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“Expandir para incluir”. Diz Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ

Em seu segundo mandato, Aloísio Teixeira, reitor da maior Universidade do RJ planeja aumentar o número de alunos da instituição

Há 20 dias exercendo o seu segundo mandato como reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira comenta, em entrevista exclusiva a O Dia, os desafios para expandir a maior universidade federal brasileira nos próximos cinco anos.

Segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), a Universidade Federal do Rio de Janeiro precisará de R$ 160 milhões até 2012. Para receber mais verbas do governo, a instituição terá que cumprir metas da reforma universitária.

Uma delas é a ampliação de vagas na graduação. A instituição planeja passar das atuais 6.800 para quase 10.200 vagas com a criação de novos cursos e horários noturnos, do aumento de vagas em Macaé e da implantação de novo campus em Xerém, Duque de Caxias.

No pacote de medidas, uma das mais polêmicas é a transferência de todos os cursos para o campus da Ilha do Fundão. As propostas, que serão levadas ao Conselho Universitário em 27 de setembro, prevêem a implantação de cursos básicos de três anos, os chamados bacharelados interdisciplinares (BIs), e dispensa do vestibular para professores de educação básica.

Para combater a evasão, serão construídos alojamentos e refeitórios e oferecidas bolsas para licenciatura. Na expansão está previsto até um shopping no Fundão. Confira abaixo o que pensa Aloísio Teixeira sobre os pontos mais polêmicos da proposta.

- O que prevê o plano de expansão até 2012?

Temos um cronograma acelerado de discussão nas unidades que vai até setembro. Uma das metas é passar das atuais 6.800 para 10.200 vagas em cinco anos, em cursos noturnos, no Interior (Macaé) e um novo campus em Xerém. Faremos três audiências públicas com a participação da comunidade acadêmica, como DCE, sindicato dos docentes e funcionários. Em seguida, será levado ao Conselho Universitário. Em vários aspectos, a proposta está madura para começar a ser implementada ano que vem. O Reuni (programa de apoio à expansão das universidades federais) aloca recursos específicos para custeio e investimento para universidades que tiverem planos e metas. Devemos aproveitar essa oportunidade.

- De que forma a UFRJ pretende combater a evasão?

A universidade não pode, simplesmente, receber os alunos, reprová-los e deixá-los ir embora. O estudante precisa ter condições para permanecer na instituição. O plano prevê a construção de novos alojamentos com capacidade para atender 500 estudantes, conclusão do restaurante universitário e construção de mais três refeitórios, além da oferta de bolsas para estudantes dos cursos de licenciatura.

- Vestibular será mantido?

Desde que assumi, venho criticando esse acesso, que consolida os mecanismos de exclusão. O ingresso desta forma não mede mérito, mede renda. Quem tem condições de pagar cursinhos tem probabilidade infinitamente maior de entrar na universidade. Defendemos novas formas de ingresso que dispensem o vestibular. O Enem é uma opção, que precisa ser aprimorada. A UFRJ discute acréscimo de 5% das vagas nos cursos para alunos da rede estadual. Outra proposta é dispensar o vestibular nos cursos de licenciatura para professores de Educação Básica na rede pública, através de uma avaliação feita pela UFRJ.

- Por que as aulas serão concentradas no Fundão?

—Embora a gente viva num mundo virtualmente ligado em rede, é diferente a proximidade física, o convívio. Isso é o que alimenta a cultura universitária. Hoje há uma enorme distância entre as unidades. Queremos concentrar a UFRJ numa área que há 50 anos foi destinada para ser uma cidade universitária, onde circulam 60 mil pessoas por dia e onde estão instaladas a Petrobras, a Eletrobras, o Instituto de Energia Nuclear, a Embratel. Todos eles estão expandindo suas instalações.

- A proposta deve enfrentar resistências. O senhor está preparado para elas?

 

As pessoas se assustam com essa discussão. Não é um despropósito e ninguém deve achar que é uma perseguição. Pelo contrário, vamos criar ali um grande espaço de ciência, de tecnologia, de cultura, de artes, de lazer, numa região que é extremamente carente. Receber os jovens da Baixada Fluminense que estão fora da universidade. Tudo isso reduz a idéia da cidade partida que é o Rio de Janeiro.

- Como será feita esta transferência?

De forma gradual. Os alunos do curso de Psicologia, por exemplo, têm aulas no Centro, na Praia Vermelha e no Fundão. Hoje quem paga o preço desse deslocamento é o estudante. A idéia é que em 2010 o vestibular para Psicologia e outros cursos ofereça vagas para o Fundão. Os alunos que já estão matriculados na Praia Vermelha continuarão nas suas unidades, que mais tarde vão se transformar em grandes centros culturais.

- Que mudanças seriam já para o ano que vem?

Estão sendo criadas novas habilitações, como a de Relações Internacionais, para serem implantadas a partir do segundo semestre do ano que vem. O vestibular para 2008 já está em curso, com expansão de 200 vagas. Expansão pequena diante daquilo que queremos fazer. Existe a possibilidade de fazer um segundo vestibular para os novos cursos no Rio, no Interior e os noturnos no primeiro semestre de 2008.

- Como a UFRJ pretende ampliar o acesso aos estudantes da Baixada?

Existe uma proposta de criação de um curso a distância de Ciências da Computação para ser concluído em dois anos. Seria um curso tecnólogo semipresencial. Também estamos estudando a implantação de um campus em Xerém, em parceria com o Inmetro, a Prefeitura de Duque de Caxias e o governo do estado, para graduação em quatro anos de profissionais em áreas novas como Nanotecnologia (estudo da manipulação de átomos), Metrologia e Biotecnologia.

- Uma das medidas mais polêmicas, que também está em curso na Universidade da Bahia, é a introdução de cursos básicos de menor duração de bacharelado. Como será?

Srão cursos de bacharelado por grandes áreas do conhecimento com três anos de duração. A estimativa é abrir 2 mil vagas em cinco anos. A proposta é dar uma formação universal, mas que permita ao jovem, num mercado em acelerada mutação, se qualificar permanentemente para o exercício de atividades que serão requeridas no futuro. A idéia é que todos os que ingressarem passarão pelo bacharelado de 3 anos e depois serão encaminhados às escolas de formação profissional. Os que se destacarem irão direto para pesquisa e outros encerram a carreira por aí com um diploma na mão.

- Ele estará habilitado a exercer que atividade?

A universidade não tem que ser exclusivamente uma formadora de profissionais habilitados para uma ou outra profissão. O jovem poderá optar por uma carreira profissional que exija nível superior, como a de médico, advogado, engenheiro, ou não. Ele estará mais preparado para o exercício de qualquer atividade. Essa é a grande mudança cultural que a gente tem que fazer. Vamos ter que travar uma luta em sociedade, porque não há cultura universitária no país.

- Os que são contra o plano alegam que haverá queda na qualidade do ensino. O que o senhor acha?

A UFRJ é uma universidade de excelência para os padrões brasileiros. Além dos excelentes cursos de graduação, temos 25 programas de pós-graduação com notas máximas na Capes. Nenhuma mudança pode colocar em risco essa qualidade. Mas é preciso fazer porque a eficácia social é muito baixa. Hoje os países caminham para a universalização do Ensino Superior. No Brasil, apenas 10% dos jovens estão nas faculdades e só 2%, nas públicas. Desse jeito, o País não vai a lugar nenhum.

  

(O Dia. Maria Luisa Barros, 18/8)


Data: 22/08/2007