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Cardiopata prefere remédio a mudar de hábito, diz pesquisa

Dados mostram que 61% crêem que remédio basta para resolver problema e que 40% não comem legumes e verduras diariamente

Grande parte dos pacientes com problemas cardiovasculares é sedentária, consome produtos ricos em sódio e gorduras saturada e trans- vetados pelos médicos- e acredita que os medicamentos sejam suficientes para manter a doença cardíaca sob controle.

A conclusão é de uma pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde com 3.000 pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo. Eles responderam a 70 perguntas formuladas por uma equipe de 28 nutricionistas do hospital.

Todos os entrevistados tinham algum tipo de doença cardíaca, tomavam remédio para mantê-la sob controle (anti-hipertensivo, por exemplo) e recebia orientação nutricional. "Queríamos saber quantos deles acreditavam naquilo que estava sendo orientado", explica o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, coordenador da pesquisa no Dante.

Algumas conclusões do trabalho indicaram que os pacientes estão longe de seguir o que recomendam os médicos. Por exemplo: 61% acreditam que o remédio sozinho resolve seu problema, 40% não consomem legumes e verduras diariamente, apenas 18% deles ingerem alimentos integrais e 51% são totalmente sedentários.

Segundo Magnoni, os pacientes preferem tomar o medicamento a mudar hábitos da vida. "Eles até mudam no início, mas, com o tempo, aprendem que é mais fácil tomar o remedinho e pronto."

Magnoni diz que até mesmo cuidados básicos na compra de produtos mais saudáveis são ignorados pelos cardiopatas. Sessenta por cento deles, por exemplo, não compram margarinas sem gordura trans e o mesmo percentual consome, ao menos uma vez por semana, salsichas, lingüiças e embutidos, produtos gordurosos e que possuem excesso de sal.

Entre os que fazem alguma atividade física, 45% relatam fazer exercícios três vezes por semana. A recomendação médica é de, no mínimo, 30 minutos de atividade física cinco vezes por semana.

Mudanças

Os resultados da pesquisa levaram o cardiologista a mudar a forma de orientar os pacientes cardiopatas. "Estou cada vez mais abrindo grupos de discussão com os pacientes do que salas de atendimento individualizada. No momento que você reúne um grupo, há uma discussão de várias dúvidas que, numa relação entre o profissional e o paciente, às vezes não aparecem."

A meta do médico é comprovar, no futuro, que o atendimento em grupo pode ser mais eficaz que o individual se o objetivo é a mudança de comportamento do paciente. "Todos sabem que a gordura trans faz mal e que atividade física faz bem, mas poucos fazem. A gente não consegue fidelizar o paciente nessa necessidade de mudança."

(Folha de SP, 28/2)


Data: 28/02/2008