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Descentralização regional da pesquisa alcança resultados positivos

A desigualdade entre as regiões brasileiras no âmbito da ciência é uma das preocupações do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT). Por motivos que envolvem a própria história do país, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste sofrem uma defasagem em termos de número de pesquisadores, resultados e no desenvolvimento da pós-graduação das universidades locais em relação às demais do país.

 

Estas regiões possuem entre 20 e 60 doutores por 100 mil habitantes (exceto Belém e algumas capitais nordestinas), enquanto o Sul e o Sudeste têm pólos onde esta proporção é superior a 300 doutores por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Plataforma Lattes do CNPq.

 

Uma das ações mais importantes do CNPq, visando à diminuição das diferenças regionais, tem sido o Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCR), criado na década de 80 para atrair e fixar doutores nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O CNPq tem investido, por ano, cerca de R$ 20 milhões na concessão de mais de 600 bolsas de pesquisa a doutores residentes em outras regiões para desenvolverem pesquisas nas instituições dos locais beneficiados pelo programa.

 

Interiorização

 

A partir de 2003, o Programa DCR tomou uma maior proporção com a parceria com os estados, por meio das Fundações de Amparo à Pesquisa. Cada estado recebe uma quota de bolsas e indica os beneficiários por processo seletivo local. Essa parceria promoveu um incremento nos recursos destinados ao Programa, já que o convênio exige uma contrapartida financeira das entidades estaduais.

 

O Programa, originalmente restrito às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, não permitia a concessão da bolsa para quem era formado ou radicado no próprio estado. Hoje, a vertente “interiorização” concede bolsa para o doutor formado na região metropolitana do estado que queira migrar para microrregiões carentes, beneficiando estados desenvolvidos, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Além disso, foi introduzida a vertente “empresarial”, que prevê a concessão da bolsa para inserir doutores nas empresas com participação progressiva destas no custeio das mensalidades.

 

Histórias de sucesso

 

Ao longo desses anos, o programa vem acumulando histórias bem-sucedidas de ex-bolsistas que se fixaram em alguma instituição de pesquisa da região ou que, por meio do apoio do CNPq, puderam voltar à região natal, de onde saíram para aprimorar a carreira científica.

 

É o caso do Professor Sidney Gonçalo Lima. Pernambucano, voltou ao Nordeste depois de concluir o Doutorado em Química na Universidade de Campinas (Unicamp). Como bolsista do DCR, Sidney Lima desenvolveu, na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), pesquisas sobre o petróleo, sua composição química e exploração. “Por causa da infra-estrutura para desenvolvimento de algumas etapas do Projeto, na UESPI, dediquei-me também à pesquisa com outros projetos voltados para bioenergia, síntese de etanol a partir do mesocarpo do coco de babaçu, e plantas medicinais, fitoquímica”, explicou o pesquisador.

 

Segundo ele, o DCR contribuiu de forma decisiva na sua formação profissional, além de permitir que esteja mais próximo de sua família. Hoje, é professor adjunto da Universidade Federal do Piauí, onde graduou-se em 1997. “Penso em dar minha contribuição para o desenvolvimento da pesquisa nesse estado e o DCR foi um passo para a realização desse sonho”, conclui.

 

De São Paulo para o Amazonas

 

A trajetória de Adriana Malheiro também reflete os benefícios que o Programa pode proporcionar à região e ao bolsista. Após a conclusão do Doutorado em Imunologia na Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora teve a oportunidade, por meio da bolsa DCR, de mudar-se para Manaus para desenvolver a pesquisa “ Caracterização dos genótipos do vírus da hepatite C, associada à carga viral e resposta imune em doadores de sangue do Estado do Amazonas”, pela Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam).

 

“Eu não conhecia muito bem o Amazonas, mas havia terminado o meu doutorado na USP de Ribeirão Preto em 2003 e estava pensando em fazer alguma coisa que fosse diretamente voltada para a sociedade, uma pesquisa que pudesse ser aplicada e não mais continuar apenas na área básica”, relembra Adriana, que define a importância da bolsa como “um salto de 10 anos” em sua carreira. “O mais importante foi termos conseguimos criar e manter uma equipe de pesquisa dedicada e ética, com muitas parcerias e, o mais importante, ainda formando novos mestres e doutores”, continua.

 

Adriana Malheiro, que no final do ano passado foi aprovada no concurso de professor da  Universidade Federal do Amazonas, ressalta ainda a importância do apoio à sua pesquisa para o desenvolvimento científico local. Segundo ela, a partir de sua pesquisa, foram aprovados cerca de nove projetos em editais lançados pelo CNPq, Finep, Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) e Ministério da Saúde, proporcionando um grande avanço à Fundação. “O DCR foi uma grande conquista na minha vida profissional, e a colaboração do Hemoam foi fundamental para que eu pudesse crescer e hoje ser reconhecida no Estado”, conclui.

 

Física no Ceará

 

Física formada pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e com Mestrado e Doutorado concluídos recentemente pela USP, a pesquisadora Ivana Zanella está em Fortaleza desde 2006 como bolsista DCR, atraída pela infra-estrutura da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pelo fato de poder interagir com experimentais (físicos) da área. “O interesse surgiu porque tive colegas de pós-graduação que vieram antes para UFC e desenvolveram excelentes trabalhos”, aponta.

 

As pesquisas desenvolvidas por Ivana Zanella envolvem, por meio de simulações baseadas na teoria do funcional da densidade, a funcionalização de nanoestruturas de carbono para uso como sensores e removedores de gases, moléculas tóxicas, dispositivos eletrônicos e fármacos. 

 

Para a pesquisadora, a bolsa DCR é uma ótima oportunidade para o recém-doutor. “Ao final do doutorado encontra-se um dilema: o que fazer agora? Para onde  vou? A bolsa DCR fornece uma saída para esse dilema, a possibilidade de melhorar o currículo e de se ter novas experiências, sejam elas como pesquisador ou como professor”, explica Ivana, que ainda aponta a importância da bolsa como um passo importante para a conquista de uma posição em uma universidade. A expectativa de Ivana Zanella, agora, é permanecer como bolsista DCR no Ceará por mais um tempo.

 

Santa Catarina para o Acre

 

Já o professor Moacir Haverroth, com mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (1997) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (2004), se fixou no Norte do país, após dois anos como bolsista DCR na Universidade Federal do Acre, entre 2005 e 2007.  Hoje é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Unidade do Acre, na área de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e ornamentais.

 

Como mais um resultado da bolsa DCR,  o pesquisador acaba de lançar o livro Etnobotânica, uso e classificação dos vegetais pelos Kaingang: Terra Indígena Xapecó.

 

(Assessoria de Comunicação do CNPq)


Data: 19/11/2007