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Aumenta procura por graduação e pós a distância

Mais aceita, modalidade vem se popularizando entre profissionais experientes

Desde que se formou técnico em eletrônica, no início dos anos 80, José Luiz Sacchetto não teve oportunidade de fazer um curso superior. Logo passou a viajar constantemente a trabalho, o que impediu a freqüência mínima exigida em uma universidade.

"Cheguei a ser aprovado no vestibular, mas o início de carreira é muito puxado e tive que abrir mão das pretensões acadêmicas", relembra, aos 47 anos, o atual gerente de assistência técnica da Siemens em São Paulo. Mais tarde, com o casamento e os três filhos, foi a família que se tornou prioridade.

No ano passado, contudo, Sacchetto decidiu preencher o vazio no currículo e, dessa forma, vislumbrar novas possibilidades de ascensão profissional. Depois de avaliar cuidadosamente as alternativas, ingressou no curso a distância de administração oferecido pela UnisulVirtual, instituição sediada em Palhoça (SC), cidade com 130 mil habitantes localizada na Grande Florianópolis. "Um curso a distância se encaixa perfeitamente no cotidiano de quem nunca sabe a que horas vai sair do trabalho", descreve.

Ele estuda entre uma hora e meia e duas horas por noite, em casa, acessando a internet e usando o material de apoio enviado pelo correio. Se tem dúvidas ou pretende aprofundar um tema, envia uma mensagem ao professor ou participa de salas de discussão com os colegas, utilizando-se de um ambiente virtual que simula a dinâmica de uma sala de aula.

Caso esteja em um período especialmente assoberbado na empresa, pode tirar o atraso estudando no final de semana. "O aproveitamento depende basicamente do meu próprio empenho. E ainda por cima gasto só 70% do que pagaria por um curso convencional, sem contar a economia de tempo e de dinheiro com transporte, estacionamento e refeições", acrescenta.

Sacchetto é um dos 2,5 milhões de brasileiros que fizeram cursos a distância ao longo do ano passado, de acordo com dados do anuário da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed).

Esse número inclui estudantes ligados a universidades e outras instituições de ensino ou que mantenham projetos com abrangência regional ou nacional, como é o caso da Fundação Bradesco, da Fundação Roberto Marinho e do Sistema S (Sesi, Senai, Senac e Sebrae).

Considerando-se apenas o ensino curricular, do fundamental à pós-graduação, o número de matrículas realizadas no ano passado beirou 973 mil, quase o dobro em relação às 575 mil do ano anterior e quase nove vezes mais que as 120 mil registradas cinco anos atrás. Embora a metodologia predominante ainda seja o uso de circuitos fechados de TV, que exige a presença do aluno em uma sala de aula no horário estabelecido, cresce rapidamente a utilização da internet, alternativa que proporciona mais flexibilidade ao estudante.

A popularização da rede mundial e o barateamento dos equipamentos de informática contribuíram decisivamente para o crescimento registrado pelo ensino a distância no país nos últimos cinco anos, período em que a participação da modalidade subiu de 1,3% para 4,4% do total de cursos de graduação, de acordo com dados do Censo do Ensino Superior do Ministério da Educação.

A quantidade de cursos autorizados passou, no período, de 52 para 349, ministrados por 93 instituições credenciadas - cinco anos atrás, eram apenas 20.

"Essa expansão está diretamente ligada ao fato de que o ensino a distância tem demonstrado sua eficácia pela qualidade dos profissionais que forma. Não há melhor argumento para ganhar credibilidade no mercado", diz Waldomiro Loyolla, presidente do Conselho Científico da Abed, que organizou uma programação especial para marcar o dia nacional do ensino a distância, celebrado amanhã.

Loyolla aponta, como indício de qualidade, os resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), aplicado tanto para alunos de cursos presenciais quanto para os de cursos a distância.

Nas duas edições mais recentes do exame, o desempenho de quem estava nas fases finais dos cursos a distância foi superior em 7 das 13 áreas avaliadas, com vantagem considerável em áreas como ciências sociais e física - em contrapartida, os alunos de cursos presenciais tiveram performance bem superior em áreas como história e geografia.

"O importante é que o desempenho médio permanece em patamares semelhantes, o que contraria o preconceito de que ensino a distância é necessariamente pior", destaca.

Uma das peculiaridades do ensino a distância é permitir que instituições de porte relativamente pequeno e afastadas dos grandes centros se tornem referência nacional, como é o caso da UnisulVirtual.

Criada em 2001 como um braço da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), a instituição oferece 20 cursos a distância de graduação (ciências contábeis, filosofia, logística, marketing, turismo e pedagogia estão entre eles) e nove de pós-graduação (como educação matemática, gestão governamental e gerência de projetos de tecnologia da informação), com mensalidades variando entre R$ 300 e R$ 350.

Juntos, esses cursos reúnem atualmente 8.500 alunos, além de outros 5.900 que fazem os cursos convencionais da Unisul e se matriculam em uma ou mais disciplinas a distância - dentro do limite, permitido pela legislação, de 20% da carga horária total. "São públicos bem distintos. Os alunos dos cursos presenciais têm média de 21 anos, enquanto quem opta pelo curso a distância tem em média 34 anos e quase sempre já traz na bagagem outra formação superior", descreve o diretor do campus UnisulVirtual, João Vianney.

A principal razão para que esses alunos optem pelo ensino a distância é, como ocorre no caso de José Luiz Sacchetto, a indisponibilidade de tempo em função do grande envolvimento com o trabalho. Quase sempre há também um objetivo profissional que vai além da simples obtenção do diploma: a perspectiva de uma promoção, de trocar de área dentro da empresa ou de se habilitar para um concurso público.

Além dos alunos independentes e dos patrocinados por empresas privadas, a UnisulVirtual desenvolve cursos específicos para instituições públicas e governamentais, como o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, o Ministério da Defesa, o Ministério da Justiça e o Senado Federal. São 170 funcionários voltados exclusivamente para o ensino a distância e outros 450 - a maioria professores - que atuam parte do tempo no ensino presencial e parte na UnisulVirtual.

(Valor Econômico, 26/11)


Data: 26/11/2008