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UFCG desenvolve sistema de interpretação de sons para deficientes auditivos e visuais

Projeto visa facilitar o aprendizado da leitura labial, permitindo uma maior inserção social dos deficientes

 

Reconhecer palavras e transformá-las em estímulos táteis é base de um sistema de comunicação eletrônica voltada aos deficientes auditivos e visuais que vem sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande. Uma tese de doutorado e uma dissertação de mestrado orientadas pelo professor Raimundo Freire, da Unidade Acadêmica de Engenharia Elétrica, trabalham a interpretação da fala e de textos para impulsos que, ao serem processados, se convertam em informações assimiláveis em substituição a um desses sentidos.

 

“Uma linguagem muito usada pelos deficientes auditivos é a dos sinais. Entretanto, o universo desta comunicação ainda é muito limitado pelo pequeno número de pessoas não-deficientes que a compreendem. Outra alternativa é a leitura labial - em que pela articulação da boca, se deduz o que está querendo ser dito”. Desta forma, diz Freire, com a linguagem oral desenvolvida, a inserção e a partilha de informações são maiores. O desenvolvimento de um sistema que promova essa inclusão é o que pretende a tese de doutorado do aluno Aléssio Trindade Barros.

 

O sistema é voltado ao ensino e aprendizagem da fala. Essa educação, por estimulação mecânica na pele, ajudará aos deficientes auditivos na leitura labial como ponto de partida para uma comunicação oral - onde as letras com possibilidades de serem confundidas na leitura labial são codificadas em estímulos vibráteis - facilitando a compreensão na expressão dos fonemas (unidade sonora), especialmente dos visemes (aqueles com dicção igual, a exemplo do b, p e m). “Dessa forma, possibilitando a eles sentir o som das palavras e aprender a repassá-las oralmente. À medida que forem se acostumando com seus sons (toques) e o que compõem, um universo lógico é criado para o emprego delas”, explicou Freire.

 

“A utilização dos estímulos vibráteis, se tornará dispensável tão logo esse universo lingüístico seja familiarizado”. O pesquisador também disse acreditar que desta forma, e com a ajuda de um fonoaudiólogo, o deficiente auditivo congênito poderá trocar informações com outros grupos, além dos restritos à linguagem de sinais, os surdo-mudos. “O sistema pode ser utilizado na adequação dos recém-surdos, que precisarão se adequar à nova condição”, acrescentou.

 

Raimundo Freire chamou atenção para o fato de que alguns estudiosos defendam que a linguagem apropriada para os surdo-mudos seja apenas a de sinais. “Mas existem os que defendem que ela igualmente seja oralizada. O que é muito complicado no caso dos congênitos, sabemos; eles não aprendem a falar porque não ouvem. Mas querem falar. E mesmo que seja um em cada mil, por que não o ajudar?”

 

Como funciona

 

Pela observação da articulação da boca e dos lábios o surdo pode “entender” o que a pessoa está falando. Entretanto, alguns fonemas têm a mesma articulação externa (a diferença se faz pela articulação interna).

 

No processo de ensino/aprendizagem da fala aos surdos, é necessário que o surdo possa saber qual fonema está sendo articulado. Dessa forma, um sistema eletrônico transforma as informações sonoras em estímulos vibráteis aplicados nos dedos do surdo para que ele saiba que fonema está articulando.

 

Deficientes visuais

 

Ainda embrionário, o sistema para deficientes visuais pretende desenvolver uma interface para transcrição dos textos para o Braille. “Essa realimentação da informação pode ser realizada nos arquivos digitalizados, onde o computador acionaria um mecanismo de pinos traduzindo a escrita”, antecipou Freire, como uma das alternativas a ser utilizadas na dissertação de mestrado da aluna Ana Carolina de Lima.

 

Para ele, há uma série de caminhos a ser explorados no auxílio aos deficientes visuais, além da questão da leitura. Horizontes que podem levá-los à interpretação de formas e imagens. “Estamos pensando na construção de uma matriz (reprodução em pontos, dispostos em linhas e colunas) que reproduza ou dê a idéia da estrutura das coisas, de como elas são materializadas”, disse, ao relacionar tal mecanismo com uma fotografia. “Uma foto tem milhões de pontos, porém diminuindo essa imagem, reduzindo-os, ela continuará a ser uma fotografia”, explicou.

 

“Também pensamos em pesquisar alguma coisa para a prática de esportes. Por exemplo, uma bola eletrônica”, disse Freire ao apontar elementos que podem ser explorados para contribuir na inserção social dos portadores de necessidades especiais.

 

(Marinilson Braga – Ascom/UFCG)


Data: 19/10/2007