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Prêmio Nobel de medicina está sob suspeita

Laboratório teria influenciado escolha de cientista alemão que associou HPV ao câncer de colo de útero

A integridade do júri que concede os prêmios Nobel está sob suspeita depois da revelação de que um de seus membros faz parte do conselho-diretor de uma empresa farmacêutica, beneficiada, indiretamente, pela premiação.

A Justiça da Suécia investiga se o laboratório britânico AstraZeneca exerceu influência na concessão do último Nobel de Medicina a um dos agraciados, o alemão Harald Zur Hausen. Ele é reconhecido por sua pesquisa com o vírus papiloma humano (HPV), associado a câncer de colo de útero, doença contra a qual a empresa desenvolveu vacinas lucrativas. Agora o cientista corre o risco de ter o seu prêmio cassado.

A informação é do jornal britânico "The Times". Dois personagens com papel importante na escolha de Zur Hausen têm fortes vínculos com a AstraZeneca. De acordo com uma rádio sueca, Bertil Fredholm, presidente do comitê de cinco pessoas que avalia os candidatos ao Nobel, trabalhou como conselheiro do laboratório em 2006. Já Bo Angelim, membro do comitê de 50 pessoas que votam, é do conselho de direção da empresa.

No ano passado, a AstraZeneca comprou uma companhia que desenvolveu um componente chave para a produção de duas vacinas contra o HPV. A empresa também patrocina o portal de internet e mídia do Nobel, cujo valor o "The Times" estima em centenas de milhares de dólares. O diretor da Divisão Anticorrupção da Polícia Sueca, Christer van der Kwast, pediu para averiguar se há motivos para iniciar investigação. A empresa nega qualquer interferência.

E não só Hausen sob suspeita. A promotoria sueca abriu outra investigação sobre um suposto caso de suborno a membros de comitês do Nobel que aceitaram viagens com todas as despesas pagas pelo governo chinês.

São viagens de cinco representantes do Nobel, uma há dois anos e outra em janeiro de 2007, à China. Um dos objetivos era informar aos chineses como é o processo de escolha dos vencedores. Além de Hausen, os franceses Luc Montagnier e Françoise BarreSinoussi ganharam o Nobel de Medicina deste ano. Eles dividiram metade do prêmio de 2008 pela descoberta, em 1983, do vírus HIV.

(O Globo, 20/12)


Data: 22/12/2008