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Relatório da ONU pedirá que países adotem etanol

Em documento sobre mudança climática, IPCC dirá que biocombustível feito da cana tem menos impacto no meio ambiente que o feito do milho

O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU vai sugerir, amanhã, que os governos dêem ênfase ao etanol para a expansão de seu consumo como energia até 2020, a fim de reduzir as emissões de CO2.

A intenção é, num primeiro momento, estabilizar a concentração do gás na atmosfera para que o aumento da temperatura não ultrapasse os 2°C em 2030.

Fontes das Nações Unidas que estão na Tailândia para a reunião do IPCC revelam que a recomendação deve fazer parte do documento final, assim como a constatação de que o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar teria um impacto ambiental mais favorável que o uso do milho para a produção do biocombustível.

Na sexta-feira, o grupo deve anunciar na Tailândia o que acredita ser a melhor estratégia para lidar com as mudanças climáticas. Os biocombustíveis ganham importância diante do aumento da frota de carros no mundo.

O texto indicará que uma segunda geração do etanol, com base em celulose, deve ser desenvolvida e disponibilizada nos próximos anos para que o combustível possa de fato se expandir pelos países ricos.

Isso evitaria o uso do milho, que apresenta impactos negativos no ambiente (pelo consumo de energia para sua produção), no preço de alimentos e no uso da terra para a produção de combustível em vez de comida.

Em janeiro, Washington anunciou investimentos de US$ 250 milhões no estudo de etanol produzido a partir de celulose.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou quatro reuniões entre cientistas brasileiros e americanos, que ocorrerão até julho, para debater pesquisas sobre a segunda geração do etanol.

Isso porque a cana não apresenta problemas ambientais tão graves quanto o milho, mas poucos países ricos teriam acesso a ela, pois a cana depende de uma série de condições ambientais para crescer.

Brasil e Estados Unidos são os maiores produtores de etanol do mundo.

Ambientalistas que participam da reunião como observadores, ou seja, não têm poder para alterar o texto, estão preocupados com o estímulo exacerbado aos biocombustíveis.

Eles temem que isso promova o avanço da agricultura sobre áreas florestais, como a Amazônia, para plantar matéria-prima para etanol ou para compensar o aumento de procura por terra cultivável.

Fonte atômica

Outro tema voltado à energia que merece debates intensos entre os delegados, os cientistas e os observadores é a ampliação de usinas nucleares.

Os Estados Unidos, por exemplo, pedem sua inclusão no relatório final dessa reunião, que será divulgado amanhã. Ambientalistas acreditam que as fontes renováveis merecem prioridade.

Um pequeno comitê, formado dentro do encontro apenas para tratar desse tema, quer definir a energia nuclear como uma das alternativas para reduzir a emissão de CO2.

Contudo, indica que a tecnologia empregada tem limites. O texto precisa ser aprovado por todos os membros da reunião.

Stephan Singer, da ONG WWF, diz que dificilmente a energia nuclear será retirada do leque de soluções apresentadas pelo IPCC, ainda que diversos grupos digam que ela é muito perigosa e custosa para representar uma alternativa. "Não acreditamos que a energia nuclear seja uma solução."

Brasil busca se eximir da conta

Funcionários da ONU que acompanham a reunião do IPCC na Tailândia destacam a participação do Brasil nos bastidores para apoiar a tese chinesa de que os países ricos devem arcar com a maior responsabilidade na atuação contra o aquecimento global e as emissões de CO2.

Desde o começo da reunião, na segunda-feira, Pequim defende que os países desenvolvidos precisam aceitar essa responsabilidade maior, já que por séculos foram os principais emissores de gases-estufa. Hoje, a China já ocupa o segundo lugar e, em breve, pode ser líder.

Além do Brasil, a Índia também apóia os chineses. Para os críticos da posição, em especial a União Européia, a manobra diplomática atrasa os trabalhos dos cientistas e ainda permite que os países emergentes usem o argumento como "escudo" para evitar que a estratégia do IPCC aponte para suas responsabilidades.


Data: 03/05/2007