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Qualidade do ensino médio não avança

Índice aponta que melhora se deu nas turmas do fundamental; com isso, País atinge metas previstas para 2009

O Brasil conseguiu melhorar a qualidade da educação pública nos primeiros anos do ensino fundamental, mas não avançou nos resultados do ensino médio.

Todos os Estados, com exceção de Minas que não cresceu nem caiu, tiveram aumento em seu Índice de Desempenho da Educação Básica (Ideb) de 2005 para 2007 entre 1ª e 4ª série, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC). Porém, oito deles registraram queda na nota no ensino médio e, em outros sete, o índice permaneceu inalterado.

'É como se fosse uma geração perdida, conseqüência de mais de uma década de políticas educacionais equivocadas', diz a educadora Maria Sylvia Bueno, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Marília.

Para
ela, esses alunos são os 'filhos' das políticas de correção de fluxo aplicadas nos anos 90, ou seja, diminuir a repetência para que os alunos estudem na série considerada correta para a idade. 'Elas tinham como foco a correção desse problema, mas foram aplicadas sem medidas pedagógicas apropriadas.'

Para os alunos, agora, a expectativa é de algum tipo de projeto futuro, seja em cursos técnicos ou outro tipo de formação para o trabalho. 'Tem que se pensar como esses estudantes podem ser integrados em outro momento, porque esse já foi perdido para eles', analisa Helena Coharik Chamlian, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ela, existe uma soma de fatores que tornam o ensino médio um desafio mais complexo para as políticas públicas: a necessidade de uma formação diferenciada do professor, a formulação de um currículo que dialogue com a realidade do jovem e a preparação para o mercado de trabalho.

O antigo colegial, hoje ensino médio, é visto no País como o principal desafio da educação atualmente. Enquanto quase todas as crianças de 7 a 14 anos estão na escola, entre os adolescentes do ensino médio o índice está em cerca de 40%. E as taxas de abandono, em vez de cair, estão crescendo.

Apesar da preocupação com o ensino médio, os educadores são unânimes em afirmar que é melhor para a educação brasileira que o avanço esteja ocorrendo na base (1ª a 4ª série). Para a especialista da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello, fica claro que Estados e municípios têm investido mais em políticas públicas voltadas para o período da alfabetização do que para o ensino médio.

'De certa forma, investir no ensino médio é remediar um problema e investir na 1ª a 4ª série é prevenir', explica. Em dez Estados, o Ideb aumentou em mais de 15% nos primeiros anos do fundamental.

O Ceará, por exemplo, aumentou seu Ideb de 3,2 para 3,8 de 1ª a 4ª série (18,7%) e de 3,1 para 3,5 de 5ª a 8ª série (12,9%). No ensino médio, no entanto, o crescimento foi de apenas 0,1 ponto (a escala vai de 0 a 10). 'Sabemos que as dificuldades de aprendizagem são cumulativas e por isso os problemas são maiores no fim da educação básica', diz a secretária da Educação do Ceará, Izolda Cela.

Os avanços das primeiras séries do fundamental podem ser notados principalmente no Nordeste, cujas notas de 1ª a 4ª dos Estados juntos cresceu 20% com relação a 2005. Por outro lado, o ensino médio aumentou só 3%. Apenas o Sudeste registrou crescimento maior entre 5ª e 8ª série com relação aos outros dois níveis. A maior média entre os níveis de ensino no Brasil também foi a de 1ª a 4ª, com 4,2 ante 3,8 para as turmas de 5ª a 8ª e 3,5 no ensino médio.

Grande desafio

O próprio Ministério da Educação revela preocupação com o ensino médio. Não só esse nível de ensino tinha o menor Ideb, como sua meta, proporcionalmente, também era menos exigente, já que o ponto de partida era mais baixo.

Mesmo assim, os resultados foram ruins. 'O ensino médio é o grande desafio. Apesar da meta de 2009 também ter sido cumprida, a exigência era menor e muitos Estados não conseguiram bons resultados', lembrou o ministro da Educação Fernando Haddad.

A expectativa do ministério é que a nova geração, que vem trazendo resultados melhores das séries iniciais - e que em 2007 já conseguiu melhorar um pouco o índice de 5ª a 8ª série - comece a chegar ao ensino médio nos próximos anos e eleve as notas.

Mesmo assim, Haddad considera que é necessário um investimento específico para esse nível. 'O ensino médio é outra etapa, com características diversas. Necessita outras medidas, outro tipo de investimento', disse, lembrando que só recentemente se passou a distribuir livros didáticos para esses alunos. Projetos de lei que ampliam merenda e transporte esperam aprovação pelo Congresso.

O Ideb de cada nível de ensino é calculado com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), da Prova Brasil e das taxas de aprovação, repetência e evasão coletadas pelo Censo Escolar. Esse foi o segundo ano em que o Ideb foi divulgado. Além do índice, o MEC estabeleceu metas que devem ser alcançadas, de dois em dois anos, até 2021.

Número

40% É o índice de jovens que estão cursando o ensino médio, enquanto quase todas as crianças de 7 a 14 anos estão na escola

Norte e Nordeste

Apesar de os Estados do Norte e Nordeste do País terem sido os que mais proporcionalmente aumentaram suas notas, Sul, Sudeste e o Distrito Federal continuam no topo dos rankings do Ideb. Com pelo menos um ponto acima das médias dos outros Estados, Distrito Federal, Paraná, São Paulo e Santa Catarina lideram nos três níveis de ensino, revezando-se entre as primeiras posições.

No ensino de 1ª a 4 série, as escolas do Distrito Federal e do Paraná tiveram Ideb 5 - o melhor do País e apenas um ponto abaixo da média estimada pelo Ministério da Educação do que seria um índice comparável ao dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De 5ª a 8ª séries, Santa Catarina e São Paulo são as melhores e, no ensino médio, o Distrito Federal volta à liderança.

Mesmo assim, isso não quer dizer que as redes estejam próximas de países desenvolvidos ou que suas escolas tenham um desempenho homogêneo. Pelo contrário, a média oculta distorções importantes do sistema.

No Distrito Federal, por exemplo, estudantes do Colégio Militar, tradicionalmente com boa qualidade de ensino e com alunos selecionados, puxam as notas para cima. Em São Paulo, são os estudantes das escolas federais técnicas, que também passam por um vestibulinho, quem têm desempenho bastante alto, semelhante aos das melhores escolas particulares.

Além disso, o crescimento nesses Estados foi muito pequeno, ficando no máximo em 5%, enquanto os do Nordeste atingiram crescimento de até 32% - fato talvez explicado por eles já estarem num patamar mais elevado, o que exigiria outros tipos de ações para mudar seu perfil.

'Quando você está muito ruim, qualquer mudança faz diferença. É mais difícil seguir melhorando quando as notas estão um pouco mais altas, as mudanças têm de ser mais significativas', explica José Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Minas, Rio e Espírito Santo tiveram os crescimentos mais baixos no Ideb - o primeiro foi o único a não cumprir a meta de 2007 e os dois últimos tiveram queda no ensino médio. Espírito Santo, além de tudo, foi responsável pela queda mais drástica no ranking, caiu de 1º para 8º lugar na lista dos melhores Estados em ensino médio.

As notas em Minas provocaram surpresa. A Secretaria de Estado da Educação solicitou ao ministério acesso aos dados que geraram o Ideb. 'Esse resultado é surpreendente para nós mesmos', afirmou o secretário-adjunto da Educação, João Silocre, que ressaltou o esforço constante da administração estadual. Segundo ele, a experiência de desenvolvimento das séries estaduais de Minas vem sendo copiada por outros Estados. 'Estamos próximos de chegar à nossa meta de ter toda criança lendo aos oito anos.'

Segundo a secretaria, técnicos da Diretoria de Avaliação da Educação Básica do Inep informaram que ainda está sendo feita a análise final e o estudo da 'consistência' da base de dados utilizada para calcular o Ideb. 'Se os dados não estão com qualidade suficiente, por que divulgar para a imprensa?', questionou Silocre.

Porém, foram dois Estados da região Norte que uniram baixos patamares com pouca capacidade de crescimento. De acordo com o Ministro da Educação, Fernando Haddad, Pará e Amapá, por exemplo, estão despertando preocupações. 'São os dois Estados que merecem atenção, que já vêm de níveis difíceis e não avançaram como os outros', afirmou Haddad, que chamará os governadores para uma conversa.

Número

32% Foi o maior crescimento do Ideb registrado em Estados do Nordeste entre os dois levantamentos divulgados pelo MEC

(O Estado de SP, 12/6)


Data: 16/06/2008