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Federais terão mais de 35 mil novas vagas para engenharias em 2012, diz Lula

No início da tarde do dia, em Brasília, durante a abertura da World Engineers Convention (WEC 2008), que acontece até sábado (6), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, relatou ações que o governo federal vem realizando para investir na formação de engenheiros

Entre elas, o presidente destacou que o governo federal está trabalhando com o aumento de vagas para as engenharias nas universidades federais. Segundo Lula, em 2006, as universidades federais ofereciam 17 mil vagas nos diferentes cursos de engenharia. "No ano letivo que se iniciará em breve [2009] as vagas já serão mais de 28 mil e trabalhamos com uma estimativa que, em 2012, elas superarão as 35 mil vagas para engenharia."

Esse aumento representa o dobro da oferta de vagas em apenas seis anos. "Além disso, a Petrobras, via Prominp [Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural], estima a capacidade de 27,5 mil profissionais dos quais 6 mil na área de engenharia."

O presidente disse que a recente experiência brasileira torna muito clara a importância de engenheiros e engenheiras no momento de retomada do desenvolvimento.

"Falo de profissionais que precisam ter a inovação em seu DNA profissional, que devem estar cada vez mais habilitados para assegurar competitividade global e para enfrentar os desafios do século 21, que vão desde setores ambientais a econômicos." Para Lula, os debates que ocorrerão na WEC 2008 vão exatamente nesse sentido de contribuir para a mobilização do setor de engenharia de todo o mundo em torno dessas causas.

"Agradeço por escolherem o Brasil como sede para esse evento tão especial e que tanto nos orgulha e os parabenizo mais ainda por privilegiar a América do Sul ao escolherem a Argentina para o próximo encontro, em 2010. Nosso subcontinente vive em pleno processo de integração e estou certo de que vocês engenheiros e engenheiras terão importante papel para a concretização de cada quilômetro de estrada, de cada quilômetro de rede de transmissão", disse Lula.

Ações

Em continuidade à citação de ações em prol da engenharia, o presidente Lula citou a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). "As ações têm início ainda nos primeiros anos de escola com investimento na educação básica."

Lula lembrou que em 2004 houve apenas 274 mil jovens participando da olimpíada de matemática, todos de escolas privadas e que, naquele ano, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), associado à Abipti, ao levar a ele cinco premiados em um concurso internacional, o provocou a fazer uma olimpíada de matemática das escolas públicas. "Quando nós tomamos a decisão de fazer, e vocês conhecem bem essa história, que no Brasil tem muita gente que gosta de não acreditar em si mesmo, de não acreditar no país, me disseram: isso não vai dar certo nas escolas públicas."

Na época, de acordo com o presidente, a Argentina tinha 1,2 milhão de jovens participando das olimpíadas da matemática, os EUA tinham 6 milhões e o Brasil tinha apenas 274 mil jovens. "Fizemos, então, a primeira olimpíada da matemática [das escolas públicas]. Participaram 10 milhões de jovens; fizemos a segunda e o Tribunal Eleitoral não permitiu que fizéssemos nenhum panfleto convocando os alunos para participar porque achavam que era campanha eleitoral e, em 2006, se inscrevem 14,5 milhões de pessoas; fizemos a terceira, participaram 17 milhões de crianças; fizemos a quarta, este ano, e se inscreveram 18,3 milhões crianças de escolas públicas."

Lula brincou com o público e disse que o engenheiro, além de ser bom em matemática, tem que ser bom em português e que, por isso, o governo federal começou a fazer a olimpíada de português. E nessa primeira, em 2008, se inscreveram 6 milhões de crianças. "Para os próximos anos, quero fazer olimpíadas de ciências, de física, e haverá um dia em que nós teremos olimpíadas de todas as matérias para motivar os nossos jovens a participar e quem sabe motivá-los a estudar cada vez mais."

Outra medida citada por Lula é a valorização de escolas técnicas, uma iniciativa, segundo ele, recente no Brasil e que precisa de especial atenção. Além de aumentar o número de instituições de ensino e o investimento na área, o presidente lembrou que foi enviado ao Congresso Nacional um projeto de lei que cria 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia.

Esses institutos serão criados a partir de escolas já existentes e estarão presentes em todo o Brasil oferecendo licenciatura, cursos superiores de tecnologia e bacharelado em engenharia, além do ensino médio integrado e profissional.

A outra medida é o aumento dos investimentos no ensino superior. Ele citou que foi dobrado, de 2003 para cá, o número de novas vagas anuais ofertadas nas universidades federais; foram criados 71 novos campi universitários que já estão em funcionamento, sendo que 34 estão em preparação; foram criadas 12 novas universidades federais e haverão outras quatro até 2010. Nessa medida é que estão incluídas as 28 mil vagas para engenharias em 2009 e 35 mil em 2012.

Engenheiros

Lula reforçou que o país precisa de muito mais engenheiros, profissionais cada vez melhores, com nível e variedade de formação equiparados aos países mais desenvolvidos aos quais o Brasil vem agora competindo no cenário global. Mas reforçou que um passo dessa envergadura não pode ser dado da noite para o dia e disse que nos próximos dois anos o governo federal vai fazer tudo o que foi comprometido.

"Vamos ainda, se Deus quiser, fazer no ano que vem a licitação do trem de rápida velocidade ligando o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, porque somente assim é que o Estado pode se transformar num indutor e num motivador da economia deste país e em outros países."

Para o presidente, acabou aquele tempo em que com uma crise qualquer a primeira coisa que o Estado fazia era se encolher. Ele disse que, hoje, poucos países do mundo têm uma dívida pública tão baixa como o Brasil se comparado ao PIB. "Apenas 36% representa a nossa dívida pública. Portanto, temos mais de uma manobra para não permitir que esse país pare de crescer e formar mais engenheiros, mais engenheiras e cada vez melhor remunerados porque formar mais não significa reduzir os salários."

Crise

O presidente da República falou ser uma honra receber engenheiros e engenheiras de vários países do mundo no momento atual em que a crise financeira internacional obriga a todos repensarem de forma profunda como a riqueza vinha sendo produzida e distribuída.

"Neste sentido, a engenharia ocupa um papel fundamental. Estou falando de uma atividade voltada acima de tudo para a produção, a construção e alimentação. E com uma imensa capacidade de inovar e de criar."

Lula disse que o Brasil hoje vive um momento peculiar, pois foi retomado o desenvolvimento econômico e a minimização da desigualdade social. Ele afirma que o país voltou a construir e a expandir a produção e que isso implicou em um dilema sadio: hoje há mais demanda por engenheiros do que o país tem conseguido formar.

"O problema tem raízes políticas e econômicas que remontam a mais ou menos duas décadas. O fato é que nos anos 1980 e 1990 do século passado, a estagnação econômica no país causou uma queda na demanda por engenheiros, mesmo por aqueles graduados em nossas melhores universidades."

O presidente lembrou que nos anos 1980, menos da metade dos graduados em engenharia na Universidade de São Paulo (USP) encontravam trabalho. "Hoje, a realidade é outra, o PAC está investindo, até 2010, R$ 504 bilhões em infra-estrutura energética, logística, social e urbana. Transformou o país em um verdadeiro canteiro de obras e provocou um aumento na demanda por engenheiros. Isso ocorre no mesmo momento em que nossa indústria voltou a crescer e ampliar o seu parque produtivo", afirma.

Para o presidente a crise atual é, possivelmente, maior do que a de 1929 e ele acredita que a sua causa foi a falta de controle dos governantes que foram eleitos, pois o setor financeiro passou a cuidar muito mais da especulação do que trabalhar junto ao setor produtivo.

Lula citou a reunião do G20, realizada em novembro nos EUA, em que os representantes dos países tomaram uma decisão de que é preciso que os Estados voltem a regular o sistema financeiro mundial.

"Não podem fazer o que fizeram nas últimas três décadas em que se criou uma doutrina que era preciso negar o papel do Estado. O Estado não podia nada, era o mercado que tinha que regular tudo e quando chegamos a uma crise como essa o mercado tremeu na base e quem teve que salvar foi o Estado, que durante três décadas foi atingido com críticas mercadológicas de uma visão neoliberal do papel do Estado e do papel da economia."

Para o presidente, no Brasil é preciso fazer da crise uma oportunidade, pois o país possui um mercado interno em potencial que poucos países têm. "Temos um mercado interno extraordinário."

E reforçou que não vai interromper o Plano de Aceleração do Crescimento. Disse, ainda, que no dia 2, em reunião com os governadores do Nordeste, em que participaram também os governadores de Minas Gerais e do Espírito Santo, foi tomada uma decisão de que nenhum Estado vai parar as obras que estão fazendo. "Porque em momentos de crise nós temos que fazer investimento, sobretudo o Estado, para que as coisas continuem acontecendo neste país. Temos que fazer com que a economia continue circulando. Quero pedir que a gente torne a atividade econômica à sua normalidade."

Para Lula, o Estado tem a oportunidade de mostrar que é o indutor e afirmou que os investimentos no Pré-Sal vão continuar, pois a Petrobras permanecerá com os investimentos de R$ 112 bilhões de dólares até 2010. E, falando em Petrobras, o presidente questionou o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, também presente ao evento, o fato de a Petrobras pegar dinheiro emprestado na Caixa Econômica. "A Petrobras é tão poderosa que se ela vai à Caixa pegar dinheiro, obviamente que ela vai pegar o dinheiro de uma pequena empresa, de uma consultoria, de uma empresa pequena da construção civil, do comércio".

Para ele é importante estabelecer outro banco que tenha a possibilidade de financiar os grandes projetos de infra-estrutura para que empresas como a Petrobras não disputem com pequenas empresas no sistema financeiro nacional. "Tudo isso, nós vamos cuidar para ver se conseguimos fazer a roda da economia voltar a girar sem medo e sem pânico."

(Gestão C&T, 789)


Data: 05/12/2008