Para Andifes, expansão das federais não afeta qualidade Reuni pretende aumentar de 149.042 para 227.260 as vagas nas federais O aumento no número de alunos matriculados nas universidades federais não significará queda na qualidade do ensino. Não apenas o governo pensa assim como também as próprias universidades. O crescimento na relação professor/aluno é uma das metas previstas no Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Essa relação está atualmente na faixa de 12 alunos por professor e a proposta é chegar até
Clique aqui e veja as principais diretrizes e metas do Reuni. "Além da verba para contratar mais professores e técnicos administrativos que dêem sustentabilidade ao projeto, acredito que o número de alunos por professores é razoável para a realidade das universidades federais. Ainda que haja um aumento expressivo, os professores vão dar conta e os acordos serão integralmente cumpridos", disse Ciloni. O Reuni é um braço do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) do governo federal, que, com ele, pretende, entre outras coisas, reduzir a taxa de evasão nas federais, aumentar número de vagas nessas instituições e promover modificações nas estruturas acadêmicas. No Acordo de Metas assinado em Brasília, a questão da evasão e da relação professor/aluno são dois duas das principais condições a serem cumpridas para que as universidades tenham acesso ao dinheiro investido. O Reuni foi desenvolvido para trabalhar a partir de três pilares: melhorar o acesso às federais, garantir a formação ao combater a evasão universitária e aumentar a qualidade dos cursos. Para isso, o governo federal quer melhorar o aproveitamento das estruturas físicas e de recursos humanos existentes nas suas universidades. Esses propósitos se traduzem Para dar conta dessa nova demanda o governo vai investir R$ 2 bilhões para o período que vai de Para atender as novas demandas, a contratação de professores de Ensino Superior também passa a ser uma meta quando se fala em tantos aumentos nos cursos e nas vagas disponíveis nas federais. Por isso mesmo, o Reuni estabelece a contratação pelas federais de 13.276 de professores. De acordo com Ciloni, o valor do investimento é suficiente para promover as mudanças necessárias ao alcance das metas propostas no Reuni. "Os R$ 2 bilhões a mais foi um verba proposta pelas próprias universidades, não foi o governo que a estabeleceu. Nós fizemos as contas e estabelecemos os critérios. Creio que, com certeza, com a economia estabilizada e a inflação baixa, o cenário é amplamente favorável. Claro que é preciso um acompanhamento para algum reajuste. Mas nós fizemos os cálculos dentro daquilo que consideramos necessário para o governo atender", declarou o dirigente. O Secretário de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), Ronaldo Mota, garantiu que além do dinheiro investido, haverá uma modificação no orçamento das federais para contemplar o custeio que os novos cursos e alunos implicarão para as federais. Esse valor, segundo Mota, pode ultrapassar os R$ 2 bilhões investidos, o que elevaria o orçamento das federais para algo acima dos R$ 12 bilhões até 2012. Mota negou ainda que as metas para diminuição da evasão nas federais signifiquem a adoção de sistemas que facilitem a aprovação dos estudantes para que assim, eles permaneçam estimulados a manter o curso até o fim. O secretário diz que essa é uma "leitura equivocada" da meta. Segundo ele, respeitada a autonomia das instituições, há "maneira simples" de cumprir as metas de evasão, que o governo pretende que caiam a 10% até 2012. Hoje, esse índice de evasão gira, segundo projeções do MEC, na faixa dos 40%. "Você pode estimular a transferência de alunos para cursos onde há evasão. Especialmente para alunos de instituições particulares, que passariam por um processo eletivo junto ao colegiado do curso O secretário explicou que a distribuição do investimento nas federais foi pensada de maneira a proporcionar às menores instituições maiores possibilidades de crescimento. Assim, as universidades classificadas como de pequeno porte, aquelas com menos de mil professores, têm a possibilidade de explorar até 50% do valor de seu orçamento dentro da verba investida. As maiores poderão explorar até 20% do valor de seu orçamento. "Isso dará às menores universidades a oportunidade de crescer proporcionalmente mais", diz o secretário. Ciloni comentou um ponto que foi alvo de crítica feita pelo ex-ministro da Educação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristóvam Buarque, de que o Reuni não resolverá o problema do acesso ao Ensino Superior no longo prazo. Para Buarque, o governo só resolve o problema do acesso ao Ensino Superior quando trabalhar na educação de base. Para Ciloni, o Reuni acabará por beneficiar o Ensino Básico e Médio. "O impacto que a expansão terá em termos de retorno para a sociedade é outra questão importante. As universidades federais estarão mais aptas para formar mais alunos e mais professores. Assim, os governos municipais, estaduais e federais terão mais mão-de-obra qualificada a sua disposição para recuperar o ensino público básico", aposta o dirigente. Para ex-ministros, Reuni não resolve o problema Com reservas, Cristovam Buarque e Paulo Renato dão crédito a projeto Do lado de fora do governo, ex-ministros enxergam o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) como uma possibilidade de resolver problemas de ordem administrativa das Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior). Por outro lado, ex-comandantes da pasta não o consideram suficiente para transformar a educação da maneira necessária para a evolução do País. De um lado, sobram críticas à falta de interesse federal para ampliar as medidas restritas às universidades para todo o sistema de ensino, como o Ensino Básico e Ensino Médio, a fim de favorecer o acesso ao Ensino Superior. Do outro, protestos à lentidão com o que governo se dirige a um novo modelo de educação como o adotado pelos Estados Unidos e a Europa (Tratado de Bolonha) que visam reformular a universidade para formar cidadãos mais críticos e com visão de mundo, em detrimento de profissionais que apenas buscam mais um lugar ao sol no mercado de trabalho. "O Reuni é um bom projeto, mas daqui a dez anos vamos olhar para nosso Ensino Superior e ver que continuamos atrasados em relação a outros continentes e países que adotaram um novo modelo de universidade que realmente trará uma transformação social como é o caso da Europa e dos Estados Unidos. Hoje, o Reuni cria medidas que pretendem organizar o trabalho das Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior) quando na verdade deveria voltar os olhos para a educação como um todo para promover uma verdadeira transformação. Não acho que o projeto é ruim. É como a lei do ventre-livre: ela era boa, mas não abolia a escravatura", destaca o ex-ministro Cristovam Buarque. Na opinião do ex-ministro Paulo Renato Souza, que chefiou o MEC na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se o governo federal não prestar atenção às mudanças que o cenário internacional faz no quesito educação, certamente ficaremos para trás. Ele acrescenta, porém, que para promover verdadeira transformação social a partir de um novo modelo de universidade, este modelo deveria ser debatido com o mercado, pois sem flexibilização na regulamentação das profissões e do perfil do profissional exigido, transformar os currículos das universidades com modelos em ciclos não seria o suficiente. "São necessárias articulações entre universidade e mercado. É preciso que os objetivos estejam alinhados para o sucesso de uma transformação com este peso. Sem esta sinalização de mudança na universidade e articulação com o mercado certamente ficaremos para trás", diz. Buarque acredita, porém, que a grande prioridade do governo federal deveria ser repensar o conceito de universidade e voltar os olhos para o grande problema da exclusão de jovens que vem da rede pública, mal formados por um ensino Fundamental e Médio decadente. Na opinião dele, ainda que a educação nestes níveis seja de responsabilidade municipal ou estadual, o governo federal, mais do que se preocupar com questões políticas e administrativas do sistema, deveria atender aos alunos para garantir amplo acesso ao Ensino Superior. "Enquanto a preocupação for atender só ao sistema que cabe ao governo e, ainda assim, uma pequena parcela como é o caso das Ifes, não veremos a transformação de que o Brasil tanto precisa", lamenta o ex-ministro. Para Buarque, ainda que modificar o conceito de universidade e interferir no Ensino Básico e Médio sejam grandes transformações, essas são bandeiras que deveriam ser levantadas pelo governo federal. Especialmente quando projetos como o Reuni são criados e tido como transformadores. "O Reuni é um bom projeto, mas que mostra outra vez a lentidão com que o governo Lula caminha para tomar decisões e propor transformações importantes do ponto de vista social. O governo não interfere nos outros níveis de educação porque isso não dá voto. Ele não tem como creditar a si o sucesso ou o fracasso dos projetos, então ele não interfere. Quem dá voto é universitário. Quem tem peso político é reitor. Enquanto isso, o ensino Fundamental e Médio continuam sucateados e os alunos excluídos. Seria preciso 'federalizar' o Ensino Fundamental e Médio e criar um Ministério para isso", opina Buarque. Entre os pontos positivos do Reuni, os ex-ministros citam o aumento da proporção de alunos por professor e das vagas a serem oferecidas no período noturno. "Na minha época essa proporção era de oito alunos por professor, conseguimos chegar até o patamar de 12 alunos, que ainda é confortável demais. Com o aumento, poderemos explorar mais o potencial dos professores e nos aproximarmos do patamar internacional. Sem dúvida, esse aumento de alunos é favorável", acredita Paulo Renato. Para Buarque, o aumento de vagas no período noturno também é outro fator positivo porque ele democratiza o acesso ao possibilitar o ingresso na universidade por estudantes que sequer pensariam em prestar vestibular, caso as vagas noturnas não existissem. "Alegro-me em dizer que em meus tempos de reitor da UnB (Universidade de Brasília) fui o primeiro a implantar cursos noturnos na universidade. Contrariei inclusive professores universitários que não aceitavam a idéia", lembra ele. O episódio na UnB serve de argumento para Buarque na defesa das mudanças que ele propõe na universidade. "Tem muito professor universitário - principalmente de esquerda - que quer mudar o mundo, mas não começa pela própria universidade. E quando tem a oportunidade, ele se nega a transformar a realidade onde vive. Hoje, os professores pensam que só falta dinheiro e isso não é verdade. É verdade, sim, que o professor universitário faz milagre com os poucos recursos que têm. É também verdade, porém, que se chovesse dinheiro na universidade ele ia virar lama porque ela também precisa se transformar", afirma Buarque. As transformações a que Buarque se refere incluem mudanças no ingresso à universidade com o fim do vestibular e a inclusão do PAS (Programa de Avaliação Seriada), como já existe na UnB, para dar mais chance ao estudante de escola pública ter acesso ao Ensino Superior. Elas incluem ainda a reforma nos currículos; mudanças na concepção de que os cursos precisam ter uma duração fixa já que, para ele, cada estudante tem um tempo para se formar; a inclusão de mais aulas à distância (mesmo em cursos presenciais); e a substituição de um diploma permanente pelo diploma provisório, a fim de estimular que o aluno continue sempre a estudar. "Tudo isso estava documentado no tempo em que eu era ministro e sequer foi debatido. Posso dizer que a universidade não tem interesse de mudar. Não existe nada mais conservador do que um professor que quer mudar o mundo, mas não muda a própria universidade", lamenta Buarque. O ex-ministro acredita que tais mudanças serviriam também como medida para reduzir a evasão, porque propõem um novo conceito de educação. Segundo ele, mais do que medidas alternativas como o PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) promovido pelo governo federal e que concede verba para alimentação, moradia além de bolsas permanência para alunos carentes das Ifes, elas permitiriam que o estudante ingressasse no Ensino Superior mais preparado e com um novo conceito de Educação. "O PNAES é excelente porque garante que parte dos excluídos tenha condições de se manter na universidade. Se pensarmos, porém, em reduzir a educação como um todo, inevitavelmente as medidas passam pela construção de uma universidade diferente", defende ele. O ex-ministro Paulo Renato Souza também acredita que mudanças no currículo e na estrutura da universidade como a adoção do ciclo básico, ainda que não reduzissem a evasão, poderiam retardá-la, porque permitiriam ao estudante uma visão mais completa de sua formação e um período maior de aprendizado antes do conhecimento prático de sua profissão. "É preciso ressaltar, porém, que isso só seria possível a partir de uma articulação com as profissões e o mercado. Do contrário a experiência não daria certo", reforça. Entenda o impacto que o Reuni terá nas IES brasileiras Reitores repercutem as ações previstas no projeto e avaliam mudanças Com a adesão de 58 instituições que integram o sistema federal brasileiro, o Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) ganhou repercussão nacional. Para refletir sobre o impacto do programa nas IES brasileiras, o Universia conversou com reitores de todas as regiões do país. Os textos foram divididos pelas regiões do país, de acordo com a localização da instituição ouvida. Para ler os textos, clique aqui. (Portal Universia) Data: 18/03/2008 |