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Brasil supera México e Argentina em inovação

"Do ponto de vista tecnológico, a China está em uma situação pior do que a nossa"

No Brasil, Argentina e México - os três países mais industrializados da América Latina - os esforços de inovação ainda são muito baixos e baseados na aquisição de máquinas.

Por trás desta média pobre, contudo, os três países possuem uma elite de empresas que investe muito acima da média em pesquisa e desenvolvimento.

E no Brasil, a importância destas firmas para as vendas industriais do país chega a 25%, participação muito superior aos 12,7% do mesmo grupo de elite argentino e aos 5,3% do grupo mexicano.

Parte da explicação para o maior "sucesso" da elite brasileira está no total e no perfil dos gastos relacionados à inovação.

A elite industrial brasileira gasta, em média, 1,4% do faturamento neste item, enquanto as firmas argentinas mais inovadoras gastam 1,08% de suas vendas e no México esse percentual é de 0,81%.

Além dos valores, a composição destes gastos também é muito diferente. No Brasil, ele é igualmente dividido em máquinas e equipamentos, em pesquisa e desenvolvimento e outros itens.

Na Argentina e no México, contudo, a aquisição de máquinas fica com 53% dos recursos e os gastos com pesquisa ficam com apenas 21% dos recursos alocados em inovação.

As conclusões e a comparação entre o potencial inovador da indústria brasileira em relação à argentina e mexicana fazem parte do estudo "Firmas inovadoras em três mercados emergentes", do professor Glauco Arbix, coordenador do Observatório da Inovação, ligado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).

A partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e de institutos de pesquisa da Argentina e México, o trabalho de Arbix considera apenas as indústrias de capital majoritariamente nacional (50% ou mais) e deixa de lado as filiais de multinacionais.

Depois, estas empresas são divididas de acordo com suas estratégias de competição. No grupo A ele colocou as firmas com forte potencial inovador e que, por isso, conseguem obter um preço-prêmio (cerca de 30% superior) quando comparado ao dos "concorrentes".

No Brasil, o trabalho encontrou 721 indústrias que podem ser classificadas no grupo A e elas representam 4,6% do total de companhias brasileiras pesquisadas por Arbix.

O total de companhias investigadas na pesquisa original do Ipea é maior, mas o pesquisador montou uma amostra comparável com as das empresas argentinas e mexicanas.

Depois de identificar que a elite brasileira de empresas inovadoras é maior do que a dos vizinhos latinos, Arbix começou a levantar hipóteses do porque isso ocorreu.

O que fez com que esse grupo de firmas brasileiras adotasse uma estratégia mais claramente focada na incorporação e desenvolvimento de tecnologia e com uma orientação externa mais definida do que a das "colegas" latinas?

Afinal, no Brasil, as firmas do grupo A respondem por 33% das exportações brasileiras, enquanto na Argentina elas garantem apenas 12,7% do total e no México somente 3,5%.

Entre as hipóteses levantadas por Arbix está o próprio ambiente econômico e o espaço que as indústrias de cada um dos três países tiveram para desenhar suas reações.

Na Argentina, a sangria do tecido industrial no período de privatizações e abertura na passagem dos anos 80 para os 90 foi muito mais intensa do que àquela a qual o setor fabril brasileiro foi submetido, primeiro na abertura promovida por Fernando Collor de Mello no início da década passada e depois com o aprofundamento dessa política ao longo da era Fernando Henrique Cardoso, observa o pesquisador da USP.

Já no México, a política das "maquiladoras" simplesmente impediu o desenvolvimento de uma indústria com maior perfil tecnológico e condenou a maior parte das empresas locais a , acrescenta Arbix.

O trabalho indica que entre as empresas brasileiras do grupo A, 39% mudaram suas estratégias nos últimos 15 anos.

Hoje, elas pagam em média um salário 67% superior aquele pago pelas firmas do grupo B e seus empregados possuem, em média, 9,1 anos de estudo, ante uma média de 7,6 para o segundo grupo de companhias.

Arbix explica que essas empresas, na verdade, são resultado da exaustão do modelo de nacional desenvolvimentismo e da abertura da economia.

Um novo ambiente de competitividade se instaurou no país com as reformas dos anos 90 e com a privatização, agregando importantes segmentos do setor de serviços.

Outra hipótese - que agora começa a ser estudada em uma nova pesquisa do Ipea junto com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) - é que esse perfil moderno está bastante relacionado à formação de quem dirige as companhias.

As primeiras informações apontam para um grupo muito empreendedor e para executivos jovens (entre 42 e 53 anos) e boa parte deles com forte formação superior.

Embora Arbix considere necessário não supervalorizar essa "elite" de empresas - "para que não se considere a realidade industrial do país mais bonita do que ela é" - ele rejeita a tese de que o Brasil é um país condenado ao fracasso porque não domina novas tecnologias e é incapaz de produzi-las.

"Do ponto de vista tecnológico, a China está em uma situação pior do que a nossa", argumenta ele.


Data: 14/05/2007