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Países com melhores notas usam sistema de ciclos no ensino

Chamado de progressão continuada, modelo é criticado no Brasil sob o argumento de aprovar aluno que não aprende

 

Enquanto o modelo norte-americano em relação a políticas educacionais pode dar sinais para o Brasil, a observação do desempenho de outros países pode ajudar a desmistificar a progressão continuada - duramente criticada por alguns setores que a enxergam como aprovação automática de alunos sem conhecimento, e fortemente defendida por outros, que o encaram como uma pedagogia moderna e que não empurra o aluno para fora da escola.

 

Análise feita por pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nos resultados de duas avaliações internacionais de desempenho mostrou que os países com melhores notas adotam o sistema de ciclos, e não a repetência por séries. Nesse contexto, a diferença chega a ser de até 20 pontos a mais entre os que adotam a progressão e os que usam a repetência.

 

“A idéia do estudo foi mostrar que a progressão continuada é um modelo adotado internacionalmente e que não há nenhuma contradição com bons resultados em termos de aprendizado”, explica o autor, Sergei Suarez Dillon Soares. Ele escolheu os testes Trends in International Mathematics and Sciency Study (Timms), que analisam matemática e ciência, e Progress in International Reading Literacy Study (Pirls), voltado para leitura.

 

O Brasil não participa de nenhum dos dois testes. “É claro que há muitos fatores envolvidos nisso, mas os dados mostram que a progressão continuada não exerce nenhum efeito negativo na aprendizagem dos alunos”, diz o pesquisador.

 

Os primeiros países no ranking, como Japão, Coréia, Suécia e Noruega, praticam progressão continuada em todo o ensino fundamental e proíbem a reprovação de um aluno em qualquer série desse ciclo - isso pode ocorrer apenas por faltas. Chile, Cingapura e Hong Kong, numa faixa intermediária, adotam o sistema de ciclos, parecido com o de Estados brasileiros, como São Paulo e Minas. Ou seja, pode-se reprovar no fim desses períodos, a cada quatro anos.

 

A repetência seriada é adotada nos países de menor desenvolvimento e com piores desempenhos, como Arábia Saudita, Indonésia, Líbano e Filipinas. A exceção é a Bélgica, uma das melhores no ranking, que se recusou a aplicar a progressão após um grande debate na sociedade. “É preciso desatar a idéia de que o ensino é ruim por causa da progressão. O resultado é ruim porque a gente não oferece condições pedagógicas para o aluno aprender”, afirma o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares, especialista em avaliações. “Repetir não pode ser o único instrumento pedagógico do professor.”

 

O ENSINO PÚBLICO

 

30 milhões de alunos estão matriculados no fundamental

7,9 milhões de estudantes cursam o ensino médio na rede

55% dos alunos da 4.ª série conseguiam apenas ler frases simples, segundo avaliação de 2003

(O Estado de São Paulo, 9,9)


Data: 11/09/2007