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Audiência pública indica acordo pró-Reforma Ortográfica

Reunião em Portugal sinaliza adesão do país à unificação da língua

 

Nesta semana, membros da COLIP (Comissão de Língua Portuguesa) do MEC (Ministério da Educação) e lingüistas da ABL (Academia Brasileira de Letras) estiveram em Lisboa, Portugal. O objetivo da viagem foi participar de uma audiência pública promovida pela comunidade portuguesa junto a diversos órgãos e institutos de educação e cultura para discutir a adesão de Portugal à proposta de unificação da ortografia da Língua Portuguesa.

 

De volta ao Brasil, o pesquisador associado do IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística), membro da COLIP e do IINL (Instituto Internacional da Língua Portuguesa), Gilvan Müller de Oliveira, informa que a audiência pública da Assembléia da República sobre o acordo ortográfico gerou alguns confrontos. O maior deles, travado pelo escritor Vasco Graça Moura e o professor da Universidade de Coimbra, Carlos Reis.

 

Segundo Oliveira, o escritor Vasco Graça Moura, maior opositor do acordo por parte de Portugal, defendeu a idéia de que a unificação só reflete o interesse empresarial brasileiro e é prejudicial para Portugal. Por sua vez, fontes próximas garantem que Carlos Reis não concorda com o posicionamento de alguns ícones portugueses de que o Brasil seja inimigo. O professor teria ressaltado inclusive que vê o acordo como uma ação estratégica para a promoção da gestão conjunta da Língua Portuguesa.

 

Na opinião de Oliveira, as longas palmas que Carlos Reis recebeu durante seu discurso mostraram claramente o apoio da platéia ao acordo. Segundo Oliveira, na reunião também ficou claro o medo de alguns ícones portugueses de que Portugal perca a precedência sobre os países da comunidade lusófona na África e Ásia por causa de um movimento brasileiro. Contudo, o pesquisador acredita que há claros sinais do governo para a aprovação da unificação da ortografia da língua. "Não deveremos ter surpresas, ainda que se proponha um longo prazo de transição, agora estamos na sugestão de seis anos - somados aos 18 que o acordo comemora este ano chegamos à cifra de 24 anos de espera - a votação deve ocorrer em maio", aposta ele.

 

O acordo de unificação foi proposto em 1990 pelos países da comunidade lusófona (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal), anos depois, ratificado apenas por Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Princípe. Até hoje, porém, embora legalmente já pudesse estar em vigência nos três países onde foi ratificado, o acordo não foi executado pelo entendimento de que a participação de todos os países membros do grupo é fundamental para o sucesso da unificação.

 

Portugal ainda não ratificou o acordo porque sugere que se trata de um modelo que descaracterizaria a língua portuguesa, já que a maior parte das regras a serem adotadas após a reforma parte do idioma utilizado pelos brasileiros. Para o Brasil, Portugal adota uma postura inflexível em virtude das pressões de nacionalistas que querem polemizar o acordo ao alegar que o Brasil teria interesse político por trás da reforma, quando pensam em enriquecimento da cultura por meio de uma ampla difusão do idioma.


Data: 15/04/2008