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Brasil tem segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul

Mais da metade dos estudantes que freqüentam o ensino superior na rede pública são ricos

 

A queda de 29,1% na taxa de analfabetismo entre 1996 e 2006 não foi suficiente para tirar o Brasil do incômodo penúltimo lugar no ranking de alfabetização na América do Sul. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira, o percentual de brasileiros que não sabem ler e escrever é inferior apenas ao da Bolívia, onde a taxa de analfabetismo foi de 11,7% em 2005.

 

Em relação a todos os países latino-americanos e caribenhos, o Brasil também vai mal no quesito: tem o 9º pior índice do grupo.

 

Mais grave ainda é a situação do Nordeste, que tem o mais elevado índice entre as cinco regiões do país. Na média, um em cada cinco nordestinos declarou que não sabe ler nem escrever um bilhete simples. Se fosse um país, o Nordeste teria o 5º pior desempenho em alfabetização da América Latina e Caribe, à frente apenas de Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti.

 

Na comparação de dados de população urbana da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) com os da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) em 2005, o Brasil se saiu pior do que vizinhos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo, como Peru, Venezuela e Colômbia.

 

A taxa brasileira de analfabetismo, 11,1% entre os maiores de 15 anos, ficou, em 2005, acima da média do grupo, que foi 9,95%. O número divulgado pelo IBGE referente a 2006, 10,4%, também está acima dessa linha.

 

O contingente de analfabetos no Brasil acima de 15 anos, 14 milhões de pessoas, coloca o país no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria.

 

O grupo é considerado prioritário para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que criou programa de metas de erradicação de analfabetismo

até 2015.

 

Taxa de analfabetismo de pretos e pardos é mais que o dobro da dos brancos

 

No que diz respeito à distribuição da população por grupos étnicos, os dados de 2006 parecem corroborar as tendências já anotadas para a década, de pequeno aumento da participação da população preta (6,9%) e de diminuição, também pequena, da branca (49,7%) e da parda (42,6%). Entre os indicadores sociais para o grupo de brancos, de um lado, e pretos e pardos, de outro, dois conjuntos merecem destaque: os que se referem à educação e os que dizem respeito à participação econômica.

 

Em relação à educação, as taxas de analfabetismo, analfabetismo funcional e freqüência escolar continuam apresentando diferenças significativas. Em números absolutos, em 2006, entre cerca de 14,4 milhões de analfabetos brasileiros, mais de 10 milhões eram pretos e pardos. As taxas de analfabetismo para a população de 15 anos ou mais de idade foram de 6,5% para brancos e de mais que o dobro, 14%, para pretos e pardos.

 

A taxa de analfabetismo funcional também era muito menor para brancos (16,4%) do que para pretos (27,5%) e pardos (28,6%). A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais de idade mostrava uma vantagem de 2 anos para brancos (8,1 anos de estudos), em relação a pretos e pardos (6,2). A distribuição por cor ou raça dos que freqüentavam escola com idade entre 18 e 24 anos mostrava também significativas diferenças: enquanto 56% dos brancos nessa faixa eram estudantes de nível superior ou terceiro grau, entre pretos e pardos, o percentual era de 22%. Em 1996, essa distribuição dos estudantes, nessa faixa de idade, era de 30,2% para os brancos e 7,1% para os pretos e pardos. Tais resultados mostram uma melhora para ambos os segmentos em relação à defasagem idade e curso freqüentado.

 

Uma conseqüência desses diferenciais pode ser percebida entre as pessoas de 25 anos ou mais de idade que alcançaram 15 anos ou mais de estudo, ou seja, haviam completado o nível superior. No Brasil, em 2006, apenas 8,6% possuíam esse nível de escolaridade, sendo que, nesse grupo, 78% eram de cor branca, 3,3% de cor preta, e 16,5% eram pardos. Mais de 12% dos brancos haviam concluído o terceiro grau, enquanto para pretos e pardos a participação não alcançava 4%.

 

A pesquisa ainda aponta que, em 2006, 76,4% dos estudantes freqüentavam universidades particulares, e apenas 23,6% estavam em estabelecimentos públicos. No entanto, mais da metade dos estudantes que freqüentam o ensino superior na rede pública (54,3%) pertenciam aos 20% mais ricos.

 

Brancos ganham em média 40% mais do que pretos ou pardos com mesma escolaridade

 

Os rendimentos médios de pretos e pardos se apresentavam sempre menores que os dos brancos. Mesmo quando são considerados os rendimentos-hora de acordo com grupos de anos de estudo, as diferenças permaneciam, com o rendimento-hora dos brancos em média 40% mais elevado que o de pretos e pardos para uma mesma faixa de anos de estudo.

 

Em relação à participação na apropriação da renda nacional, a distribuição entre os 10% mais pobres e o 1% mais rico mostrava que, enquanto entre os brancos eram, em 2006, 26,1% dos mais pobres; entre os que estavam na classe mais favorecida, eles representaram quase 86%. Por sua vez, os pretos e pardos eram mais de 73% entre os mais pobres e somente pouco mais de 12% entre os mais ricos. As desigualdades se verificavam em todas as grandes regiões.

 

Analfabetismo na América Latina e Caribe*

 

Haiti 45,2

Nicarágua 31,9

Guatemala 28,2

Honduras 22,0

El Salvador 18,9

República Dominicana 14,5

Bolívia 11,7

Jamaica 11,3

Brasil 11,1

Peru 8,4

México 7,4

Colômbia 7,1

Equador 7,0

Panamá 7,0

Venezuela 6,0

Paraguai 5,6

Porto Rico 5,4

Belize 5,3

Bahamas 4,2

Costa Rica 3,8

Chile 3,5

Antilhas Holandesas 3,1

Argentina 2,8

Cuba 2,7

Uruguai 2,0

Trinidad e Tobago 1,2

Guiana 1,0

Barbados 0,3

Média 9,95 k

 

*Dados do Cepal 2005

 

(Paula Theotonio, estagiária - Ascom/UFCG, com dados de Bruno Aragaki – UOL/Educação)


Data: 28/09/2007