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Rio tem oito das 20 melhores escolas do país

Os tradicionais colégios de São Bento e Santo Agostinho conseguiram as melhores colocações no Enem

Dos 20 melhores colégios do país no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), oito estão na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados do exame por escola estão disponíveis desde ontem no site do Inep (instituto de avaliação e pesquisa do Ministério da Educação) e mostram também que, nessa seleta lista, encontram-se quatro de Minas Gerais e três de SP.

As três escolas do país com melhor média são bem conhecidas de cariocas e paulistas. No Rio, o tradicional colégio de São Bento foi o que teve o melhor desempenho (82,96 pontos numa escala de zero a cem), seguido do também carioca Santo Agostinho (82,04 pontos) e do paulistano Vértice (81,67).

O quarto colocado vem de um Estado que não costuma aparecer entre os melhores quando se trata de indicadores educacionais: o Colégio Helyos, de Feira de Santana, na Bahia. Também constam do ranking das 20 melhores dois colégios do Piauí (o Instituto Dom Barreto, o melhor no Enem anterior, e o Educandário Santa Maria Goretti) e um de Pernambuco (o Colégio Equipe).

Apenas duas instituições públicas estão nessa lista, mas, mesmo assim, são colégios de aplicação vinculados a Universidades federais: o CAp da UFRJ e o da Federal de Viçosa. Esta é a segunda etapa de divulgação dos dados do Enem de 2007. Em novembro passado, o MEC já havia divulgado que a média dos estudantes da rede pública estava muito abaixo da dos da rede privada: 48 pontos ante 69 na prova objetiva e 55 ante 63 na redação.

Analisando apenas as melhores escolas públicas, fica claro que a rede federal destoa das demais. Das 20 com melhores médias no exame, 17 são federais. Novamente o Rio é o Estado com o maior número de instituições nessa lista, beneficiado pelo fato de a rede federal ser maior no Estado. Das três estaduais da lista, duas são vinculadas a Universidades: o Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio e o Técnico de Campinas, da Unicamp.

Para Paulo Fábio Salgueiro, que já coordenou o vestibular da Uerj e é subsecretário estadual de Educação, não é possível determinar, nas escolas do Rio, uma característica única que explique o bom resultado dessas instituições. Ele lembra, porém, que a origem social dos alunos dessas instituições explica bastante o seu resultado.

"São alunos de nível cultural muito elevado, mas esses colégios valorizam também o professor e pagam bons salários, o que mantém uma equipe docente na instituição por muitos anos, acumulando conhecimento. Não é à toa que os colégios públicos que se aproximam dos melhores da rede particular têm perfil semelhante: clientela específica, bons salários e planos de carreira atrativos", diz Salgueiro.

Apesar de ter as melhores escolas, quando se analisa a média da rede particular, o Estado do Rio não é o que aparece como melhor. Nas provas objetivas, por exemplo, a rede particular que se saiu melhor foi a do Distrito Federal (73 pontos, na média), seguida de Minas (72), Paraná (71) e SP (71).

Ensino técnico se destaca entre as públicas

Dentre o mau desempenho das escolas públicas do país, algumas "ilhas de excelência" se destacam. São as escolas de ensino técnico e os centros de aplicação, ligados às Universidades federais.

Em comum, têm um corpo docente com melhor formação do que o restante do sistema público. Um exemplo: nas escolas técnicas paulistas (mantidas pelo governo estadual), que entraram na lista das melhores da capital, todos os professores têm nível superior, alguns já com mestrado.

Outra vantagem dessa rede é que, como a demanda por vagas é maior do que a oferta, as escolas podem selecionar os melhores estudantes. Nas escolas técnicas de SP, a concorrência passa dos 20 por vaga (semelhante a vestibulares de Universidades públicas).

No Colégio de Aplicação da UFRJ, o melhor público na média das provas objetiva e de redação, a preocupação em mudar o perfil do aluno fez com que a direção trocasse os vestibulinhos por sorteios em 1999. No entanto, no ensino médio, antes do sorteio, é feita uma prova de nivelamento.

A diretora Celina Costa diz que já é possível perceber alguma mudança no perfil do aluno. Alguns, conta ela, relatam dificuldade até para trazer um lanche de casa. Costa afirma, no entanto, que a localização da instituição, na Lagoa (zona sul do Rio), dificulta um pouco a entrada de mais alunos de perfil socioeconômico menor.

Para ela, os modelos dos colégios de aplicação não são aplicáveis integralmente ao ensino público, já que, por definição, são instituições vinculadas a Universidades e que se beneficiam desse vínculo.

Algumas características do sucesso dessas escolas, no entanto, podem, em sua avaliação, ser adaptada. Entre elas Regina destaca a dedicação exclusiva do professor a uma só escola. "Não temos laboratórios na escola e o prédio da escola se assemelha a muitos outros de colégios públicos”.

MEC reconhece falhas do exame

Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio é uma prova voluntária, em que os estudantes se inscrevem por conta própria e de forma independente. A cada ano, o número de alunos varia, assim como o grau de dificuldade da prova.

Por isso, o Ministério da Educação, apesar de divulgar os resultados por Estado e município, diz que o exame não pode ser usado como avaliação perfeita do sistema e nem seus resultados serem comparados fielmente com anos anteriores.

A prova de 2007 é considerada um exemplo das diferenças no nível de dificuldade. O resultado final teve a maior média dos últimos cinco anos. Na parte objetiva, a média de 2007 chegou a ser 15 pontos maior que a de 2006.

Outro problema é a amostra. Como a prova é voluntária, não há controle dos alunos para que sejam representativos do universo total de estudantes do ensino médio no país. Muitos dos que fazem a prova até já terminaram a escola há vários anos.

Para fazer a divulgação dos resultados por escola, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela prova, faz uma "correção de participação" da nota. Escolas com menos de 10 alunos participantes não recebem uma média. Nas demais, o Inep usa um método estatístico para evitar as distorções causadas pela participação de um número pequeno de estudantes, na comparação com o total de alunos da escola.


(O Estado de SP, 4/4)


Data: 04/04/2008