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UFCG desenvolve pesquisas com o fruto da palma forrageira

Entre outros derivados, são produzidos vinagre,“vinho” e aguardente

 

Da água para o vinho. Reconhecida por sua capacidade de reter grande quantidade de água, a palma forrageira - cactáceo do semi-árido nordestino bastante utilizado na alimentação do gado – vem tendo o seu fruto (figo-da-índia) utilizado para a produção de fermentado, em projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande. Além do “vinho”, os pesquisadores trabalham em linhas produtivas de vinagre, aguardente, licor e passas.

 

As pesquisas não estão direcionadas somente ao fermentado e destilado para o consumo humano, há também a preocupação com o aproveitamento dos resíduos gerados com a produção. O bagaço do fruto, por exemplo, é usado, conjuntamente com a “raquete” da palma (cladódio), num enriquecido nutricional protéico, vitamínico, energético e mineral para complementação da ração animal.

 

Estes estudos vêm sendo realizados pelo Laboratório de Engenharia Bioquímica da Unidade Acadêmica de Engenharia Química da UFCG, desde 2002, sob a coordenação dos professores Flávio Honorato e Líbia Conrado, em parceria com os professores Ramdayal Swarnakar e Odélsia Leonor, ambos da UFCG; e Américo Perazzo e Ariosvaldo Medeiros, da UFPB.

 

“Estamos estudando as condições operacionais para a produção do fermentado (vinho), vinagre, aguardente e do enriquecido (suplemento protéico) visando otimizar o processo para que possamos transferir essa tecnologia para o homem do campo, de forma simples e confiável, promovendo rendimentos pela agregação de valores aos produtos”, explicaram os coordenadores, quando questionados sobre a viabilidade técnica e econômica para execução do projeto pelo homem do campo, em seu sítio.

 

Impacto sócio-econômico

 

Segundo os pesquisadores, a utilização da palma forrageira para obtenção de novos produtos agrega valores à cultura e justifica ainda mais o seu plantio, trazendo ao produtor uma visão além dos currais – pela utilização na ração animal – vislumbrando novas formas de aproveitamento e capitalização de uma das plantas de maior resistência e produtividade no solo do semi-árido nordestino.

 

“O fruto sub-aproveitado e o enorme rendimento no plantio, garantem a escala produtiva dos derivados da palma” avalia o professor Flávio Honorato. Para ele, a melhoria da qualidade de vida da população da região é o melhor substrato dessa nova tecnologia de alimento. “O reconhecimento da qualidade dos derivados da palma e sua valorização no mercado contribuirão para o desenvolvimento sustentável da região com a geração de emprego e renda”.

 

O objetivo principal do projeto é a viabilização da convivência do homem do campo com a seca no semi-árido nordestino, utilizando-se de potenciais presentes na região para reduzir o imediatismo e o assistencialismo, segundo o pensamento dos coordenadores do projeto. A tecnologia para aplicabilidade dos processos será disponibilizada através de relatórios técnicos e cartilhas ou apostilhas em linguagem acessível ao produtor rural.

 

O vinho

 

O vinho é uma bebida tradicionalmente produzida pela fermentação alcoólica de suco de uva, mas na nossa região e em outros locais, há produção caseira de fermentados de frutas como a maçã, abacaxi, manga e caju. Como são produzidos em pequena escala, e ainda pouco comercializados, é necessário fazer as análises sensorial e físico-química para verificar a qualidade desses produtos.

 

A utilização do fruto da palma requer uma adaptação dos processos de produção de fermentado (vinho), adequando a metodologia a sua realidade, da colheita à seleção do fruto; no processo de clarificação do suco e na operação de fermentação.

 

Os estudos de produção do fermentado e do vinagre já estão em fase avançada, sendo produzidos em pequena escala.

 

O vinagre

 

A fermentação acética (vinagre) do produto da fermentação alcoólica é de melhor qualidade sensorial e nutricional que o equivalente produzido através da matéria-prima etanol, tendo como conseqüência um produto de maior valor agregado.

 

Aguardente

 

Desde o ano passado, o Laboratório de Engenharia Bioquímica do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT/UFCG) vem estudando a produção de aguardente da fruta da palma. O envelhecimento é em barril de madeira freijó.

 

Passas

 

Em estudos preliminares, a desidratação da fruta é outra forma de adicionar valor agregado à planta, se tornando um produto com um tempo maior de prateleira, comparado a fruta “in natura”, facilitando a comercialização do produto por parte dos agricultores. O produto deve ter no máximo de 14% de umidade e preservar o valor nutricional - proteínas, fibras e vitamina C.

 

Enriquecimento da forragem

 

Na própria ração animal, onde sua utilização é bem explorada por apresentar grande quantidade de água, boa concentração de carboidratos e elevado coeficiente de digestibilidade, a palma apresenta limitações em relação aos teores de proteínas, vitaminas e minerais, mostrando-se inferior às outras culturas forrageiras.

 

Como a produção de ração na região semi-árida é limitada pela distribuição irregular das chuvas e pelo deficiente manejo; na estiagem, os criadores recorrem ao uso de concentrados comerciais para uma suplementação protéica na dieta animal, tornando a criação onerosa. Assim, o enriquecimento torna-se uma boa alternativa de suplementação alimentar para o rebanho animal.

 

As pesquisas desenvolvidas na UFCG apontam um aumento em cinco vezes do valor de proteína bruta da palma, na bioconversão, tornando-a compatível e até mais nutritiva que os concentrados convencionais como torta de babaçu, semente de algodão, torta comum, prensada de algodão e grãos de soja.

 

Palma forrageira

 

Por ser uma cultura bem adaptada as condições adversas das regiões semi-áridas do Nordeste brasileiro, a palma (Opuntia ficus-indica Mill) é cultivada como planta forrageira. A cactácea é cultivada para consumo animal, graças ao seu teor de umidade, salvando rebanhos em períodos de grandes secas. Sua riqueza em água (cerca de 90% da matéria-verde) é uma característica importante para as regiões sujeitas à secas prolongadas.

 

Figo-da-índia

                       

Fruto esverdeado e doce, com leve toque ácido, é surpreendentemente refrescante. Rico em vitaminas (principalmente A e C), cálcio e magnésio, o fruto da palma forrageira é muito valorizado na medicina natural, sendo recomendado na prevenção da asma, tosse, vermes, problemas na próstata e dores reumáticas. Com muita polpa - amarelo-ouro parece meio porosa, cheia de sementinhas pretas - e casca fina, é rodeado de pequenos pontos pretos que o recobrem.

 

(Marinilson Braga – Ascom/UFCG)


Data: 17/07/2007