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Curso isolado tem melhores notas

Instituições de ensino médico, com hospital e rede de atendimento, ficam entre as mais bem colocadas no Enade

Faculdades isoladas de Medicina têm melhores notas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) do que universidades públicas e particulares. Ou seja, as instituições voltadas apenas para o ensino médico, com complexo hospitalar próprio e rede de atendimento para a população local, se diferenciam das demais. O exame é uma das etapas da avaliação do ensino superior feita pelo Ministério da Educação.

A constatação aparece em estudo elaborado a partir dos resultados do Enade 2004, quando ingressantes e concluintes em cursos de Medicina foram avaliados pela primeira vez nesse exame. O trabalho é do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação. Para elaborar o levantamento, as instituições foram separadas por organização acadêmica, categoria administrativa e tempo de criação do curso.

A presença de um complexo hospitalar próprio ou conveniado, com atendimento ambulatorial que seja referência na região, passou a ser, desde o final do mês passado, uma das exigências do MEC para abertura ou renovação dos cursos de Medicina. Adotadas pouco antes de o ministério divulgar a lista dos 17 cursos da área que serão supervisionados por causa de notas ruins no Enade, as novas regras foram criticadas pelas associações de faculdades particulares, mas defendidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Motivação

"Queríamos descobrir se há uma especificidade do ensino médico que essas instituições, mais antigas, que surgiram dentro de hospitais, com estrutura diferenciada, possam atender com mais competência. Os resultados mostram que há", explica Roberto Leal Lobo e Silva Filho, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo. "Isso nos surpreende porque, geralmente, as universidades formam melhor os alunos em áreas diversas do que as faculdades isoladas", diz.

Pelos resultados do levantamento, as faculdades isoladas de Medicina, chamadas no Enade de centros de educação superior, têm resultado médio de 4,06 pontos e estão acima das notas obtidas por universidades (3,66), centros universitários (3,6) e faculdades integradas (3,55). Desse modo, estão também acima da média de todas as instituições da área médica, que ficou em 3,77 pontos (em uma escala que vai até 5 pontos).

Quando comparadas apenas às universidades públicas, a diferença continua. Nesse quesito, estudantes das faculdades isoladas estão também acima das notas dos alunos de universidades federais (que tiveram média 3,88). Em seguida, aparecem as instituições privadas (3,55) e, por fim, as estaduais (3,2). Na edição do Enade 2004, as três universidades estaduais de São Paulo - USP, Unicamp e Unesp - optaram por não participar, portanto, não estão no trabalho.

 "É um resultado raro. Indica que talvez haja mesmo particularidades no ensino de Medicina, como defendem os especialistas da área, que uma organização diferente permite contemplar melhor", explica o outro autor do estudo, o físico Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física da USP. "É também um dado polêmico, porque mostra que essas instituições estão preparando melhor os seus alunos, pelo menos de acordo com o Enade, do que as universidades públicas e particulares", diz.

Um dos exemplos desse tipo de instituição é a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, na região central da cidade. Tradicional, e fundada dentro do hospital, o vestibular da faculdade é um dos mais concorridos. "O aspecto mais importante para a formação de um médico é a existência de um bom hospital, com laboratórios, que seja próprio ou integrado à escola médica", afirma Ernani Rolim, diretor da faculdade.

Segundo ele, sem a existência de um bom sistema hospitalar e que esteja aberto para atender à comunidade, é impossível oferecer ensino médico de qualidade. "Outro ponto é a existência de um corpo docente diferenciado, experiente e voltado para o ensino e o atendimento da população", afirma.

Outro exemplo em São Paulo é a Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ligada ao Hospital São Paulo. Formada por médicos que saíram da USP há cerca de 70 anos, ela se transformou em federal nas últimas décadas, mas manteve sua estrutura voltada para a área médica até o ano retrasado, quando começou expansão abrindo um novo câmpus com outras áreas do conhecimento.

Expansão

O número de cursos de Medicina sofreu uma rápida expansão nos últimos anos, passando de 80, em 1994, para 175 até este ano. Para tentar conter o crescimento e melhorar a qualidade, o MEC anunciou as novas normas para abertura e recredenciamento, além de divulgar a lista dos cursos sob supervisão. Esses cursos deverão apresentar relatório da situação de toda a estrutura física e docente, além de apontar um plano de melhorias.

Entre eles há quatro universidades federais: a da Bahia, Pará, Amazonas e Alagoas. "Não adianta ser pública, estadual ou federal, se você não oferece estrutura adequada para se manter e desenvolver", diz o coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, Genário Barbosa.

 

(O Estado de SP, 2/5)


Data: 02/05/2008