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UFCG desenvolve projeto de conscientização para soropositivos no Hospital Universitário

Novidade no tratamento da Aids traz esperanças para pacientes, diz infectologista

 

Uma nova esperança para os portadores do vírus da Aids foi anunciada na semana passada pelos laboratórios Merck e Pfizer. Trata-se de um coquetel de remédios que reduziu a níveis baixíssimos - durante o período de 48 semanas em que se fez os testes em soropositivos - o número de células infectadas pelo vírus no sangue. O Selzentry, droga anti-retroviral (que impede a multiplicação do vírus) da Pfizer, foi aprovado mês passado pela organização norte-americana Food and Drugs Administration (FDA, Administração de Comida e Droga). O Isentress, da Merck, deve ser aprovado em outubro.

 

"Nesse período, pacientes tratados com Selzentry, da Pfizer, e com Isentress, da Merck apresentaram níveis indetectáveis do HIV", explica o jornal O Estado de S. Paulo. “Esse coquetel inibe uma fase da contaminação pelo vírus da aids, chamada integrase, impedindo a inserção do código genético do vírus no DNA das células brancas do sangue”. Os laboratórios que desenvolveram o coquetel afirmam que os remédios não curam a Aids e não impedem a infecção, além de provocarem os mesmos efeitos colaterais dos outros remédios presentes no mercado.

 

A infectologista Andréa Barros que, desde o início do ano desenvolve, em projeto de extensão da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), um programa de conscientização de soropositivos à adesão ao tratamento com anti-retrovirais no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), confirma que estes novos medicamentos representam um grande avanço na luta contra o vírus da Aids. “Essas descobertas significam uma boa perspectiva para novos pacientes e também para os que não podem mais utilizar as drogas disponíveis, pois já desenvolveram resistência aos coquetéis presentes no mercado”, entusiasmada, disse: “Tomara que cheguem logo ao Brasil!”.

 

O projeto

 

O trabalho de Andréa no HU - que recebe apoio das ONGs Grupo de Apoio à Vida (GAV), Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e a Secretaria de Saúde do Município através do SAE(Serviço de Assistência Especializada) - se dirige principalmente aos pacientes que têm dificuldade em aceitar o tratamento com o coquetel anti-aids.

 

Ela explica que essa dificuldade é mundial, e se apresenta de várias formas, intimamente ligados às questões sociais. “A Aids é uma síndrome que pode ser controlada, mas a imprensa fez tanta divulgação pejorativa em torno da sexualidade dos soropositivos – assunto por si só bastante polêmico – que muitos demoram anos até procurar ajuda”. “Em alguns casos, até a diabetes é mais difícil de tratar que a AIDS. E nem por isso há tanto preconceito”, acrescenta.

 

Ela continua: “Às vezes, até o número de comprimidos, em que alguns precisam ser guardados em geladeira, envergonham o paciente”, diz. Mas é na questão dos efeitos colaterais, tais como diarréia, nervosismo, insônia, vômitos e aumento do abdômen, que muitos abandonam o tratamento. “Muitos pacientes têm de passar por vários coquetéis diferentes até chegar em um que se adapte perfeitamente ao seu organismo”, diz a médica.

 

É o caso de L. T. T, 34 anos, que descobriu que tinha AIDS em 2000. Até hoje ele diz não ter se adaptado bem a nenhum coquetel e tem grande resistência ao tratamento. “L. passou um tempo sem vir e, devido ao avanço da doença, ficou quase dois meses internado na enfermaria do HU”, disse Andréa. Dessa forma, o vírus dele ficou mais resistente e houve a necessidade de aumentar a quantidade de medicamentos. “Com efeitos colaterais ainda mais fortes, ele está quase desistindo do tratamento. Mas nossa meta é fazer com que ele continue conosco”, acrescenta.

 

Por outro lado, há o caso de D.N.P.S., 32 anos, que se adaptou logo ao primeiro coquetel sugerido por Andréa. D. afirma ter contraído o vírus do ex-marido e viveu por cerca de 10 anos sem saber que estava infectada. Assim que descobriu, fazendo um exame de rotina, foi encaminhada ao HU “Apesar de saber que tenho que me tratar, saber que estou doente é muito ruim. Ainda assim, nesses poucos meses que venho tomando o coquetel sinto melhoras e espero ficar cada vez melhor”, conclui.

 

Nem todo soropositivo, no entanto, precisa instantaneamente de tratamento com anti-retrovirais. É necessário que o número de moléculas CD4, presentes nas células brancas ou linfóticos do sangue, esteja muito baixo.  Em uma pessoa não infectada, a proporção de moléculas CD4 nos linfócitos é de 40%, ou seja, de 600 a 1200 células CD4/mm³ de sangue. Em pessoas infectadas pelo vírus, é normal que esse número fique abaixo dos 15%, ou seja, abaixo de 350 células CD4/mm³.

 

Atualmente, o projeto atende a cerca de 300 pessoas, das mais variadas faixas etárias e sexo. “Predomina ainda o sexo masculino, mas o Brasil segue a tendência mundial de aumento de infecção entre mulheres, na proporção de 1,6% de homens infectado para uma mulher infectada. A faixa-etária mais atingida fica entre os 20 e os 50 anos, embora tenhamos pacientes de meses de vida até os 84 anos”, explica Andréa.

 

Quem deseja aderir ao programa, deve procurar o H.U, setor de infectologia, às quartas-feiras durante a tarde e às sextas-feiras, pela manhã. Geralmente, há indicação de outros médicos. Além da receita de medicamentos, alunos de medicina da UFCG envolvidos no projeto se reúnem com os pacientes nesses horários para palestras de incentivo. Não há lista de espera e qualquer pessoa soropositiva tem direito ao tratamento.

 

O Brasil e o tratamento com anti-retrovirais

 

O Brasil ganhou reconhecimento mundial por seu programa pioneiro de tratamento com anti-retrovirais, iniciado em 1996, e que agora atende a cerca de 170 mil brasileiros. O Brasil, classificado como um país de média renda, está realizando o que os defensores do tratamento da Aids almejaram por tanto tempo: o acesso universal e gratuito a medicamentos vitais.

 

Um recente relatório publicado no The New England Journal of Medicine mostra como este famoso programa é apenas uma parte da história brasileira de sucesso no enfoque ao HIV/Aids. Com o apoio do governo, envidaram-se amplos esforços de prevenção ao HIV, que restringiram a disseminação do vírus e contiveram a epidemia, tornando possível o programa de tratamento e reduzindo o impacto da Aids em todo o país.

 

Esta contínua expansão e elaboração de iniciativas de prevenção causou imenso impacto, constituindo-se em um modelo para outros países. No início dos anos 90, o Banco Mundial previu que, por volta do ano 2000, 1,2 dos 186 milhões de brasileiros estariam infectados pelo HIV; contudo, os dados da vigilância epidemiológica sugerem que somente 600.000 pessoas estariam atualmente infectadas no país.

 

A prevalência da infecção pelo HIV entre brasileiros de 15 a 49 anos de idade tem-se mantido estável em 0,6% desde 2000, e a partir de então têm surgido anualmente aproximadamente 25.000 novos casos de Aids. Em outros países de média e baixa renda, em que a epidemia adquire contornos similares, há ansiedade em adotar a abordagem brasileira.

 

Andréa Barros comenta o sucesso do programa brasileiro. “Atendemos a três pacientes que vieram da Itália só para poderem se tratar gratuitamente. Eles se dizem ‘loucos’ pelo programa e apaixonados pelo Brasil”.

 

(Paula Theotonio, estagiária - Ascom/UFCG)


Data: 24/09/2007