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Projeto da UFCG resgata fotografias censuradas pela Ditadura

Pesquisa será feita a partir de relatos dos profissionais que trabalharam no período de exceção em Campina Grande

 

A censura imposta aos órgãos de imprensa durante o Regime Militar no Brasil impediu que muitos jornais da época publicassem matérias e fotos consideradas contrárias aos interesses dos governantes. Em Campina Grande, da década de 60 até o final do regime, muitos fotógrafos e jornalistas viveram sob o olhar da Ditadura, tendo que filtrar suas palavras e ocultar imagens captadas pelas lentes do ‘inconformismo’, a fim de escaparem dos rigores da repressão.

 

Muitas destas imagens ficaram guardadas nos arquivos dos jornais, longe dos olhos dos leitores. Outras, sequer foram preservadas, já que foram apreendidas pelos militares, rasgadas ou jogadas em gavetas, sem nunca terem chegado ao conhecimento da população.

 

Para trazer ao conhecimento público o verdadeiro retrato desta época em Campina Grande, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), está desenvolvendo um projeto de iniciação científica cujo objetivo é resgatar estas fotografias e disponibilizar à sociedade o que foi preservado nos arquivos dos jornais ou pelos próprios fotógrafos.

 

Intitulado As Imagens Ocultas da Ditadura: os registros fotográficos não publicados de profissionais da imprensa campinense, da década de 60 aos anos de abertura, o projeto é coordenado pelo professor de Fotografia da Unidade Acadêmica de Arte e Mídia, Paulo Matias de Figueiredo Júnior, e segue uma linha investigativa que teve início ainda com um trabalho de mestrado, cujo título era Fotografia em Campina Grande: os fotógrafos e suas produções imagéticas no processo de desenvolvimento do município no período de 1910 a 1960.

 

A primeira fase da pesquisa no contexto da ditadura aconteceu entre os anos 2004 e 2005, com o apoio do PIBIC/CNPq/UFCG, no projeto intitulado Violência (re)velada: a fotografia e os fotógrafos em Campina Grande nos anos da ditadura (1960-1980). “Agora, nessa segunda fase, nós queremos mostrar as fotos que não puderam ser publicadas por causa da repressão”, salienta Paulo Matias.

 

“A ênfase nesta nova incursão da pesquisa recai na análise dos arquivos imagéticos não publicados no período em destaque por motivos de repressão, as imagens que permanecem ocultas, mas que já constatamos a existência, especialmente em acervos particulares dos fotojornalistas”, diz o professor.

 

De acordo com Paulo Matias, muitos fotógrafos da época da Ditadura conseguiram preservar imagens feitas por eles, que foram alvo da censura. A forma como essas fotos foram guardadas será amplamente detalhada no projeto, já que até os equipamentos dos fotojornalistas eram tomados pelos órgãos de repressão quando uma foto ‘indesejável’ para o sistema era tirada.

 

Perseguição não faltava. Os jornais eram freqüentemente visitados pelos militares e todo o material ‘vasculhado’, analisado minuciosamente. Só era publicado que eles permitiam. Cabia aos editores dos veículos de imprensa apenas obedecer. As fotos? Só as autorizadas. O jeito então, para os fotógrafos e donos de jornais, era driblar os censores e esconder o material, que hoje se encontra armazenado nos arquivos.

 

Fotógrafos vão relatar casos

 

“Nada mais fiel à história, à sua veracidade, que o relato de quem realmente vivenciou e/ou presenciou os fatos. Por isso mesmo, a participação dos fotógrafos da época será imprescindível para o êxito do projeto”, comenta o professor. Nomes de alguns profissionais que trabalhavam no período da Ditadura em Campina Grande, a exemplo de Nicolau de Castro, já foram levantados para posteriores entrevistas.

 

“Os relatos vão nos dar subsídios para concluir um material rico e intenso, sobre como eles eram tratados e em que lugares podemos encontrar fotos não destruídas pelos militares”, frisa, acrescentando que a verdadeira intenção é dar continuidade ao trabalho dentro de outro recorte temporal, buscando investigar e discutir a atuação dos fotojornalistas na cidade, no período que compreende as décadas de 60 a 80.

 

(Rosângela Araújo - Ascom/UFCG)


Data: 09/09/2008