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Ensino superior custa o dobro do fundamental para brasileiro

Escola particular consome 21,7% do orçamento familiar com educação; faculdade representa 48,8% dos gastos

As famílias brasileiras gastam mais que o dobro para pagar universidades do que para custear a educação fundamental de seus filhos. Pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) mostra que as despesas com ensino superior privado representam 48,83% dos gastos com educação. O fundamental é responsável por 21,69% dos gastos.

Segundo a pesquisa, há 10,7 milhões de domicílios no País com pelo menos um morador estudando na rede privada - básica ou superior. Isso representa 22,13% do total. Deles, 14% têm renda de até cinco salários mínimos; 46%, entre 5 e 15 salários; e 38,85%, acima de 15. Mais de 12 milhões de estudantes brasileiros cursam o ensino particular.

Em alguns Estados, a proporção entre gastos com universidade e educação fundamental é maior ainda. No Distrito Federal, são 64% e 15%, respectivamente. Foram analisados 14 Estados. Em apenas 3, as famílias tiveram mais despesas com a escola do que com a faculdade: Pernambuco, Paraíba e Amazonas.

“Isso acaba com o mito de que a classe alta gasta muito dinheiro com escola dos filhos, mas depois alivia os gastos no ensino superior, já que eles vão para a universidade pública”, diz o educador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Abílio Baeta Neves.

Para ele, os resultados podem ser explicados pela análise da quantidade de alunos em cada nível de ensino no País, combinada com o porcentual deles que cursa a rede privada. Na educação fundamental, cerca de 20% dos 30 milhões de alunos estão em escolas particulares. Já no ensino superior, a situação é inversa, são 70% cursando universidades pagas, de um total de 4 milhões de alunos.

Esse quadro, atrelado aos resultados da pesquisa, indica que as mensalidades das universidades no País são mais altas que as cobradas pelas escolas, de maneira geral. É o que percebe a família Nunes de Almeida, de São Paulo. Guilherme, de 20 anos, estuda Desenho Industrial na Universidade Mackenzie e paga cerca de R$ 1.100.

Já a mensalidade na escola da sua irmã, Gabriela, de 17 anos, é de R$ 540. “Se ela quisesse entrar numa universidade pública, precisaria estudar numa escola melhor e mais cara”, acredita Guilherme.

Os gastos privados em educação, com maior peso para o ensino superior, lembram o que ocorre no ensino público brasileiro. O investimento por aluno na universidade pública chega a ser cinco vezes maior do que na escola pública. Países desenvolvidos têm relações bem menores entre os gastos nos dois níveis.

O Estado com mais famílias estudando na rede privada, proporcional à população, é o Distrito Federal (31,32%). A seguir, vêm Rio, Santa Catarina, Pernambuco e São Paulo. O Estado nordestino tem 24% de domicílios com algum morador na escola ou universidade privada e São Paulo, 21,63%.

“Já que a mensalidade escolar é mais baixa no Nordeste, mais famílias de baixa renda colocam seus filhos na rede particular”, diz o presidente da Fenep, José Augusto de Mattos Lourenço. Segundo ele, as mensalidades em São Paulo chegam a ser até 60% mais caras do que as de escolas do Norte e Nordeste do País.

Materiais

A pesquisa mostra ainda que os 10 milhões de famílias gastam R$ 40,1 bilhões com educação, desses R$ 5 milhões são destinados a materiais didáticos e R$ 2,6 bilhões para outros cursos não formais, como aulas de inglês, informática. O restante vai para escolas e universidades. O gasto médio mensal por família com educação é de R$ 2,9 mil.

As despesas com universidade são maiores até do que a soma dos gastos da educação infantil, fundamental e média (ensino básico) nas classes de renda mais alta. Apenas entre as famílias com renda de até 5 salários mínimos, o custo do ensino básico todo é um pouco superior ao da faculdade.

A pesquisa usou dados do IBGE de 2002 e 2003. Os valores foram atualizados para 2007.

(O Estado de SP, 12/12)


Data: 12/12/2007