educação foram muito tímidos; o desempenho do ensino básico avança em ritmo modesto

Nos primeiros dias do ano sempre se espera com ansiedade a pesquisa do Brasil Termômetro, criado em 1986, com a redemocratização. Neste ano, a revelação foi que em 2009, pela primeira vez na história do Termômetro, a população brasileira deu maior importância à educação do que à saúde.
"O dado indica uma mudança de atitude dos próprios cidadãos, que assumem que a educação é prioridade deles, e não só do governo", afirmou o ministro da Educação [Fernando Haddad], enquanto seu colega da Saúde [José Gomes Temporão] concordava: "Quando as pessoas falam muito em saúde, é para reclamar, e com razão.

Já a educação tem uma imagem mais positiva. Se falam mais nela, é porque a esperança está vencendo". O presidente Lula, mencionado na coluna Mônica Bergamo, teria afirmado, em "petit comité", que "foi preciso um operário chegar à Presidência para que as pessoas parassem de se sentir doentes e começassem a desejar educação e cultura como prioridades".

As críticas não se fizeram esperar, porém. Em primeiro lugar, a crise financeira mundial fez com que o medo do desemprego atingisse sua cota mais elevada em 15 anos, segundo o mesmo Termômetro. A educação é a segunda questão em importância, mas com metade dos pontos atribuídos ao desemprego e à crise.

Além disso, falou-se tanto na educação como forma de conseguir emprego -o que pode ser verdade, mas a longo prazo e com muitas exceções- que muitas pessoas podem estar empenhadas em se educar ou educar seus filhos a partir de uma expectativa que não vai ser realizada.

"Em vários países, tudo o que se conseguiu foi aumentar o nível de escolaridade dos desempregados", comentou o economista Gilberto Dupas.

Em segundo lugar, os indicadores de avanço na educação foram muito tímidos. Agora que o país dispõe de medidas mais sofisticadas para o desempenho do ensino básico, nota-se que ele avança em ritmo muito modesto.

Desafio persistente

Na verdade, como comentaram vários especialistas em educação, é tão pequeno o avanço que ele fica na margem de erro. Além disso, como os indicadores são de criação recente, é possível que o próprio aprimoramento deles, de um ano para outro, dê a impressão de um avanço -ou retrocesso- que na verdade não existiu. O desafio da educação no país continua, assim, difícil de ser enfrentado.

"O aumento dos salários de professores do ensino básico, sem a contrapartida de exigir melhor desempenho deles, foi uma enorme oportunidade perdida. Com os recursos investidos, podíamos ter avançado mais. O problema é que muito dinheiro é aplicado com pouca avaliação", afirmou o educador Fabio Castelsaraceno.

"É uma concessão à política sindical", prosseguiu ele, "que não trará ganhos para quem realmente importa, que é o aluno da escola pública. Ele geralmente é pobre e seu melhor meio de subir na vida é o conhecimento que a escola gratuita e estatal pode lhe dar".

"O governo tem que decidir se sua prioridade são mesmo os alunos. Se os professores ganham a recompensa de um aumento sem nada fazerem pelos alunos, estarão recebendo um estímulo negativo."

Por outro lado, "não se esperava do governo do PT que apostasse na avaliação educacional. Durante anos, seus militantes se opuseram a ela, denunciando-a como coisa do FMI e tudo o mais", afirmou o respeitado blog de Roberto Verres.

"No governo, porém, o PT procurou um meio-termo entre os sindicatos e a avaliação. Aquilo que o governo anterior não conseguiu, quem sabe este consiga: um consenso maior sobre a necessidade de adotar boas práticas e de colocar mais dinheiro, só que com critério."

"Sou mais otimista que meus colegas, mas sei que vai demorar muito tempo para a educação brasileira ter qualidade. É tarefa de gerações."

 

(Folha de SP, 28/12)


Data: 29/12/2008