Metade de negros em pesquisa tem ancestral europeu Uma análise genética de um grupo de 120 negros brasileiros indicou que metade deles tem pelo menos um ancestral europeu por parte de pai. No estudo, liderado pelo geneticista Sérgio Pena, professor titular de bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram analisados os cromossomos Y dos 120 indivíduos em busca do ancestral paterno mais distante de cada um deles. O cromossomo Y é passado de pai para filho sem sofrer mudanças, a não ser em casos de mutação. Ou seja, o Y de alguém que vive hoje no Brasil pode ser idêntico ao de um português que viveu no Algarve três séculos atrás ou ao de um africano trazido como escravo da África Ocidental no século 16. Comparando o cromossomo Y dos 120 brasileiros de São Paulo com as informações de um banco com dados sobre populações de todo o mundo, os pesquisadores conseguiram identificar a origem do ancestral mais distante de cada um no grupo. Apesar da pele negra, esses parentes distantes de 60 indivíduos (50%) vieram da Europa. Saíram da África os ancestrais de 58 (48%) e da própria América, apenas 2 (1,6%). Para Sérgio Pena, esse estudo confirma as conclusões de suas pesquisas anteriores sobre as origens da população brasileira que mostram que a cor da pele é um "péssimo indicador de ancestralidade" porque ela representa uma parte ínfima do código genético humano. "Com exceção de imigrantes de primeira ou segunda geração, não existe nenhum brasileiro que não carregue um pouco de genética africana e ameríndia", afirmou o geneticista, em entrevista à BBC Brasil. Ancestral materna Os números se invertem quando o foco é a ancestralidade materna, rastreada pelo DNA mitocondrial --uma outra parte do DNA que homens e mulheres herdam da mãe e que também atravessa gerações sem sofrer mudanças, salvo em casos de mutação. Essa análise revelou que, por parte de mãe, 102 (85%) dos 120 estudados têm conjuntos de seqüências genéticas (haplogrupos) tipicamente africanos. Apenas quatro (2,5%) dos negros que fizeram parte da pesquisa têm uma ancestral materna proveniente da Europa e 14 (12,5%), da América. Para Sérgio Pena, os resultados demonstram a "assimetria sexual" nos cruzamentos que deram origem ao povo brasileiro - com uma predominância de europeus nas linhagens paternas e uma maior distribuição nas linhagens maternas entre africanas, ameríndias e, em menor grau, européias. É a confirmação genética dos indícios históricos de que nos tempos da colônia prevaleciam os relacionamentos sexuais entre os colonizadores europeus --que vinham em grupos de muitos homens e poucas mulheres-- e as mulheres nativas (ameríndias) ou trazidas como escravas da África. Romance X violência O historiador Manolo Florentino, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reconhece o desequilíbrio sexual destacado por Pena e acrescenta que, entre os portugueses que vinham para o Brasil, a proporção era de oito ou nove homens para cada mulher. Por outro lado, Florentino refuta a idéia de que grande parte do povo brasileiro tem origem num relacionamento forçado entre o colonizador e a índia ou a escrava. "A miscigenação brasileira tem muito mais a ver com o português pobre que interage matrimonialmente e sexualmente com as mulheres negras do que propriamente com homens de elite mantendo relações sexuais com mulheres pobres negras escravizadas", afirma o historiador. Seu argumento é que a maior parte dos portugueses que vinha para cá era de pobres aventureiros que saíam do norte de Portugal e, ao chegar aqui, geralmente sem família, se relacionavam com as índias e africanas. "É muito mais uma história que reúne pobres amantes de cores diferentes do que violência e estupro, como uma certa vertente quer fazer passar." Data: 28/05/2007 |