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Conselho Nacional de Secretários de Educação vai propor mudanças no currículo do ensino médio

Especialistas se reuniram em São Paulo, na última semana, para debater sobre o ensino médio brasileiro. Durante o seminário Balanço e perspectivas do ensino médio no Brasil, promovido pelo Observatório da Ação Educativa. Representantes do Ministério da Educação, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), pesquisadores e professores apresentaram um panorama sobre a realidade dessa etapa da educação e apresentaram reivindicações juvenis.

 

A primeira conclusão dos estudiosos é a de que a etapa, quase esquecida pelas políticas públicas, ainda apresenta inúmeros desafios. Atualmente, mais de 8 milhões de jovens freqüentam o ensino médio.

 

Porém, desse total, apenas 44% estão na idade considerada adequada para essas séries (entre 15 e 17 anos). Os índices de reprovação chegam a 12,7% e de abandono, 13,3%. A necessidade de trabalhar e a falta de atrativos na escola são apontadas como algumas das causas para a defasagem e a evasão dos alunos. A sala de aula não consegue dar conta dos anseios da juventude que freqüenta à escola.

 

Segundo Maria Nilene Badeca da Costa, vice-presidente do Consed na região Centro-Oeste, no final de julho, os secretários de Educação vão se reunir e discutir possíveis reformas no currículo do ensino médio. “Precisamos tornar a escola mais interessante para que o jovem não se evada. Os números mostram a necessidade de consolidarmos as políticas públicas para essa etapa, fortalecermos a gestão educacional, aumentar a qualidade de ensino, investir em materiais didáticos e tecnologia”, afirmou.

 

Nilene acredita que uma boa saída para atrair os jovens para a escola seria aumentar a jornada de atividades diárias. Com isso, além do conteúdo formal, seria possível investir em projetos de formação profissional. Para Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é preciso oferecer múltiplos caminhos aos estudantes. “Alguns alunos quer se preparar para a universidade. Outros querem ingressar no mercado. O desafio do país é oferecer alternativas a todos eles”, ponderou.

 

O professor da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Ibañez Ruiz, ressaltou a necessidade de se encontrar maneiras de suprir a carência de professores no país, especialmente da área de exatas. Ela sugere, por exemplo, a criação de incentivos para que educadores aposentados voltem a dar aulas e os que pensam em se aposentar permaneçam em sala de aula. “O que me angustia é que as medidas a curto prazo não são pensadas. Parece que o MEC não se sente responsável”, protestou.

 

Voz para a juventude

 

Apesar de o tema ser de tanto interesse aos jovens, eles eram raros no auditório onde aconteceu o seminário. Dênia Romão Ferreira, 17, Esdras Jonatas dos Santos, 19, Fabiano de Magalhães, 17, Renato de Oliveira, 19, e Elias Lopes, 17, participaram de um seminário pela primeira vez. Para eles, faltou ouvi-los durante o encontro. “Acho que esse debate deveria ser aberto à comunidade. Apenas um grupo teve essa oportunidade. A juventude precisa ser ouvida também”, ressalta Esdras.

 

Os jovens lamentam também a falta de interesse dos colegas em exigir mudanças na escola pública. “Infelizmente são poucos os estudantes que participam desse tipo de iniciativa. Faço de tudo para que os meus colegas lutem pelas coisas, se engajem nas atividades da escola, mas eles não se interessam”, reconhece Dênia. Os cinco ressaltaram que o ensino médio precisa mudar. Para eles, faltam atividades práticas nos colégios, preparação para o vestibular e orientação profissional. “Deveríamos ter aulas mais dinâmicas e sermos mais preparados”, argumenta Elias.

 

Sérgio Haddad, coordenador da Ação Educativa, destacou a importância de que a juventude seja ouvida em definições futuras para o ensino médio. “As propostas vindas do poder público e as experiências concretas estão muito distantes. O trajeto para essa etapa ainda é pouco visível, mas precisamos trabalhar com a idéia de múltiplos caminhos, determinados pelos próprios alunos”, disse.

 

(Correio Braziliense)


Data: 30/06/2008