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Cota não levou mais negros à Universidade

No ano passado, taxa de freqüência entre brancos de 18 a 25 anos foi de 19,4%, ante 6,8% entre pretos e pardos, segundo o IBGE

 

A política de cotas, implementada em mais de 60 universidades públicas do país, ainda não resultou em redução da desigualdade na participação de brancos, pretos e pardos no ensino superior, revela a Síntese de Indicadores Sociais.

 

No ano passado, a taxa de freqüência (proporção de pessoas que dizem estar indo à universidade) para alunos de 18 a 25 anos na população branca era de 19,4%. Entre a população preta e parda (nomenclatura usada pelo IBGE, que usa como critério a cor por autodeclaração), a taxa era de 6,8%. Os dados mostram que, na faixa de 18 a 25 anos, os estudantes pretos e pardos ainda não alcançaram a taxa de freqüência que brancos tinham em 1997.

 

Na faixa de 21 anos, por exemplo, a freqüência de alunos pretos e pardos era de 2,6% em 1997. No ano passado, subiu para 8,4%. No mesmo período, a população branca ampliou seu índice de 12,2% para 24,2%. Na prática, cresceu a distância em pontos percentuais.

 

Para José Luiz Petruccelli, do IBGE, os dados mostram que não houve impacto da criação de vagas para a população preta e parda. "Não existe uma política pública nacional de cotas. A lei que propõe isso está parada no Congresso. O pouco que está sendo feito não tem impacto."

 

O pesquisador afirma ainda que os números deveriam refletir a autodeclaração de cor. "O país tem metade da população que se identifica como branca e outra como não-branca. Se a cor não estivesse relacionada à apropriação de riqueza, deveríamos ter metade de brancos e metade de não-brancos nas universidades."

 

Segundo Marcelo Paixão, economista da UFRJ e coordenador do Observatório Afrobrasileiro, o governo mostra apenas tolerância sobre políticas afirmativas, e as únicas ações oficiais até agora foram o Prouni (Programa Universidade para Todos, que dá bolsas, com cotas para pessoas autodeclaradas indígenas, pretas ou pardas) e o Fies (Programa de Financiamento Estudantil).

 

Para ele, a participação dos pretos e pardos cresceu em ritmo acelerado, mas, em razão da base baixa, não foi possível reduzir a distância em relação à população branca.

 

"As políticas de ações afirmativas e o esforço de cada estudante ainda não foram suficientes para mudar um quadro em que mais de 90% dos jovens negros estão fora da universidade. Mesmo 120 anos depois da abolição, o país não consegue colocar 10% da população negra na universidade", disse.

 

O coordenador da ONG Educafro no Rio, André Guimarães, afirma que um dos principais problemas é a falta de divulgação do Prouni. "Fui na semana passada a uma escola em Inhaúma (zona norte do Rio) e, quando falei do Prouni, os olhos dos estudantes brilharam. Eles nem sabiam que eles tinham esse direito", afirmou.

 

Vanderson Luiz da Silva, 22, aluno de um pré-vestibular voltado para pretos e pardos, por exemplo, disse que desconhecia o programa no ano passado, quando completou o ensino médio e tentou pela primeira vez o vestibular para história.

 

O hiato entre pessoas que já concluíram o ensino superior também aumentou. Em 1997, 9,6% dos brancos e 2,2% dos pretos e pardos tinham nível superior completo. Em 2007, 13,4% e 4%, respectivamente.

 

Não só no ensino superior há discrepância. Em 2007, dos cerca de 14 milhões de analfabetos no país, quase 9 milhões eram pretos ou pardos. Na população branca, era de 6,1% para aqueles com 15 anos ou mais e de 14% para pretos e pardos.

 

(Folha de SP, 25/9)


Data: 25/09/2008