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Retomar estudos é opção para complementar experiência

Para quem tem mais de 40, nova formação ajuda a encarar concorrência

 

Ter 40 anos, ao contrário do que muitos podem pensar, não significa estar longe da universidade. Por mais que os anos de experiência e a estabilidade da carreira possam ser considerados um diferencial, o regresso ao Ensino Superior pode ser considerado uma estratégia para além de manter-se atualizado, vencer a concorrência com os recém-formados. Segundo especialistas, a idade não diminui o risco de substituição.

 

Uma vantagem, porém, é que os profissionais nesta faixa etária já possuem experiência e sabem quais são os pontos em que há necessidade de focar. "Aqueles que procuram atualização não vão competir diretamente com os jovens. Eles geralmente buscam especializações para reciclar e assegurar seus conhecimentos na área em que trabalham ou para se candidatar a uma promoção", revela o diretor pedagógico da Interactive desenvolvimento pessoal, César Kyn d'Ávila. Pesquisa coordenada por d'Ávila aponta que os estudantes com 40 anos ou mais já ocupam 15% das vagas de cursos de reciclagem de conhecimentos.

 

A coordenadora do Ibmec Carreiras de MG (Faculdade IBMEC de Minas Gerais), Jacqueline Silveira, partilha da opinião de d'Ávila e acredita que os profissionais que procuram cursos de pós-graduação se preocupam com seu emprego. "O indivíduo com esse perfil trabalha e busca a pós em sua área de atuação para manter o posto profissional. Quem está na faixa dos 40 anos recorre a este tipo de cursos porque tem como concorrentes jovens com mesma qualificação que terminam a graduação e logo em seguida entram na pós", aposta.

 

No entanto, Jaqueline ressalta que a pós-graduação não garante que o profissional tenha sua vaga reservada no mercado. "O curso não assegura emprego, nem mesmo a promoção. O perfil e o comportamento do empregado também são avaliados; a responsabilidade, flexibilidade para mudanças e a motivação são características levadas em conta", adverte.

 

Muitos acreditam que a pós-graduação pode ser uma opção para quem tenha gosto pelos estudos. Porém, na opinião da coordenadora, é difícil encontrar profissionais que realizem a pós por tal motivo. "É possível que o profissional una sua necessidade a uma área que goste. Mas se ele procura cursos apenas por gostar de estudar, é importante que se informe sobre programas como a universidade da terceira idade, que tem foco no crescimento cultural", assegura Jaqueline.

 

Unir a vontade a uma necessidade na pós-graduação foi a opção do aluno de mestrado em Ensino de Ciências da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), Raul Messias Neto. Aos 48 anos, ele dá aulas na rede pública nos Ensinos Fundamental e Médio. Agora que realizou o sonho de fazer mestrado, já pensa em cursar doutorado. "Sempre penso no futuro, por isso quando estava na especialização queria fazer mestrado. Ainda nem acabei o curso e já penso em meu doutorado", afirma.

 

Já para a publicitária Graça Craidy, de 57 anos, o mestrado e o doutorado em Comunicação Social, realizados na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), representaram uma mudança na carreira. "Em 2003 minha sobrinha fez seu TCC (trabalho de conclusão de curso) e me pediu que explicasse alguns tópicos para ela. Ela disse que explicava bem e sugeriu que fosse professora. Gostei da idéia e procurei o mestrado; desde então dou aulas em universidades e faço o doutorado por vontade de continuar a estudar, além de me aprofundar e manter atualizada no tema que uso no dia-a-dia", conta.

 

Entretanto, a consultora do Ibmec Carreira alerta que casos como o de Graça são raros e não aconselha a pós-graduação para quem quer mudar de profissão. "Se a decisão é por trocar de carreira é melhor que invista em um novo curso de graduação, que abrange melhor os conhecimentos técnicos da área", comenta Jaqueline.

 

Além de enfrentar a mudança na carreira, Graça passou por mudanças na vida pessoal. "Toda minha família é do Rio Grande do Sul, mas eu estava em São Paulo havia quase 20 anos. Me matriculei em uma universidade do Sul e tive cerca de 15 dias para deixar meu apartamento, me despedir de meus amigos e me mudar", lembra.

 

A publicitária afirma que no início de seu mestrado teve dificuldades com a linguagem adotada. "Demorei a me acostumar com a linguagem acadêmica, porque é diferente e rebuscada, além de fazer referências a autores até então desconhecidos por mim. Precisei ler bastante, fazer pesquisas para, aos poucos, me adequar aos requisitos exigidos pelo curso", diz.

 

Após pouco mais de um ano de estudos, Graça conseguiu um emprego como professora universitária. Ela diz não se arrepender da escolha. "Já tive oportunidades de voltar para agências de comunicação, mas me sinto melhor lecionando. Além disso, ser professora me dá maior flexibilidade de horário, não preciso trabalhar nas horas determinadas como em empresas", garante.

 

Raul seguiu um caminho similar ao de Graça. No entanto, optou por esperar a conclusão do mestrado para lecionar no Ensino Superior. "Já recebi propostas, mas preferi adiar a nova etapa da carreira para poder me focar na dissertação", diz. Porém, ainda não ter um cargo como professor universitário não quer dizer que ele não tenha experiência alguma. "O estágio dá a chance de vivenciar a docência no Ensino Superior. O orientador traça algumas linhas para a prática. É possível que você converse com um docente para acompanhar suas aulas e há ainda a opção de tirar dúvidas dos estudantes."

 

O governo incentiva os profissionais a se especializarem por meio de bolsas de estudo para realizar cursos stricto sensu. "Sou professor efetivo da rede estadual e por isso tive chance de participar de um programa que concede bolsas de mestrado para aprimorar o conhecimento dos docentes", garante Raul.

 

(Portal Universia)


Data: 23/10/2008