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O sucesso do Inclusp

O programa de inclusão da USP foi lançado em 2006, começou a funcionar no começo deste ano e já está apresentando resultados surpreendentes

Concebido como uma alternativa ao polêmico sistema de cotas, que hoje é adotado em 16 universidades federais e deverá ser implantado nas demais 41 instituições de ensino superior mantidas pela União - como o ministro da Educação acaba de anunciar -, o programa de inclusão da USP foi lançado no ano passado, começou a funcionar no começo deste ano e já está apresentando resultados surpreendentes, como afirma a pró-reitora de graduação, Selma Garrido Pimenta.

Em vez de reservar uma parte das vagas disputadas nos exames vestibulares a estudantes negros e pobres, o "Inclusp" atribui pontos adicionais na nota para os vestibulandos oriundos de escolas públicas, sem distinção de renda ou de cor.

Inspirada em experiência semelhante posta em prática pela Unicamp, essa medida tem por objetivo promover inclusão social sem reservar vagas, o que ajuda a preservar o princípio do mérito nos vestibulares.

Graças a ela, a USP registrou um aumento de 9,5% no número de estudantes negros matriculados em seus cursos, entre 2006 e 2007. No ano passado, 1.227 candidatos negros foram aprovados no vestibular. Este ano, foram 1.344 - 117 a mais.

Os alunos negros hoje constituem 13,4% do corpo discente da instituição. Em 2001, eles constituíam apenas 9,64%. É um avanço significativo em pouco tempo.

A experiência da USP mostra que ações afirmativas concebidas para ajudar estudantes oriundos da rede pública do ensino básico acabam beneficiando indiretamente jovens negros e pobres sem levar à formação de quistos raciais integrados por alunos em geral pouco preparados - um problema detectado em algumas universidades públicas que já adotaram o sistema de cotas.

Introduzido nas universidades federais e em algumas universidades estaduais com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino superior, acabar com a desigualdade racial e combater a exclusão social, o sistema de cotas nunca foi aceito pacificamente.

Vários vestibulandos brancos com média superior à dos universitários beneficiados pelo sistema de cotas, por exemplo, costumam recorrer à Justiça e obtêm liminares que os autorizam a assistir às aulas. O convívio entre eles e os colegas "cotistas" nem sempre é fácil.

Como nas universidades públicas que adotam cotas os vestibulandos têm a prerrogativa de definir sua cor, em algumas instituições o sistema também acabou estimulando o oportunismo, com vários estudantes brancos declarando-se negros para serem beneficiados nos vestibulares.

Em outras instituições, as cotas acarretaram uma espécie de racismo às avessas, com alunos negros discriminando colegas brancos.

E, na Universidade de Brasília (UnB), que utiliza a cor para selecionar os "candidatos cotistas" sem levar em conta sua origem socioeconômica, dois irmãos gêmeos univitelinos, filhos de pai negro e mãe branca, receberam tratamento diferenciado. Um foi aceito como cotista e o outro, não.

Outro inconveniente das cotas é que elas tendem a provocar um aumento dos custos das universidades, uma vez que muitos alunos beneficiados por esse sistema de seleção precisam de aulas extras e disciplinas de reforço para acompanhar os cursos.

No modelo adotado pela USP, que concede um bônus de 3% nas notas aos alunos oriundos da rede pública de ensino básico, os candidatos aprovados no vestibular tendem a ter uma formação escolar mais homogênea, o que permite que os estudantes tenham aula na mesma sala e que sejam submetidos à mesma carga de trabalho, independentemente de sua origem social e de sua cor.

A imposição de cotas raciais no acesso ao ensino superior é uma iniciativa política generosa na aparência, mas que, por comprometer o princípio do mérito acadêmico, tumultua o funcionamento das universidades.

A USP compreendeu isso e, mesmo sob veementes críticas de movimentos sociais, não se deixou seduzir por essa política.

Por meio do "Inclusp", a maior universidade brasileira está mostrando que é possível adotar programas de inclusão social eficientes, sem fazer concessões demagógicas e sem comprometer a qualidade do ensino.


(O Estado de SP, 5/9)


Data: 05/09/2007