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Vício adolescente: estudos revelam que dependência de álcool e cocaína é mais grave em jovens

A dependência é mais grave entre os jovens do que entre os adultos

Substâncias presentes no cérebro dos adolescentes que os tornam mais ousados e destemidos nessa fase da vida são responsáveis também por deixá-los mais vulneráveis a drogas como a cocaína e o álcool.

Pesquisas de grupos da USP revelaram os mecanismos que fazem com que a dependência seja mais grave em jovens do que em adultos.

Trabalho desenvolvido no Laboratório de Farmacologia Comportamental e Neuroquímica da USP, pelo grupo da pesquisadora Rosana Camarini, mostra que camundongos adolescentes submetidos a cocaína ou álcool apresentam respostas comportamentais e neuroquímicas diferentes daquelas de animais adultos. Os resultados sugerem que o mesmo acontece em seres humanos.

“Nosso objetivo é estudar as diferenças entre adolescentes e adultos nas respostas a algumas drogas”, explicou Rosana, que apresentará o estudo hoje na XXII Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, em São Paulo.

“Começamos
a estudar isso porque existem diferenças de desenvolvimento. Algumas estruturas do cérebro ainda não estão totalmente desenvolvidas nos mais jovens, como o córtex pré-frontal, responsável, entre outras coisas, pela tomada de decisões e a agressividade.”

Mais dopamina no cérebro jovem

Além disso, existe uma diferença neuroquímica importante entre o cérebro do adolescente e o do adulto, relacionada à concentração de dopamina, um neurotransmissor relacionado à motivação e à impulsividade. A presença da substância é reduzida à medida que a pessoa envelhece.

“A maior concentração da dopamina e o córtex pré-frontal ainda não totalmente desenvolvido são, em parte, responsáveis pelo comportamento mais impulsivo dos adolescentes.”

Ocorre que, embora por mecanismos diferentes, tanto o álcool quanto a cocaína induzem um aumento da concentração de dopamina no cérebro. A pesquisa mostrou que os animais jovens que tomaram cocaína apresentam maior excitabilidade locomotora do que os adultos.

Eles também liberam mais dopamina (neurotransmissor estimulante) na parte do cérebro que controla as sensações de dependência, recompensa, prazer e motivação — o que sugere uma expectativa maior pela droga.

“Observamos que quanto mais cedo o jovem entra em contato com a droga, maior a possibilidade de se tornar dependente”, disse a pesquisadora. “E uma das hipóteses para que isso ocorra é o fato de já ter naturalmente uma maior concentração de dopamina.”

Já os animais adolescentes submetidos ao álcool apresentaram maior tolerância aos efeitos da droga. Estudos com pessoas mostram que essas reações menos intensas ao álcool (tolerância) predispõem ao alcoolismo.

“A gente acredita que para ter o mesmo nível de estimulação vai precisar de uma dose cada vez mais alta, o que, em princípio, pode ser perigoso, pode levar a um consumo maior”, explicou.

Um outro estudo, de autoria de Lucília B. Lepsch do Laboratório de Neurofarmacologia Molecular da USP, relaciona o aumento da concentração de dopamina no cérebro resultante do uso de cocaína aos danos neurológicos causados pela droga.


(O Globo, 23/8)


Data: 23/08/2007