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Brasil não avança, mas fica no grupo dos melhores IDHs

País mantém a 70ª posição e permanece no grupo de alto desenvolvimento humano; Flavio Comim, que coordena o relatório no país, diz que a evolução é sustentável, já que ocorreu nas áreas de saúde, educação e renda

O Brasil se manteve no grupo considerado pela ONU de alto desenvolvimento humano, mas já não consegue avançar nesta década seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no ritmo verificado na década passada, segundo relatório divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O IDH é divulgado anualmente e parte de indicadores em três áreas: saúde, educação e renda.

O país apareceu no relatório deste ano na mesma posição do ano passado: a 70ª. Seu IDH de 2005 para 2006 (os dados de cada relatório são sempre referentes a dois anos antes) variou de 0,802 para 0,807. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.

Na divulgação do ano passado, o país apareceu, pela primeira vez, no grupo de nações consideradas de alto desenvolvimento humano, ou seja, com IDH superior a 0,800.

Na avaliação do coordenador do Relatório do Desenvolvimento Humano no Brasil, Flavio Comim, o crescimento do IDH brasileiro tem se verificado sustentável, já que aconteceu nas três dimensões analisadas -saúde, educação e renda.

Mas esse avanço já foi mais acelerado. De 1990 a 2000, o país deu um salto de 0,081 ponto em seu IDH. De 2000 a 2006, no entanto, a variação foi de apenas 0,018 ponto.

A diminuição do ritmo de melhoria fica evidente numa comparação feita por Comim entre Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Costa Rica, México, Panamá e Venezuela. Analisando a evolução desde 1990, o Brasil teve a maior variação do IDH. Mas, considerado só o período de 2000 a 2006, todos os outros avançaram mais, com exceção da Argentina.

Comim afirma que, por um lado, é natural que o país tenha mais dificuldade para melhorar seu IDH a partir do momento em que chega a um patamar mais elevado. Ele alerta, no entanto, que ainda há muito espaço para melhora e que não se deve esquecer que o índice é apenas uma média do país, o que, especialmente no caso brasileiro, esconde desigualdades significativas.

"Numa cidade como o Rio de Janeiro, há bairros com IDH da Islândia e regiões onde o indicador é africano", afirma. Sobre a melhoria da década de 90, ele aponta como razões que explicam o avanço o aumento na expectativa de vida, fruto em boa parte da redução da mortalidade infantil e do aumento da sobrevida de pessoas com HIV.

Também na educação fica claro que é preciso mais esforço para avançar. Entre 1992 e 2001, segundo o IBGE, o percentual de crianças fora da escola caiu de 13% para 4% na faixa etária de 7 a 14 anos e de 40% para 19% na de 15 a 17 anos. Em 2007, os percentuais estavam, respectivamente, em 2% e 18%. No caso da escolarização de 7 a 14, há pouca margem de melhora, pois apenas 2% das crianças estão fora da escola. Já na população de 15 a 17 anos, é possível avançar mais, já que a taxa variou apenas um ponto percentual de 2001 a 2007.

Há também margem para melhora na alfabetização de adultos, pois 10% da população adulta ainda é analfabeta.

Comim lembra ainda que o país pode avançar também melhorando seus indicadores de pobreza e desigualdade, que ainda são dos maiores do mundo quando comparados com o grupo de 75 nações de alto desenvolvimento humano.

Empate

Como o Brasil não avançou nenhuma posição quanto à divulgação feita no ano passado, há quem avalie que o atual relatório não seja tão positivo. "Não é bom, mas também não é ruim. Ao menos não aconteceu como em 2007, quando o Brasil chegou ao clube de países de renda alta, mas perdeu posição no ranking [de 69º para 70º]", diz o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas.

Para o sociólogo Paulo Edgar Almeida Resende, da USP, o Brasil só avançará no IDH se investir mais na zona rural. "A urbanização expulsou o homem do campo, e não o atraiu para a cidade. Assim, trocou uma escravidão pela outra."

Índice avalia saúde, renda e educação

O Relatório do Desenvolvimento Humano da ONU foi divulgado pela primeira vez em 1990. A idéia era ampliar a discussão sobre os indicadores que deveriam ser considerados para analisar as condições de vida nos países. Até então, a maioria das comparações levava exclusivamente em consideração a renda per capita.

A renda, no entanto, não considera outras dimensões importantes do desenvolvimento humano, tanto que nem sempre um país com alta renda consegue traduzir isso em melhores condições de vida para sua população.

Para calcular o IDH, além do PIB per capita de cada país, a ONU considera também indicadores de saúde e educação.

Na saúde, a forma de avaliar essa condição escolhida foi a expectativa de vida ao nascer, especialmente por ser um índice que é altamente afetado por taxas altas de mortalidade na infância e na população jovem e adulta.

Na educação, usa-se duas taxas: o percentual de adultos alfabetizados e a taxa bruta de matrícula, medida pela razão entre o total de estudantes nos ensinos fundamental, médio e superior e a população em idade escolar. Cada dimensão gera um subíndice, que é considerado em conjunto para calcular o IDH final.

 

(Folha de SP, 19/12)


Data: 19/12/2008