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Crescimento do país demanda engenheiros, defende Jorge Guimarães

“Toda vez que o PIB cresce 4%, a primeira demanda é pelas áreas tecnológicas, especialmente pelas engenharias”, diz o presidente da Capes

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai priorizar os cursos de engenharia. A afirmação foi do presidente da fundação, Jorge Almeida Guimarães, durante um simpósio na 60ª Reunião Anual da SBPC.

Jorge Almeida Guimarães anunciou que o Brasil é líder em agricultura, produção animal, automação bancária, automação de eleições nacionais, automação de plantas industriais, avaliação e ciências espaciais, doenças tropicais e saúde pública, odontologia, biocombustíveis, petróleo, controle biológico de insetos e produção de papel e celulose. Mas disse que Coréia e Taiwan passaram o país em todas as áreas da engenharia, exceto as áreas de petróleo e espacial.

"Por isso as engenharias são prioridade para a Capes agora. Precisamos mudar esse quadro", afirmou.

Outro problema a ser atacado pela fundação é a concentração de cursos de engenharia em uma determinada região do país. "A maior concentração de engenharias é no Sudeste. Como desenvolver o resto do país? Toda vez que o PIB cresce 4%, a primeira demanda é pelas áreas tecnológicas, especialmente pelas engenharias", explicou.

"A pós-graduação tem registrado um crescimento extraordinário. Mas a presença de cursos no Sudeste ainda é muito maior do que no resto do país. O desafio da Capes é capacitar pessoas em suas próprias regiões".

De acordo com um levantamento divulgado na semana passada, O Brasil é o 15º país no ranking mundial da produção científica. No ranking de citações é o 24º e no de fator de impacto é o 25º. Mas o presidente da Capes ressalta que o investimento brasileiro está aquém do investimento estrangeiro no setor.

"A maioria dos países que ficaram à frente do Brasil em termos de produção científica investe, pelo menos, 3% do seu PIB em pesquisas. Já o Brasil aplica 1% do PIB. Graças a um trabalho desenvolvido pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, essa verba deve subir para 1,5% do PIB", revelou Jorge Almeida Guimarães.

Segundo o presidente da Capes, o Brasil possui 2,8% da população mundial e representa 20% da população mundial na Ciência, um número bastante satisfatório proporcionalmente.

"De 1981 a 2007, a produção científica no Brasil cresceu dez vezes. Enquanto que, no mesmo período, o crescimento da produção científica mundial foi de duas vezes", contou.

Em relação ao número de citações e publicação de pesquisas brasileiras, Jorge Almeida Guimarães citou o preconceito ainda enfrentado por pesquisadores daqui.

"Nós publicamos muito em revistas e publicações científicas de peso. Mas ainda enfrentamos muito preconceito. Sei de pesquisadores que tinham que enviar suas pesquisas para as revistas nos Estados Unidos através de colegas brasileiros que moravam lá. Eles mandavam os colegas receberem e colocar de novo no correio de lá, porque assim o envelope teria o carimbo do correio americano. Os envelopes com o carimbo do correio brasileiro nem eram lidos. Jogavam fora", disse.

Jorge Guimarães diz que há descobertas recentes de pesquisadores brasileiros que são importantíssimas, virando referência no mundo científico internacional. Mas descartou as chances do país abocanhar o grande prêmio do mundo científico.

"Nosso sistema não foi feito para ganhar Prêmio Nobel. Projeto experimental não ganha Prêmio Nobel. Os cientistas que ganham o prêmio têm 200 pós-doutores trabalhando para eles. Aqui no Brasil ninguém tem isso. Tem no máximo dois pós-doutores", opinou.

"A ousadia de propor um projeto dessa envergadura não está proibida. Conheço um pesquisador que falou: não conheço nenhum projeto de altíssimo nível que tenha sido proposto ao CNPq ou outra agência e não tenha sido aceito. É verdade. Cabe aos pesquisadores organizar e propor".

O pesquisador citou o exemplo de uma iniciativa para tentar estimular a inovação através de parcerias entre o setor público e privado. Capes, CNPq e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio fizeram um edital de fluxo contínuo desde dezembro do ano passado. A intenção era fazer as universidades trabalharem em conjunto com empresas em pesquisas, com previsão de renúncia fiscal de R$ 150 milhões.

"Pergunta quantas propostas recebemos... Só tivemos um projeto até agora, em Minas Gerais, com a Gerdau, para pesquisa de aços. Nem a universidade acordou, nem as empresas", lamentou.

(SBPC)


Data: 17/07/2008