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Poemas de Gregório de Matos, o Boca do Inferno, estão no Domínio Público

Dizem que antes de morrer, Gregório de Matos pediu a presença de dois padres. Rodeado pelos representantes da Igreja, ele teria dito que morria como Jesus Cristo, crucificado entre dois ladrões. Real ou não, o episódio retrata a personalidade do poeta, que ficou conhecido como “Boca do Inferno”. Crítico feroz da igreja católica e dos costumes, Gregório de Matos teve a coragem de fazer poemas quase eróticos e de questionar o catolicismo na época em que a Inquisição mandava homens e mulheres para a fogueira.

 

Apesar de escritos há mais de três séculos, seus poemas e crônicas de costumes continuam atuais. Disponível no Portal Domínio Público, sua obra pode ser acessada gratuitamente. São textos como o soneto À Bahia, dedicado à cidade onde o poeta nasceu. A obra é uma crítica às pessoas influentes de então. “A cada canto um grande conselheiro / Que nos quer governar cabana e vinha, / Não sabem governar sua cozinha, / E podem governar o mundo inteiro”. Voraz, satírico e implacável, Matos, em seus textos, não perdoa padres, papas ou freiras, motivo que o levou a ser denunciado em 1685 ao tribunal da Santa Inquisição. O processo não seguiu adiante, mas em 1694 o poeta foi deportado para Angola, onde permaneceu por um ano.

 

Para justificar a língua feroz, o literato escreveu Aos Vícios, poema em que fala de si. “Eu sou aquele que os passados anos / Cantei na minha lira maldizente / Torpezas do Brasil, vícios e enganos”. Com sua “lira maldizente”, Gregório viveu uma vida tão tumultuada que foi descrita como “espantosa” por um de seus biógrafos. Seus versos o levaram a ter muitos inimigos importantes.

 

O Boca do Inferno desafiava, inclusive, seus leitores. Ainda em Aos Vícios, ele critica os que calam, duvidando de suas boas intenções. “Se souberas falar, também falaras / Também satirizaras, se souberas / (...) / Há bons, por não poder ser insolentes, / Outros há comedidos de medrosos, / Não mordem outros não ---por não ter dentes.”

 

Todos os trechos acima foram retirados do Portal Domínio Público, uma biblioteca digital desenvolvida em software livre. O portal foi lançado em  novembro de 2004 com um acervo inicial de 500 obras e hoje tem mais de 40 mil. Lá, os interessados podem entrar em contato com mestres da literatura universal como Shakespeare ou ler textos descontraídos como a literatura de cordel. A pesquisa sobre Gregório de Matos lista 33 obras do autor.

 

Cronologia

 

Nascido na Bahia em 1636, Gregório de Matos é considerado um dos melhores poetas barrocos do Brasil. Filho de pai português e mãe baiana, nasceu em família abastada e estudou em Coimbra, onde formou-se em Direito em 1661. No mesmo ano, casou-se em Lisboa com D. Michaela de Andrade, pertencente a uma família de magistrados. Em 1672 foi nomeado procurador da Bahia em Lisboa, só retornando ao Brasil 32 anos depois de ter partido para estudar em 1683. Dois anos mais tarde, foi denunciado ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. Anos depois ele se casaria pela segunda vez. Exilado, em 1694, foi para Angola e retornou ao Brasil no ano seguinte, sem poder pisar na Bahia, estado onde nasceu. Morreu em 1695, em Recife.

 

(Ana Guimarães - MEC)


Data: 03/04/2008