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Presidente da Andifes discute educação no Senado

País não terá mão-de-obra qualificada se não melhorar educação, diz especialista

 

O país não terá mão-de-obra qualificada e suficiente para atender a demanda de trabalho que haverá a partir de um crescimento econômico de 5% ao ano - meta do governo -, pois faltam políticas de educação adequadas para suprir carências que vão desde o ensino básico até o universitário. A afirmação foi feita, nesta quinta-feira (24), na Comissão de Educação (CE), por Abib Salim Cury, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup).
 
Cury, que também foi secretário de Educação de Ribeirão Preto (SP) e professor da Universidade de São Paulo (USP), participou com outros quatro convidados da segunda audiência pública na CE com o objetivo de debater propostas para a educação brasileira e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

 

O presidente da Anup defendeu a padronização do ensino fundamental em todo o país e a criação de um curso, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de mestrado profissional em educação, com o objetivo de formar mestres em gestão na área de Pedagogia.

 

- Acho que a Capes deveria ter mais um pouco de brasilidade. Todas as escolas de Pedagogia poderiam estar preparando mestres em gestão. Hoje, tem diretora de escola que não sabe como tratar os pais dos alunos - disse Cury.

 

Sobre a proposta de adoção do tempo integral nas escolas públicas, Cury diz que até certo ponto é necessária, mas considera difícil para o país vir a implementar a medida. Outro palestrante que disse ser difícil a adoção do tempo integral foi Arquimedes Diógenes Ciloni, presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

 

- O horário integral é um sonho que devemos perseguir, mas que está muito longe de nossa realidade - disse Ciloni, observando que em outros países onde há escolas em tempo integral também existem opções culturais e esportivas para os alunos, além das matérias escolares.

 

Ciloni defendeu um plano de carreira para os professores para que as escolas brasileiras possam ter melhor qualidade de ensino. Observou que, dessa forma, será possível também atrair mais profissionais para a carreira de professor. Destacou que é preciso recuperar, especificamente, a dignidade do professor da escola pública básica.

 

O presidente da Andifes efendeu ainda os cursos de extensão nas universidades, afirmando que não se dá a devida importância aos conselhos de extensão e que existe muita resistência por parte dos professores dos cursos de graduação sobre esse tema.

 

Dois ministérios

 

Sobre a proposta de dividir o Ministério da Educação em dois, sendo um específico para cuidar da educação básica, Ciloni posicionou-se contra, alegando que essa medida poderia trazer ainda mais dificuldades para a educação. Também se manifestou contra essa proposta Cláudio Moura e Castro, especialista em educação e presidente do Conselho Consultivo das Faculdades Pitágoras, alegando que um Ministério da Educação Básica ficaria muito enfraquecido politicamente.

 

O ensino básico, disse Moura e Castro, deve ser fortalecido, e a receita para uma boa educação básica, observou, são bons livros e bons professores para alfabetizar.

 

- Quanto pior a turma, melhor tem que ser o professor - afirmou Moura e Castro, que também se posicionou contra o ensino em tempo integral, alegando que nem sempre as escolas que adotaram essa medida apresentaram melhores resultados do que as de um turno.

 

Moura e Castro destacou acertos e erros do governo na área de educação. Disse que o governo acertou no Prouni, mas que o Fundeb ainda é uma promessa em dinheiro que não se sabe como será distribuído. Informou que 55% dos meninos que chegam à quarta série não sabem ler e que o Ministério da Educação levou anos para descobrir esse fato.

 

- Passou-se por várias reformas. Foram anos de tropeço e falta de rumo - afirmou Moura e Castro, observando, no entanto, que o PDE "traz avanços extraordinários e tem foco no ensino fundamental". Elogiou ainda um dos itens do programa, que permite a avaliação precoce para detectar o fracasso na alfabetização, chamado "provinha Brasil". Ele diz que escolas razoáveis devem alfabetizar o aluno até o final do primeiro ano.

 

Outro que elogiou o PDE foi Roberto Geraldo de Paiva Dornas, presidente da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), observando a importância da educação básica.

 

- Não há muito o que inventar de enfeite e sofisticação. É cuidar do feijão com arroz e fazer bem feito. A hora que a educação básica for bem feita, com uma alfabetização pra valer, teremos um aluno preparado para a vida profissional - afirmou Dornas, que também defendeu uma pequena reforma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o aumento da carga horária na escola pública para que a criança seja afastada das ruas e da marginalidade.


Data: 25/05/2007