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Indústria indiana de informática passa a priorizar serviços de maior valor agregado

Para criarem condições para vender serviços de forte valor agregado, as empresas indianas instalam centros de desenvolvimento próximos aos clientes nos cinco continentes

Enfraquecida pelo forte crescimento dos salários dos engenheiros, pela valorização da rupia em relação ao dólar, e pelo surgimento de concorrentes da Europa do Leste ou da Ásia, a indústria indiana de informática está passando por um período complicado.

Em 11 de julho, a Infosys, a segunda maior exportadora de serviços informáticos do país, anunciou ligeira redução das previsões do seu faturamento para o exercício de 2007-2008, fato raro em sua história.

A notícia provocou rebuliço nos mercados financeiros, que reagiram negativamente: a cotação do título perdeu 4,5% num único dia. Aliás, o fenômeno não está poupando nenhum dos seus rivais indianos.

Desde o início do ano, os títulos das sociedades na área de informática perderam 5,2%. Esta redução apresenta forte contraste com a euforia que domina atualmente as cotações em Bolsa na Índia.

A valorização da divisa indiana frente ao dólar é a principal ameaça que pesa sobre a indústria. Ao longo dos últimos três meses, a cotação da rupia voltou a se valorizar em 6,8%.

Ora, por mais que os valores dos faturamentos das sociedades indianas sejam computados em rúpias, os contratos são negociados em dólares: os dois terços dos lucros registrados provêm de clientes americanos.

Em junho passado, Ramesh Ramaiah, o diretor financeiro da Wipro, sublinhava que toda vez que era registrada uma valorização da cotação da moeda indiana em 1%, isso reduzia a margem operacional da Wipro em 0,5%.

"A moeda representa o nosso principal desafio", reconheceu V. Balakrishnan, diretor financeiro da Infosys, em 8 de junho.

Número de funcionários e os resultados dos principais grupos indianos do setor em 2006-2007.

Tata Consultancy Services:
O líder local na exportação de serviços de informática emprega 94.000 pessoas em 47 países. Ele gerou o faturamento de US$ 4,3 bilhões (R$ 8 bilhões).

Wipro:
O grupo tem 70.000 assalariados distribuídos em 29 países (com o faturamento de US$ 3,13 bilhões - R$ 5,82 bilhões).

Infosys:
A sociedade emprega 78.000 pessoas em 21 países (com o faturamento de US$ 3,1 bilhões - R$ 5,77 bilhões).

Satyam Computers Limited: Com seus 4 mil colaboradores, distribuídos por 55 países, esta empresa obteve faturamento de US$ 1,46 bilhão (R$ 2,72 bilhões).

Números

Além disso, as sociedades da área de informática precisam suportar encargos de funcionamento cada vez mais pesados.

Os preços dos aluguéis andaram disparando em cidades como Bangalore ou Hyderabad, enquanto o mesmo tem acontecido com os salários dos engenheiros em informática.

Os
engenheiros de baixa remuneração que fizeram a fama do país no mercado internacional tornaram-se raridades.

Não só os salários vêm aumentando no ritmo de 15% a 20% por ano, como outros engenheiros que recebem remunerações equivalentes, e até mesmo inferiores, lhes fazem concorrência na Europa do Leste ou em certos países asiáticos como a China ou o Vietnã.

Com isso, a Intel anunciou a sua decisão de recrutar engenheiros no Vietnã, alegando que não havia mais razão para contratá-los na Índia.

Além do mais, conforme demonstrou Rafiq Dossani, do centro de pesquisas sobre a região Ásia-Pacífico da universidade de Stanford, os salários dos engenheiros muito qualificados alcançam os mesmos níveis na Índia ou nos EUA.

Apanhadas numa armadilha entre salários em forte crescimento e dividendos diminuídos pela valorização da rupia, as sociedades indianas na área de informática são forçadas a aumentar os preços das suas prestações de serviços.

É o caso da Infosys, que aumentou as suas tarifas em cerca de 5%.

"Daqui para frente, elas não terão outra escolha, a não ser oferecer serviços de maior valor agregado", explica Srinivasan Janakiranaman.

Privilegiar as aquisições

Segundo este consultor da Mindtree Consulting, uma firma de consultoria baseada em Bangalore, as companhias indianas não carecem de trunfos para fazer concorrência aos gigantes do setor como a Accenture ou a IBM, que já estão bem implantados neste segmento de mercado:

"O seu tamanho ainda modesto lhes permite responder por meio de mais flexibilidade e com um maior poder de reação às necessidades dos clientes. Além disso, a sua presença na região Ásia-Pacífico lhes confere uma boa dianteira em relação à concorrência neste mercado, um dos mais dinâmicos do planeta".

Alguns anos atrás, a Tata Consultancy Services (TCS), que é o principal exportador indiano de serviços informáticos, já havia dado início à guinada que a levou a valorizar a inovação.

Este empresa abriu 19 centros de pesquisas e de desenvolvimento no mundo todo e, no ano passado, registrou 25 patentes.

"Nós exploramos o campo das nanotecnologias em diversos níveis: o seu impacto sobre as biotecnologias, a eletrônica e os sistemas embarcados", explica Ananth Krishnan, o vice-presidente da TCS encarregado da tecnologia.

Para reunirem as condições para vender serviços de forte valor agregado, as companhias indianas instalam centros de desenvolvimento próximos aos clientes nos cinco continentes.

Muitos desses clientes, como os bancos, ainda se mostram reticentes a terceirizar certas tarefas complexas junto a empresas sediadas tão longe das suas bases, tanto mais que na Europa, uma lei proíbe que os bancos enviem dados relativos aos seus clientes para fora das fronteiras da União Européia.

Para se internacionalizarem, as companhias indianas privilegiam as aquisições. Numa entrevista que concedeu ao diário "Mint", em 12 de julho, S. Gopalakrishnan, o diretor geral da Infosys, explicou a sua estratégia:

"Nós estamos à procura de empresas que nos permitirão penetrar num mercado mais rapidamente ou adquirir novas competências. Estou falando neste caso de empresas cujo faturamento está avaliado entre US$ 300 e US$ 500 milhões [entre R$ 560 e R$ 930 milhões]".

(Le Monde, 19/7)


Data: 19/07/2007