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Mostra nos EUA revela gafes e impressões da Era do Descobrimento

O museu Smithsonian, de Washington, abre suas portas a partir deste domingo para uma megaexposição composta de 296 obras e divididas em seis alas - uma delas dedicadas ao Brasil - que destacam um período em que Portugal conquistou ''terras, bens e almas''.

 

A expressão de Julian Raby, diretor da Arthur M. Sackler Gallery, do Smithsonian, em uma das galerias que hospedará a mostra, resume o espírito da exposição Ecompassing the Globe - Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries (Cercando o Mundo - Portugal e o Mundo nos Séculos 16 e 17).

 

A mostra é uma das maiores já exibidas no Smithsonian. De acordo com Raby, a exposição destaca exibe o ''início da era global'', quando o Velho Mundo travou contato com animais e vegetais até então desconhecidos, nativos de vestes e costumes ''exóticos'' e especiarias diversas.

 

Veja fotos da exposição

 

Um tempo em que a metrópole portuguesa enriqueceu de forma inimaginável se valendo de recursos do Novo Mundo, mas se deixando também permear por novas práticas e costumes.

 

'Mal-entendidos'

 

Em sua primeira encarnação, a era global foi farta em distorções e mal-entendidos, nos quais europeus, como afirma Raby, se maravilharam ''com os encantos vindos da África, Ásia e Brasil''.

 

A exposição traz diversos exemplos, alguns bem divertidos, como o retrato do até então pouco conhecido rinoceronte, feito pelo alemão Albrecht Dürer, com o animal portando dois chifres.

 

Por muito tempo, conta Julian Raby, essa ficou sendo a forma como o animal passou a ser descrito e reproduzido na Europa.

 

Artistas como o holandês Albert Eckhout, trazido ao Brasil por Maurício de Nassau, compõem pinturas marcadas pela visão idealizada dos nativos e da natureza do Novo Mundo.

 

Em seu célebre retrato da ''Índia Tapuia'', uma indígena posa com ar cândido enquanto carrega em seu cesto um pé humano, supostamente um dos ingredientes de suas refeições.

 

Também há retratos de jovens africanos ostentando plumagens e adereços alheios à sua cultura, mas típicos dos índios tupinambá do Brasil.

 

Brasil

 

A ala dedicada ao Brasil mostra também os efeitos dos diferentes períodos da colonização portuguesa, traçando um percurso histórico desde o período que a antecedeu até o seu legado.

 

Há desde murais de madeira mostrando a utilização dos indígenas para a exploração de pau-brasil, até diferentes peças de arte-sacra emprestadas pelo Mosteiro de São Bento de São Paulo.

 

Entre os extremos, há uma escultura do período pré-cabralino, da chamada cultura Santarém, até uma das tradicionais peças da artista contemporânea Adriana Varejão, no qual uma incisão sobre ladrilhos colonias portuguesas revela vísceras humanas.

 

Crucifixos e caranguejos

 

Uma das seções da mostra é dedicada à arte religiosa e sobre os efeitos que a imposição do cristianismo teve sobre o Novo Mundo.

 

Do Japão, o último dos principais países asiáticos alcançado pelos portugueses, vem um edital do século 17 que lista leis contra os praticantes do cristianismo e oferece recompensas para denúncias contra os recém-convertidos.

 

Algumas das peças religiosas chegam a flertar com o surrealismo. É o caso de um escultura de prata de um crucifixo carregado por um caranguejo, mais um animal exótico do Novo Mundo.

 

Mas a associação do crustáceo com o mundo divino não é aleatória. Reza a lenda que São Francisco Xavier, durante sua passagem por uma das ilhas que hoje constituem a Indonésia, teria perdido seu crucifixo no mar. Para sua surpresa, a peça ressurgiu no dia seguinte, trazida por um caranguejo em suas pinças.

 

A mostra fica em cartaz na capital americana até setembro deste ano.

 

(BBC Brasil)


Data: 22/06/2007