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Formação dos futuros médicos deve ser melhor avaliada, defende professor

"O Brasil é um país que só produz estudantes perfeitos". A frase, de tom irônico, é do professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CRMESP), Bráulio Luna Filho, que participou do IV Simpósio Nacional de Direito à Educação, que aconteceu na cidade de São Paulo (SP).

 

Ele discutiu a formação acadêmica dos futuros médicos e como tal processo deve ser avaliado. "Se o jovem puder pagar de R$ 3 a 4 mil por mês, ele se tornará médico sem dificuldades. Nossos métodos de avaliação, mesmo no sistema público, são muito tênues e por isso é imperioso que fiscalizemos que tipo de médico tem saído dos nossos cursos", disse.

 

As colocações de Luna Filho vão de encontro a dados que preocupam o conselho. Desde 1993, o CRMESP verifica aumento substancial das denúncias de má prática médica. No último censo, por exemplo, foram computadas mais de quatro mil denúncias ao ano.

 

Diante dessa realidade, desde o ano passado o CRMESP exige que o concluinte do curso de Medicina preste um exame para exercer a profissão. A prática é parecida com a da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que aplica um exame aos bacharéis em Direito. Apesar da existência da avaliação do curso, ela é facultativa e não impede que o futuro médico exerça o trabalho.

 

O exame do ano passado buscou avaliar apenas questões básicas da formação. Mesmo assim, a reprovação alcançou 40%. Para o conselheiro, no Brasil confunde-se competência profissional com aquisição do diploma. "O Brasil é o único país do mundo em que o médico se forma e está apto a exercer qualquer uma das 54 áreas da Medicina. Ele não precisa freqüentar congressos, mostrar seu conhecimento e estudar", criticou.

 

Apesar da avaliação do ano passado levantar a má formação dos profissionais da saúde, outros dados do órgão já identificavam o problema. Uma recente pesquisa realizada verificou que em 50% dos hospitais-escola (conveniados no sistema público ou particulares) das faculdades privadas de medicina de São Paulo não há acesso à internet e em 34% não há bibliotecas adequadas. "Tanto no sistema público quanto privado os estudantes ficam sem supervisão durante o internato (fase do curso em que começam a atender pacientes)", contou Luna Filho.

 

Outra pesquisa identificou que 60% dos estudantes têm interesse em prestar a prova - ainda mais porque ela é sigilosa e não tem caráter probatório. Porém, segundo algumas entidades, como a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), dificultam a implementação do método avaliativo. "É uma questão de poder. Eles sabem que um grande número de estudantes irá mal na prova e não querem que isso seja aferido", disse.

 

Luna Filho citou como exemplo alternativo os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e a vizinha Argentina. "Nesses países os egressos das faculdades passam por uma série de exames até conseguirem entrar no mercado de trabalho. Nos EUA e Inglaterra, as próprias faculdades fazem um exame final para que o estudante possa obter o diploma e só então prestar a avaliação nacional de competência", explicou.

 

(Juliana Dietrich - UOL/Aprendiz)


Data: 19/09/2007