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Estudo mostra IES que mais pesquisam no Brasil

Supremacia é de públicas, mas privadas têm bom índice de produtividade

 

Pesquisa feita pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia demonstrou que apesar das Instituições de Ensino Superior públicas dominarem a produção científica, algumas instituições particulares se destacam quando avaliadas sob o ponto de vista do índice de produtividade relativo às atividades de pesquisas. Das 176 instituições de Ensino Superior (90 públicas e 86 privadas) que, segundo o Censo 2005, realizam pesquisa no Brasil, 83 integraram o estudo - 40 federais, 14 estaduais, uma municipal e 23 privadas. Juntas, essas universidades conseguiram alcançar a marca de 81.638 trabalhos publicados, entre 2001 e 2005. E no quesito de produção científica, as instituições públicas mais uma vez saíram na frente, com 77.159 (94,52% do total) trabalhos publicados. As privadas representam apenas 5,48% (4.479 trabalhos) dessa produção.

 

(Confira na tabela as 10 instituições que mais produziram entre 2001 e 2005)

 

No entanto, o estudo calcula e aponta o índice de produtividade de uma instituição. Esse índice, que mede a eficiência da instituição, leva em conta o investimento do CNPq por trabalho publicado, o número de trabalhos publicados por doutor em tempo integral e o número de trabalhos publicados por curso de pós-graduação.

 

(Confira na tabela as 10 instituições que apresentaram maiores índices de produtividade)

 

Esses dados, segundo o coordenador do estudo e diretor da Consultoria Lobo e Associados, Roberto Lobo, comprovam que grupos pequenos também podem produzir competitivamente, alcançar índices de produtividade que os situam entre os mais eficientes nas atividades de pesquisa. A UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), por exemplo, que ocupa o 44º lugar no ranking de produtividade, passa a integrar a terceira colocação, quando o assunto é índice de produtividade. "Nossa estratégia não é investir em volume de produção e, sim, em eficiência produtiva. Nós nos preocupamos, sobretudo, com a escolha de doutores e de linhas de pesquisas", afirma o pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão da universidade, Paulo Cezar de Almeida.

 

O estudo conclui que a implantação da pesquisa em uma Instituição de Ensino Superior é possível, desde que feita a partir de um planejamento e limitada a grupos de pesquisa experientes e capazes de gerar parte importante dos recursos necessários à sustentação de suas atividades. "Falta, por parte das públicas, uma exigência de resultados, já que ganham do governo para investir em pesquisa. E por parte das privadas, bom planejamento para que possam, com os poucos recurso que têm, fazer pesquisas competitivas", declara Lobo.

 

As privadas no ranking geral

 

A primeira instituição privada a aparecer no ranking de produtividade é a PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), em 19ª colocação, com 1.035 trabalhos publicados. Segundo o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da universidade, Paulo César Duque Estrada, essa é uma boa posição, se considerar as dificuldades de investimentos que as IES privadas enfrentam. "O que coloca a PUC-Rio em vantagem em relação às demais instituições particulares do país é a sua tradição na pesquisa. Sem contar sua excelência na pós-graduação. Nenhum dos nossos cursos, exceto os recém lançados, possui uma pontuação abaixo de cinco na avaliação da Capes", defende Estrada. "Esses fatores atraem o interesse de algumas empresas, além de contribuir para que sejamos bem vistos diante das agências de fomento", declara ele.

 

A segunda colocada é a PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), com 550 publicações, que no ranking geral aparece em 28º lugar. A Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) ocupa a 5ª colocação das particulares e 44ª no geral. Posição que, na opinião da pró-reitora de pesquisa e pós-graduação da Unisinos, Ione Bentz é positiva. "Especialmente porque a universidade só tem dez anos de pesquisa e de pós-graduação, enquanto a PUCRS já atua nesse setor desde 1970 e as federais desde a década de 60", afirma ela.

 

O estudo também mostra uma forte predominância do Sudeste, com 56.729 trabalhos (69,48% da produção total), na publicação indexada por região do País. O Sul vem logo em seguida, com 13.797 trabalhos (16,90%). A representatividade das demais regiões acumula o índice de 13,6%: Nordeste com 7.506 publicações (9,20%), Centro Oeste com 2.874 (3,52%) e Norte com 733 (0,89%). "Não se pode esquecer, porém, que é no Sudeste que se concentra o maior número de instituições de ensino, bem como o maior número de doutores em tempo integral do Brasil", alerta Lobo.

 

Públicas x privadas

 

Os dados mostram uma grande distância entre no volume da produção científica entre os setores público e privado. A primeira universidade pública colocada no ranking de produtividade, a USP (Universidade de São Paulo), por exemplo, publicou 16.910 trabalhos a mais do que a PUC-Rio, instituição privada com maior número de publicações. Motivos, porém, é o que não faltam para justificar essa discrepância nos índices.

 

Historicamente, as instituições púbicas de Ensino Superior recebem mais recursos, por se tratar de um setor mais antigo e estruturado. A ditadura militar, por exemplo, favoreceu a injeção de capital quando havia grande preocupação em melhorar a formação de mão-de-obra qualificada no país e elevar o nível do conhecimento científico produzido dentro das universidades. Nesta época, o setor privado ainda era pouco representativo. Apenas no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso é que houve expansão do setor privado de educação superior, ainda assim, com o foco mais voltado para a formação profissional e não para a pesquisa.

 

Segundo Lobo, porém, outro fator que impede o crescimento vertiginoso da produção científica nas universidades privadas é o custo da produção científica. Para se ter estudos de ponta, é preciso investir pesado em infra-estrutura e pessoal de nível superior capacitado para realizar estudos científicos. Tudo isso tem um custo alto. Especialmente para as instituições privadas que sobrevivem das mensalidades pagas pelos alunos. "Fazer pesquisa não é barato: é preciso investir em infra-estrutura e em mão-de-obra qualificada. Os recursos das instituições privadas são muito limitados, já que quem paga tudo é o aluno. Se você fosse cobrar do estudante o valor necessário para fazer uma universidade de pesquisa, ele teria que pagar, no mínimo, R$ 4.000,00 por mês, algo absolutamente inviável", aponta Lobo.

 

Por essa razão é que, na maior parte das vezes, as instituições privadas que levam adiante o objetivo de investir em pesquisa buscam em agências de fomento à pesquisa os recursos necessários para tirar o seu projeto do papel. É aqui que fica evidente a discrepância entre os recursos destinados às IES do setor público em relação ao setor privado. Mais avançadas no quesito pesquisa, as universidades públicas são as grandes concorrentes que abocanham a maior parte da verba de pesquisa.

 

Segundo o presidente de Ciências e Tecnologia da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) e reitor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), José Ivonildo do Rego, isso acontece por uma diferença de perfil do próprio setor. "Não é que haja tratamento diferenciado para as instituições públicas em detrimento das privadas na concessão dos recursos, o que acontece é que as universidades mais voltadas para a produção do conhecimento levam vantagem. Hoje, 90% da produção do conhecimento está nas universidades públicas, enquanto 80% da reprodução está nas mãos das privadas. A diferença é o foco que cada uma delas tem em relação à pesquisa, o que não quer dizer que ambas não façam bem as duas tarefas", diz Rego.

 

Outra forma de angariar recursos para a pesquisa é buscar parcerias com o setor empresarial. A PUC-Rio, por exemplo, sustenta grande parte de sua produção por meio de cooperações com a indústria. Na opinião do pró-reitor, porém, a criação da lei Rouanet para a pesquisa, que propõe a aproximação das universidades públicas com o setor privado, pode colocar em 'xeque' essa estratégia. "Essa lei incentiva a parceria universidade-empresa em prol da pesquisa, o que é positivo, mas exclui deste nicho as instituições de Ensino Superior particulares. Um golpe duro, especialmente para aquelas que dão seus primeiros passos em pesquisa", alerta Estrada.

 

O caso da Repesp

 

Para driblar as dificuldades financeiras, seis instituições privadas paulistas - Univap (Universidade do Vale do Paraíba), UnG (Universidade de Guarulhos), Unicid (Universidade da Cidade de São Paulo), Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), Unicastelo (Universidade Camilo Castelo Branco) e Universidade São Marcos - se uniram para a criação da Repesp (Rede de Pesquisa do Estado de São Paulo). "A iniciativa visa criar grupos de pesquisas em áreas de interesse comum, potencializar esforços, equilibrar custos e elevar as chances dos trabalhos científicos conseguirem recursos para sair do papel", explica o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Unicastelo, Gilberto Selber.

 

A rede ainda está em fase de implementação, mas já caminha para os primeiros projetos pilotos. "No momento nós já temos um grupo formado na área de Meio Ambiente, outro em formação na área de educação e, um em estudo, na área da prevenção de doenças", descreve Selber. "Se sozinho não consigo desenvolver um trabalho por falta de recursos, por que não me unir a outras instituições em mesma situação em busca de um esforço conjunto. Ao invés de concorrermos um com outro, por que não trabalharmos em cooperação?", questiona Selber.

 

Ranking por recursos

 

O estudo do Instituto Lobo mostra ainda que nem todas as instituições que mais recebem recursos estão entre as que mais publicaram. Este é o caso da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), UnB (Universidade de Brasília) e a PUC-Rio.

 

Segundo o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFPE, Anísio Brasileiro, isso acontece, principalmente, por causa do tempo de maturação de uma pesquisa. "Em determinadas áreas, exige-se um tempo maior de investimento para que os resultados comecem aparecer", explica. "O grau de maturação não é igual entre uma área e outra e nem mesmo entre uma universidade e outra", completa. Além disso, Brasileiro ressalta a existência de outros órgãos de fomento, tais como as Fap's (Fundações de Amparo à Pesquisa), a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e a Capes, não incluídos no estudo do Instituto Lobo.

 

Ranking de produção por doutor

 

O Instituto Lobo também levou em consideração a produção científica em função do número de doutores em tempo integral nas instituições de Ensino Superior. "Esse é um indicador relevante, uma vez que os doutores são os principais responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos de pesquisa stricto-sensu", explica o coordenador da pesquisa, Roberto Lobo. O número total de doutores em tempo integral nas IES analisadas, segundo o Censo da Educação Superior de 2005, é de 36.363 docentes, o que resulta numa média de 2,25 trabalhos publicados por doutor no período de cinco anos. "Um índice aceitável para as condições do sistema de pesquisa nacional, mas não atingidos por todas as universidades", alerta Lobo. Das 83 instituições analisadas, apenas 18 ultrapassaram a média geral.

 

Nesse quesito, nota-se a participação de quatro instituições privadas, o que mostra que grupos pequenos constituídos por pesquisadores de qualidade podem produzir competitivamente. Além disso, os dados chamam a atenção pela ausência de algumas instituições que, apesar de terem grande capacidade de captar recursos, não tiveram os resultados correspondentes aos índices de publicação por doutores. Entre elas está a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) (captou 10,66% da receita total), a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) (5,40%) e a UFPE (3,9%). "Esse fator pode ser explicado pela multiplicidade dos doutores integrais das universidades federais, que além de trabalharem na área de pesquisa, acabam por ingressar no campo do ensino", justifica Brasileiro.

 

Ranking de produção por curso

 

Quando confrontada com os cursos de pós-graduação stricto-sensu, a produção cientifica mantém uma relação similar aos dados apontados no número de doutores em tempo integral, ou seja, instituições com menor número de doutores continuam a produzir competitivamente com as grandes instituições.

 

No total, as 83 instituições analisadas no estudo desenvolveram juntas 3.258 cursos de mestrado e doutorado, com uma produção científica média de 25,06 trabalhos indexados por curso, no período de cinco anos. "Uma média muito baixa para programas que têm o dever de desenvolver estudos para formar mestres e doutores competentes e capacitados para o ensino e a pesquisa", alerta Lobo. Apesar disso, apenas 19 instituições conseguiram atingir um índice acima da média. (Clique e confira na tabela à direita as 10 instituições que apresentaram maiores números de trabalhos publicados por curso de pós-graduação stricto-sensu).

 

(Portal Universia)


Data: 19/02/2008